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A ONU e a bancada BBB (Bíblia, bala e boi)

A tramitação, no Congresso Nacional, da PEC que reduz a maioridade penal de 18 para 16 anos levou a Organizações das Nações Unidas (ONU) a se manifestar sobre o tema. Para a entidade, se as infrações cometidas por jovens forem tratadas exclusivamente como uma questão de segurança pública e não como indicador de restrição de acesso a direitos fundamentais, à cidadania e à justiça, “o problema da violência no Brasil poderá ser agravado, com graves consequências no presente e no futuro”. 

Em seu argumento, a ONU cita números das polícias brasileiras. As estatísticas mostram que a população adolescente e jovem, especialmente a negra e pobre, está sendo assassinada de forma sistemática no país. O Brasil está em segundo lugar em número absoluto de homicídios de adolescentes, atrás só da Nigéria. Dos 21 milhões de adolescentes que vivem no Brasil, apenas 0,013% cometeu atos contra a vida.

Os assassinatos são a causa de 36,5% das mortes de adolescentes por motivos não naturais, enquanto, para a população em geral, esse tipo de morte representa 4,8% do total. Somente entre 2006 e 2012, pelo menos 33 mil adolescentes entre 12 e 18 anos foram assassinados no Brasil. Na maioria dos casos, as vítimas são jovens que vivem em condições de pobreza na periferia das grandes cidades. Portanto, eles são muito mais vítimas do que autores de violência. 

A ONU ressalta ainda o que todos sabemos. O sistema penitenciário brasileiro já enfrenta enormes desafios para reinserir adultos na sociedade. Encarcerar adolescentes jovens de 16 e 17 anos em presídios superlotados será expô-los à influência direta de facções do crime organizado. Em um debate racional, é fácil concluir que a solução efetiva para os atos de violência cometidos por adolescentes passa, necessariamente, pela análise das causas e pela adoção de uma abordagem integral em relação ao problema da violência. 

Há inúmeras evidências de que as raízes da criminalidade na juventude brasileira se desenvolvem a partir de situações anteriores de violência e negligência social. Os episódios são muitas vezes agravados pela ausência do apoio às famílias e pela falta de acesso às políticas públicas de educação, trabalho e emprego, saúde, habitação, assistência social, lazer, cultura, cidadania e acesso à Justiça.

Mas é difícil pedir racionalidade a uma gente como os integrantes da bancada BBB (Bíblia, bala e boi), que está à frente da discussão e só pensa em voto, vingança e grana. Assim, na contramão das medidas mais efetivas de enfrentamento da violência, o Brasil tem tudo para agravar contextos de vulnerabilidade, reforçar o racismo e a discriminação étnica e social.

Por: Renato Alves – Correio Braziliense 

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