Pascowitch foi preso pela PF em São Paulo e transferido para Curitiba, onde chegou no fim tarde: segundo o MP, foi o operador quem indicou doações oficiais da construtora Engevix para o PT
Milton Pascowitch, que repassou R$ 1,45 milhão para a empresa
do ex-ministro de Lula, é detido sob suspeita de ser um dos operadores do
esquema. Ministério Público diz que é necessário investigar o "lobby para
o PT" para averiguar lavagem de dinheiro em pagamentos
Curitiba — A prisão do lobista Milton Pascowitch, efetuada
pela Polícia Federal ontem em São Paulo, aumentou o cerco aos negócios de
consultoria do ex-ministro José Dirceu, que recebeu R$ 1,45 milhão da empresa
do operador. Ele atuava para empreiteiras como a Engevix, e o petista reafirmou
que o pagamento se deve a “estudos para construção de hidrelétrica, projetos de
irrigação e linhas ferroviárias no Peru”. Mas os delegados e os procuradores da
Operação Lava-Jato mantiveram a suspeita sobre o principal ministro do primeiro
governo do PT.
A Engevix confirma o pagamento de R$ 1,1 milhão para consultoria de Dirceu
Ontem, o
procurador regional da República Carlos Fernando Lima afirmou que é preciso
investigar o “lobby para o PT” mencionado em depoimento do vice-presidente da
Engevix, Gérson Almada. Ele afirmou que Pascowitch era a ligação da empreiteira
com o partido e com a Petrobras. Segundo Carlos Fernando, foi o operador quem
indicou doações oficiais da construtora para o PT. “Por que esse filtro?
Precisamos saber qual o objetivo dessas doações”, disse Carlos Fernando, em
entrevista coletiva. “Se é lavagem de dinheiro ou doação, ainda vamos ver.”
A Engevix
pagou R$ 1,1 milhão para a consultoria JD, do ex-ministro. Segundo Carlos
Fernando, Almada nega ter repassado outra parte por meio da empresa de
Pascowitch, a Jamp. O vice-presidente da construtora disse que os pagamentos ao
lobista sempre eram atividades de representação, e não se tratava de propina.
“O que ele chama de lobby, nos chamamos de corrupção”, diz Carlos Fernando.
Numa acusação semelhante, a Procuradoria-Geral da República denunciou o
ex-tesoureiro do PT João Vaccari por lavagem por entender que ele sabia que as
doações eleitorais eram originadas em desvios da Petrobras.
No
despacho em que determinou a prisão de Pascowitch, o juiz da 13ª Vara Federal
de Curitiba, Sérgio Moro, disse que “causa surpresa” que a maior parte do
repasse do lobista a Dirceu — R$ 1,15 milhão — tenha acontecido em 2012, quando
o ex-ministro respondia a julgamento no Supremo Tribunal Federal e era
condenado no mensalão. “O que coloca em dúvida se poderiam ter por causa
prestação de serviços de consultoria”, suspeita o magistrado.
A empresa
de Pascowitch recebeu R$ 78 milhões da Engevix, R$ 2,6 milhões da UTC e R$ 281
mil da GDK Engenharia. A firma ainda pagou R$ 800 mil para a D3TM, do
ex-diretor de Engenharia da Petrobras Renato Duque, ligado ao PT. Segundo o
delegado regional de Combate ao Crime Organizado, Igor Romário de Paula, o
lobista subornava o ex-funcionário da estatal por meio de obras de arte. A
defesa de Duque tem negado as acusações.
A defesa
de Dirceu negou irregularidades e destacou trechos do próprio depoimento de
Almada à Justiça. “O ex-ministro refuta qualquer relação do seu trabalho de
consultoria com contratos da construtora com a Petrobras”, destacou sua
assessoria em nota. “O ex-ministro José Dirceu chegou a viajar a Lima para
tratar de interesses da Engevix – fato também confirmado pelo
ex-vice-presidente da construtora Gerson Almada”. À Justiça, o executivo disse
que o petista fez um trabalho de vendas no na América Latina e na África, “onde
ele mantinha um capital humano de relacionamento muito forte”. A afirmação foi
endossada pelo presidente da Engevix, Christiano Kok, em entrevista, destacaram
os auxiliares de Dirceu.
Esquema do PP
Em outra
frente da apuração, investigadores da Lava-Jato confrontam argumento de parte
dos deputados do PP de que não receberam dinheiro de corrupção do esquema da
Petrobras. O grupo que fazia oposição aos ex-líderes da legenda na Câmara Mário
Negromonte (BA) e João Pizzolati (SC) assumiu a sigla em 2011 e afirma que não
poderia ser beneficiado com a “lavanderia” do doleiro Alberto Youssef. Mas o
procurador Carlos Fernando diz que a ala rebelde do PP usou um operador
próprio: Henry Hoyer, preso ontem. O grupo oposicionista era formado pelo
ex-ministro Aguinaldo Ribeiro (PB), Márcio Reinaldo (MG), Esperidião Amim (SC)
e Jerônimo Georgen (RS).
“Somamos
para derrubar aquela turma”, disse Goergen, que desconhece Hoyer, Youssef e
Paulo Roberto. “Eu estou ajudando em tudo para que não fique dúvida de nada”,
afirmou ao jornal. Ribeiro e outros parlamentares não responderam os contatos
da reportagem ou não foram localizados, assim como representantes de Hoyer e
Pascowitch. O lobista da Engevix disse ontem a policiais ser inocente. Ele
chegou à PF em Curitiba às 18h de ontem e só deve ser ouvido a partir de
segunda-feira.
Presos
» Milton Pascowitch, lobista de empresas como Engevix, Ecovix e UTC
» Henry Hoyer, operador do PP, detido por porte ilegal de munição
Condução coercitiva
» Adolfo Pascowitch, irmão de Milton Pascowitch, foi ouvido em sua casa e liberado
Apreensões
» Carros, 60 quadros, duas esculturas, documentos, mídias eletrônicas, revólver, garrucha, rifle e munição, winchester, obtidas nas casas dos investigados em São Paulo e Rio de Janeiro. Em Minas Gerais, nada relevante foi encontrado.
Adiantamentos incomuns
Curitiba — Consórcios formados por empresas suspeitas de pagar
propina para obter contratos na Petrobras obtiveram de R$ 138 milhões a R$ 143
milhões em adiantamentos incomuns nas obras da Refinaria Getúlio Vargas
(Repar), no Paraná. As cifras foram reveladas na quarta-feira à Justiça Federal
de Curitiba por integrantes da auditoria interna da estatal aberta em março. O
Tribunal de Contas da União (TCU) viu sobrepreço de R$ 1,4 bilhão nas obras há
seis anos.
Segundo o
coordenador da auditoria, da Repar, Wilson Carvalho, o consórcio Conpar,
formado por Odebrecht, OAS e UTC Engenharia, teve repasses antecipados de cerca
de R$ 98 milhões na construção de unidade de refino de gasolina “logo no
início, no primeiro ato após a assinatura do contrato”, uma situação “não
prevista”. O gerente de Conformidade da estatal, Leonardo Heitmann, contou que
o consórcio Interpar, formado por Setal, Mendes Júnior e MPE Montagens, teve
adiantamentos da ordem de R$ 40 milhões a R$ 45 milhões. A justificativa para a
antecipação assim que o contrato era assinada “foge ao padrão”, segundo ele.
O TCU viu
sobrepreço de R$ 223 milhões nas obras do Conpar e de R$ 408 milhões, nas do
Interpar. Integrante do primeiro consórcio, a OAS repassou R$ 617 mil para
firma do doleiro Alberto Youssef. No segundo, o executivo da Setal Augusto
Mendonça admitiu ter pago R$ 40 milhões em propinas. No mês passado, quando o
Correio revelou a existência da auditoria interna da Petrobras, o consórcio
afirmou ao jornal que prestou todas as informações ao tribunal. “Em relação ao
inquérito aberto pela Polícia Federal para averiguar o tema, o consórcio está e
sempre esteve à disposição, desde que o procedimento foi aberto, em 2011, para
prestar quaisquer esclarecimentos que venham a ser solicitados.” A OAS negou
“veementemente tais alegações”. “A OAS exerce suas atividades com integridade,
pautada pela conduta ética e pelo respeito à legislação em vigor”, afirmou a
assessoria da empresa.
Por: Eduardo Militão (Enviado Especial) Correio Braziliense