Logo após o fim do recesso parlamentar, integrantes da
comissão parlamentar de inquérito da Câmara pretendem convocar o ministro
Aroldo Cedraz para explicar a atuação do filho dele em processos no Tribunal de
Contas da União
Aroldo Cedraz está na mira da oposição desde maio na CPI da Petrobras
Mesmo em recesso branco, integrantes da CPI da Petrobras se
mobilizam nos bastidores para convocar o presidente do Tribunal de Contas da
União, Aroldo Cedraz. O requerimento, de autoria do deputado Izalci Lucas
(PSDB-DF), foi encaminhado ao colegiado em maio. Só agora, após novas
revelações a partir da delação premiada do dono da empreiteira UTC, Ricardo
Pessoa, deve ser votado. A previsão é que seja no início de agosto.
“Estamos
trabalhando para o requerimento ser votado. Deve ser votado logo na volta do
recesso. Ainda mais agora, que novas denúncias surgiram. Quando apresentei,
ainda não tínhamos o conhecimento das delações premiadas”, explicou o
parlamentar.
O filho
do presidente de Aroldo Cedraz, o advogado Tiago Cedraz, teve o nome mencionado
por delatores a partir da atuação do cartel na construção da usina de Angra 3,
no Rio de Janeiro. Ricardo Pessoa contou ao Ministério Público Federal (MPF)
que fazia repasses ao advogado para obter informações privilegiadas e vantagens
no TCU. O advogado receberia, de acordo com Pessoa, R$ 50 mil por mês.
A
licitação do empreendimento chegou a ser suspensa temporariamente pelo tribunal
ainda na fase de pré-qualificação. O relator do caso e atual corregedor da
Corte, ministro Raimundo Carreiro, proferiu a decisão. No entanto, no
julgamento do mérito, ele liberou a continuidade do empreendimento. Tanto
Cedraz quanto Carreiro negam qualquer irregularidade.
O
deputado Izalci afirmou que o novo contexto político brasileiro, a partir do
rompimento oficial do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, com o governo Dilma
Rousseff, deve facilitar a aprovação de requerimentos de convocação de várias
pessoas que podem causar dor de cabeça à presidente.
Cunha já
articula a ida dos ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Edinho Silva
(Secretaria de Comunicação), e ainda do ex-ministro José Dirceu. Os três haviam
escapado após um acordo entre oposicionistas e governistas, costurado pelo
relator do colegiado, deputado Luiz Sérgio (PT-SP). No lugar de aprovarem os
requerimentos mais antigos, que tinham Dirceu como principal alvo, acertaram a
convocação do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo.
Em
entrevista coletiva para anunciar o rompimento com o governo, Cunha citou que,
no Planalto, há “um bando de aloprados”, numa referência implícita ao ministro
Mercadante. Numa eventual ida à CPI da Petrobras, o petista teria que explicar
o repasse de R$ 250 mil feito pela UTC para sua campanha ao governo de São
Paulo, em 2010. Em delação premiada, o dono da empreiteira apresentou
documentos que comprovam a doação, de acordo com ele, fruto de propina. Em nota
oficial, o ministro aponta que o dinheiro é legal e registrado no TSE.
Edinho
Silva, que exercia a função de tesoureiro da campanha de reeleição da
presidente Dilma Rousseff, é mencionado pelo dono da UTC, Ricardo Pessoa, por
ter o pressionado para que a construtora realizasse doação de R$ 7,5 milhões. O
ministro nega as acusações.
O
peemedebista, que também prepara uma pauta-bomba para ser votada após o
recesso, atribui ao governo e ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot,
o depoimento bombástico do executivo Júlio Camargo. Cunha foi acusado de
receber propina no valor de US$ 5 milhões referentes a contratos de R$ 1,2
bilhão assinados entre a Petrobras e a Toyo Setal.
Encontro
Na manhã
de ontem, o presidente da CPI, deputado Hugo Motta, se reuniu com o
vice-presidente da República, Michel Temer (PMDB). Na saída, o parlamentar não
quis revelar o teor da conversa. O governo trabalha para evitar a convocação de
Mercadante e Edinho Silva.
Fonte:
João Valadares » Correio Braziliense - Colaborou Paulo de Tarso Lyra –
Foto: Ronaldo de Oliveira/CB/D.A/Press