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JUSTIÇA - DF» MP investiga quem ajudou José Tatico

Os responsáveis pelo supermercado deveriam ter desocupado área irregular este mês: liminar

O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MPDFT) vai investigar a atuação de autoridades do Executivo e do Legislativo para defender os interesses de José Tatico. O empresário, dono de um supermercado em Ceilândia que ocupa cerca de 2,5 mil metros quadrados de áreas públicas, tem driblado decisões judiciais e ordens de interdição do estabelecimento comercial para manter as portas abertas. O MP promete entrar com ação de improbidade contra pessoas que patrocinaram os interesses do ex-deputado para tentar ajudá-lo a escapar das derrubadas.

Em 1990, o GDF entrou com ação contra Tatico para que ele desocupasse o espaço invadido. Vinte e cinco anos depois, o empreendimento avançou ainda mais sobre áreas públicas e continua em funcionamento, mesmo depois de interditado pelo governo. O supermercado não tem alvará, já foi multado dezenas de vezes e, de acordo com a última autuação, deveria ter desocupado a área invadida até 5 de maio. Mas os advogados do empresário recorreram à Justiça e conseguiram uma liminar para impedir derrubadas.

Além de haver uma decisão judicial transitada em julgado determinando a demolição de parte do estabelecimento, há uma determinação do Tribunal de Contas do DF para a desocupação da área pública. O empresário tentou fazer um acordo para permanecer no local, mas a Promotoria de Defesa da Ordem Urbanística do MPDFT rechaçou qualquer possibilidade de acerto com o empresário e reafirmou a necessidade de desocupação imediata dos espaços de uso coletivo.

Como o Correio mostrou, a deputada distrital Telma Rufino (PPL) tentou pressionar o Ministério Público para o fechamento de um acordo que beneficiasse o empresário. Tatico patrocinou quase a totalidade da campanha da parlamentar, que é alvo de investigações na Operação Trick.

Em março deste ano, a Agência de Fiscalização do DF (Agefis) consultou o Ministério Público sobre a legalidade de realização de um termo de ajuste de conduta com os representantes do supermercado, para evitar derrubadas. Em documento assinado por quatro promotores de Defesa da Ordem Urbanística, o MP rechaçou a possibilidade de acordo para manutenção da estrutura do supermercado. “Causa espécie a realização de um verdadeiro esforço concentrado da administração pública direta e indireta do DF e também de integrantes do Poder Legislativo local para alterar norma urbanística que pode prestigiar ilegal interesse particular”, alegaram os representantes do MPDFT. “É inaceitável que ainda não tenha havido desocupação espontânea ou medidas eficazes para compelir o estabelecimento a desocupar o imóvel, tal como determinado por sentença e pelo Tribunal de Contas do DF”.

Em abril do ano passado, o então administrador de Ceilândia, Ari de Almeida, propôs a criação de lotes na área pública ocupada por Tatico. “O projeto original resultou em espaços vazios entre os blocos comerciais, os quais muitas vezes se voltam aos fundos das edificações. Dessa forma, tais áreas foram descaracterizadas de sua função original, o que propiciou a ocupação irregular, abandono, tornando assim o local sujo e com paisagismo totalmente destruído”, alegou o então representante oficial da cidade.

O administrador tentou desenvolver projeto urbanístico para adequação de toda a quadra CNN 1, “objetivando proporcionar aos grandes empreendedores a expansão de suas atividades, otimizando as áreas públicas ociosas e invadidas”. Ari de Almeida é acusado de ter beneficiado o empresário em 2012, quando concedeu autorização de funcionamento ao supermercado à revelia da legislação urbanística. Por conta dessa concessão de licença, ele foi alvo de uma ação de improbidade administrativa do MPDFT.

Contribuições
A defesa de José Tatico alega que o empresário traz importantes contribuições para a economia do Distrito Federal. Segundo os advogados do ex-deputado federal, o estabelecimento pagou, entre 2013 e 2014, R$ 49,6 milhões só de ICMS. O empresário argumenta que tem uma folha de pagamento de R$ 31,2 milhões, referentes ao salário de cerca de 600 funcionários, e paga ainda mais R$ 16,3 milhões de salários indiretos, com serviços de vigilância, consultoria e manutenção. A defesa dele afirmou ainda que Tatico deve R$ 105,7 milhões em impostos e que esse valor já foi parcelado por meio do programa Recupera DF. “Esse montante é de considerável repercussão, não apenas para o próprio empresário como também para o Distrito Federal”, alegou a defesa.

O procurador-chefe da Agefis, Jairo Lopes, afirma que a agência está impedida de atuar no local por conta da liminar concedida ao empresário. “Mas estamos preparando a operação de derrubada para realizar a retirada das ocupações em área pública assim que essa liminar for derrubada”, garante Lopes. Segundo ele, é necessária uma grande mobilização de órgãos de segurança pública. Em tentativas anteriores, houve reação popular contra as derrubadas.

Infração
A Polícia Civil instaurou inquérito para investigar o possível uso de licença de funcionamento falsa para atrapalhar uma operação de derrubada, em dezembro do ano passado. O empresário também responde por crime de desobediência, por ter desrespeitado sucessivas vezes o termo de interdição do estabelecimento.

Por: Helena Mader – Correio Braziliense  

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