A visita do primeiro-ministro chinês acena com a aplicação de
U$ 53 bilhões no Brasil. A cifra soa como música para uma economia estagnada,
cujo investimento público caiu 30% nos quatro primeiros meses de 2015. Soa
melhor ainda quando se sabe que reforçará dois setores estratégicos — energia e
ferrovias.
Acompanhado
de 200 empresários, Li Keqiang promoverá a assinatura de 36 documentos durante
a curta permanência em território brasileiro. Entre eles, oito acordos de
cooperação e três declarações. Nem todos os projetos são novos. Acordos
bilaterais assinados no ano passado, quando o presidente Xi Jinping esteve em
Brasília, não foram para a frente conforme combinado.
É o caso
da compra de 60 aviões da Embraer e da liberação das exportações brasileiras de
carne bovina, embargadas desde 2012. Espera-se que ambas as pendências batam
ponto final em poucos dias. Também causa desconforto o atraso na entrega da
linha de transmissão na hidrelétrica de Teles Pires, situada entre Pará e Mato
Grosso. A obra, prevista para o início do ano, deverá ser entregue em 31 de
julho.
Bom
negócio é o que apresenta vantagens para os dois lados. O pacote pequinês vem
ao encontro das expectativas de chineses e brasileiros. Eles têm capital e
tecnologia. Nós precisamos de urgentes investimentos na infraestrutura. Não por
acaso, a comitiva de Li Keqiang é formada sobretudo por representantes das
maiores construtoras e dos principais bancos do país asiático.
A joia da
coroa é a ferrovia transoceânica, que ligará Mato Grosso e Peru. O acesso ao
Pacífico é velho sonho e objeto de constantes reivindicações do setor ligado ao
agronegócio. O Centro-Oeste, grande produtor de grãos e de carne, precisa de
caminho mais curto para escoar as exportações com destino à Ásia. O comércio em
sentido inverso também se beneficiará. Mercadorias do Oriente chegarão mais
rápido e com melhor preço a este lado do mundo.
Dito que
circula nos meios diplomáticos afirma que as nações não têm amigos. Têm
interesses. Os chineses vieram à América do Sul porque o subcontinente responde
a estratégia cuidadosamente traçada. Grandes projetos de infraestrutura — que
Pequim vende ao mundo — abrem mercados para a espetacular capacidade de
produção da indústria chinesa e dão acesso a matérias-primas, calcanhar de
aquiles do gigante asiático.
Cabe ao
Brasil fazer a sua parte. Impõe-se definir, com clareza, as regras para
investimentos estrangeiros. Em momento de fragilidade econômica, o país não
pode ceder à pressão dos donos do dinheiro. Deve rejeitar, por exemplo,
exigências impostas a países da África como o uso de mão de obra chinesa na
execução das obras. Deve, também, deixar clara a contrapartida. É o caso da
transferência de tecnologia.
Fonte: Correio Braziliense