DIÁLOGO
Acima, o encontro histórico entre o presidente Hollande e Fidel Castro. Abaixo, Raúl Castro, responsável pela maior abertura da ilha.
Por: Mariana Queiroz Barboza
Quando
o presidente francês, François Hollande, desembarcou em Cuba, na semana
passada, ele levava mais do que gestos simbólicos para a ilha que, até pouco
tempo atrás, era proibida para aliados dos Estados Unidos. Primeiro chefe de
Estado europeu a visitar Havana em três décadas, Hollande se encontrou com o
ex-ditador Fidel Castro e, como era esperado, defendeu o fim do embargo
americano, em vigor desde 1962. Enquanto isso, executivos franceses se
movimentavam nos bastidores para fechar negócios com a pequena ilha de 11
milhões de habitantes, população semelhante à do município de São Paulo. Esse é
só o começo de um movimento de atração de empresários sedentos para explorar
setores tão incipientes em Cuba quanto o das telecomunicações. Em abril, quando
Havana iniciou conversas para um acordo bilateral com a União Europeia,
empresários britânicos fecharam negócios no valor de US$ 400 milhões com os
cubanos. Representantes de outros países, como Japão e Rússia, se apressaram
para organizar viagens para fazer o mesmo.
Assim que oficializar a retirada de Cuba da lista
de “países patrocinadores do terrorismo”, o que tem sido analisado pelo
Congresso, os EUA devem iniciar o processo de abertura de sua embaixada em
Havana. Os cubanos provavelmente farão o mesmo em Washington. Segundo o
presidente Raúl Castro, isso deve ocorrer no mês que vem. Mais do que as
formalidades diplomáticas, a medida vai abrir para a ilha as portas do
financiamento multilateral de instituições como o Fundo Monetário Internacional
e o Banco Mundial.
A área mais beneficiada tende a ser o
turismo. Estimativas conservadoras consideram que, com o fim do embargo, o
número de viajantes que o país caribenho recebe anualmente irá duplicar. “Cuba
é um destino turístico de praias, que também oferece riquezas coloniais nas
cidades, onde a cultura latina é muito forte e as pessoas são simpáticas e
acolhedoras”, disse à ISTOÉ Roland Bonadona, presidente do Grupo Accor para
Américas. “Mas sua grande vantagem é estar muito perto dos EUA e manter com
eles importantes ligações culturais”. O executivo, que esteve na ilha três
vezes só no ano passado, considera a grande quantidade de expatriados que vivem
no país vizinho, sobretudo na Flórida, e desejam visitar a família. Os
cubano-americanos representam a quarta maior população de origem hispânica e
somam mais de 2 milhões, segundo o instituto de pesquisas Pew. A Accor opera
hotéis em parceria com a estatal Gran Caribe há 20 anos e, na semana passada,
anunciou a construção de mais um, dessa vez em Cayo Coco. Na expectativa de
atender a um mercado em ascensão, a companhia aérea JetBlue vai começar a
oferecer voos fretados semanais de Nova York a Havana a partir de julho. Hoje
as viagens de americanos a Cuba a turismo ainda são proibidas.
Para o cubano José Gabilondo, professor de Direito
da Universidade Internacional da Flórida, em Miami, além de sua posição
geográfica estratégica, a ilha é atraente justamente por ter sido isolada
durante tanto tempo. “Todo mundo quer chegar lá primeiro para fazer dinheiro
depois”, diz. Até o embargo ser completamente revogado, o potencial de Cuba em
atrair capital internacional é da ordem de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões por
ano. Os cálculos são da consultoria financeira Thomas J. Herzfeld, de Miami. A
maior parte desse montante viria de países da Europa, do Extremo Oriente (Japão
e China) e dos BRICs (Brasil, Rússia, Índia). “Esses investidores acreditam que
as matérias-primas, os bens manufaturados e os serviços vão disparar na ilha
com o relaxamento do embargo”, afirma o presidente Thomas Herzfeld. “A economia
pode crescer entre 5% e 6% ou até mais nesse período, dependendo do mercado
internacional.” Alguém duvida que Cuba é a nova queridinha?
Fotos: Alex Castro/AP Photo; Ismael
Francisco/Cubadebate