Ex-executivo da SBM Offshore
acusa a CGU de negligência na demora para abrir investigações. MPF determina
diligências para apurar se Lula praticou tráfico internacional de influência
Brasília e Curitiba — A CPI da
Petrobras ouviu ontem, em Londres, o ex-executivo Jonathan David Taylor, da SBM
Offshore. A oitiva, que durou cerca de duas horas, ocorreu em um hotel e foi
fechada à imprensa. No depoimento, Taylor disse que a Controladoria-Geral da
União (CGU) já tinha elementos e documentação para abrir uma investigação
relativa ao pagamento de propina por parte da SBM antes das eleições do ano
passado. A CGU teria sido “negligente” ao só abrir as investigações depois de
passadas as eleições. O inglês também repassou à CPI gravações de conversas com
pessoas na Petrobras e cerca de 200 e-mails relativos ao caso.
“Superou,
em muito, a expectativa dos deputados, principalmente a documentação
apresentada”, disse o vice-presidente da CPI, deputado Antonio Imbassahy
(PSDB-BA). Oito integrantes da comissão participaram da oitiva. O deputado
Efraim Filho (DEM-PB) chegou a dizer que o dempoimento de Taylor dá subsídios à
CPI para “questionar” o trabalho da CGU no caso. A SBM teria pago propina a
ex-dirigentes da Petrobras para fechar contratos com a estatal.
Para o
relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ), as informações prestadas por Taylor
precisam ser confrontadas com o ex-representante da SBM no Brasil, Julio
Faerman. Ele já foi convocado algumas vezes Para depor no Congresso, mas não
compareceu. Na última tentativa, no fim de março, Faerman não pôde ser
localizado. Alguns parlamentares falam em pedir a prisão dele.
“Pelo que
o Leo de Britto (PT-AC) me disse, ele (o inglês) contou que agia em parceria
com Julio Faerman. Diante disso, e com o Faerman se recusando a comparecer à
CPI, nós teremos que pedir a prisão dele, para que ele seja considerado
foragido. É o que pensa o presidente (da CPI), Hugo Motta (PMDB-PB)”, afirmou
ao Correio o relator da CPI, Luiz Sérgio (PT-RJ). Em nota, a CGU disse que
começou a investigar o pagamento de propina por parte da SBM ainda em abril,
pouco depois da empresa admitir que houve o pagamento de suborno.
Petista
O
Ministério Público Federal determinou uma série de diligências para instruir
investigação preliminar a fim de apurar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da
Silva praticou tráfico internacional de influência para beneficiar a
construtora Odebrecht, um dos alvos da Operação Lava-Jato. Segundo despacho da
procuradora Mirella de Carvalho Aguiar, o Instituto Lula deverá fornecer a agenda
completa do ex-presidente após deixar o Palácio do Planalto, entre 2011 e 2014,
“ressaltando, em cada caso, se houve a apresentação de palestras e quem
contratou e remunerou pelo serviço e pelo deslocamento ao exterior”. A apuração
preliminar foi aberta em abril, a partir de reportagens que revelaram
documentos sigilosos sobre empréstimos do Banco Nacional de Desenvolvimento
Econômico e Social (BNDES) à Odebrecht no exterior.
A
Procuradoria da República no Distrito Federal pedirá à Odebrecht todos os negócios
que a maior empreiteira do Brasil fechou com Lula, ainda que por meio de outras
empresas. Para cada palestra, a construtora deverá esclarecer “a pertinência do
investimento com os objetivos e política da empresa”. Mirella Aguiar pede o
valor de cada conferência e a forma de pagamento, além de custos de transporte
e acomodações, ou despesas não relacionadas a palestras. O MPF ainda quer
cópias de contratos com Lula ou com Taiguara Rodrigues dos Santos, que já foi
apontado como “sobrinho” do ex-presidente. Ela pede ainda à Odebrecht com quais
governos estrangeiros a empreiteira tem contratos, e quais tiveram apoio
financeiro do BNDES. Por meio de nota divulgada em abril, o Instituto Lula
disse que “o ex-presidente faz palestras e não lobby ou consultoria”.
Revista em cela de Vargas após post
O
ex-deputado André Vargas (ex-PT-PR) teve a cela revistada após o perfil dele no
Twitter postar uma mensagem. Na segunda-feira, a rede social de Vargas, que
está preso na Superintendência da PF em Curitiba desde 10 de abril, teve uma
atualização, na qual se lia “olá”. Agentes vasculharam a cela duas vezes, mas
não encontraram nenhum dispositivo. À PF, o ex-parlamentar se mostrou surpreso
e negou que fosse o responsável pela publicação.
PF vê ações comprometidas
Curitiba – A Associação dos Delegados da Polícia
Federal (ADPF) criticou o ajuste fiscal proposto pela equipe econômica do
governo Dilma Rousseff. A entidade disse estar “preocupada com a possível
paralisação das atividades” da corporação. Na polícia, o corte de 30%
representaria R$ 1,7 bilhão.
O presidente da ADPF, Marcos Leôncio Ribeiro, afirmou que a ação vai atingir todas as operações da polícia, incluindo as mais ruidosas, como a Lava-Jato e a Zelotes, além do serviço de proteção de fronteiras. “Não haverá meios para prover as condições de execução adequada de nenhuma operação ou controle de fronteira, uma vez que fornecedores e prestadores de serviço deixaram de receber pagamentos”, disse Ribeiro ao Correio.
Pelos cálculos da ADPF, a corporação deve ter suas verbas reduzidas em 30% — de R$ 5,39 bilhões para R$ 3,7 bilhões este ano. A entidade afirma que, quando o governo deixa de cortar dinheiro para a corporação, consegue obter mais recursos no futuro, como resultado de suas operações. (EM)
Fonte: André Shalders – Eduardo Militão – Correio Braziliense