Deflagrada em março de 2014, a Operação Lava-Jato, pela
abrangência e pelos possíveis desdobramentos, vem sendo acompanhada com grande
atenção não só pelos políticos e pelo governo, mas sobretudo pela maioria da
população brasileira, que enxerga nesse folhetim escandaloso a oportunidade de
ver, pela primeira vez, corruptos e corruptores ajustarem as contas com a
Justiça. O cidadão médio é um otimista por natureza. Esse sentimento positivo
com relação à Justiça foi parcialmente reacendido com o julgamento do mensalão,
graças à atuação destemida do ex-ministro Joaquim Barbosa e do Ministério
Público. Apesar dos desapontamentos com a desproporção das penas, o brasileiro
pôde, enfim, experimentar, no mínimo, o sentimento de cidadania, entendendo
também a importância do conceito de República e seu valor para o futuro de uma
sociedade igualitária.
Ocorre
que a Lava-Jato, pelo gigantismo e pelas possibilidades reais de vir a alcançar
os intocáveis de sempre, está sob um conjunto de sérias ameaças que partem,
simultaneamente, de diferentes setores com poder de fogo. Ainda é recente para
os brasileiros a sensação de profunda frustração com as denúncias de sabotagem
havida na Operação Castelo de Areia de 2009.
Naquela
ocasião, políticos e empresários estiveram a um passo da prisão, acusados por
crimes financeiros e de lavagem de dinheiro. Como agora, armaram-se
estratagemas dos mais diversos para encontrar falhas na condução das
investigações, capazes de invalidar a operação. Os participantes dessa quinta coluna
, capazes de tudo para aniquilar as chances de Justiça, são os mesmos e os
modos de atuação não foram alterados. Grandes escritórios de advocacia, cujas
causas movimentam muitos milhões de reais, perscrutam cada milímetro das
investigações em busca de falhas no processo que levem à anulação da operação.
Também os políticos citados têm se mobilizado na tentativa de desacreditar a
operação na medida em que as delações premiadas avançam.
O governo
— no centro do furacão e preocupadíssimo com os depoimentos do dono da UTC,
Ricardo Pessoa —, movimenta seu arsenal para empurrar para vales profundos
qualquer sinal de provas mais contundentes e incriminadoras. Até mesmo os
delegados e agentes envolvidos na Operação Lava-Jato estão sob pressões, sendo,
inclusive, investigados por outros colegas. Colocação de escutas clandestinas,
ameaça a testemunhas e outras formas de sabotagens são praticadas com vistas a
anular a operação antes que as investigações fechem o cerco à cadeia de comando
do maior desvio de dinheiro público da história do país e mesmo do mundo. Sem
dúvidas, a cada capítulo dessa nova novela policial acompanhada pelos
brasileiros, as tramas vão ficando mais e mais envolventes, num suspense
crescente, capaz de superar qualquer ficção.
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” Ari Cunha –
Correio Braziliense