Falta de integração entre as modalidades de transporte impede o melhor aproveitamento dos trens, que são essenciais para articular a mobilidade urbana
Com 180 mil passageiros por dia, metrô beneficia cidades como
Samambaia, que começa a substituir as pequenas casas por empreendimentos
imobiliários. Sistema, no entanto, é deficitário e precisa de melhorias
O progresso chegou de metrô. A presença desse meio de
transporte nas cidades impacta muito além da mobilidade urbana. O veículo sobre
trilhos é capaz de acelerar a economia local, alimentar o mercado imobiliário,
gerar empregos e promover transformações sociais, além de facilitar a vida da
população. No DF, os sinais do desenvolvimento nas regiões nas quais o metrô
funciona, como Ceilândia, Samambaia e Águas Claras, são nítidos. Houve a
verticalização da moradia, o melhoramento do padrão de qualidade dos edifícios
construídos em função das linhas, com endereços mais valorizados quanto mais
próximos às estações, a efervescência do comércio nos arredores e toda a
movimentação que tem o metrô como um de seus agentes principais.
Antes da
inauguração do sistema, a paisagem de Samambaia era predominantemente formada
por casas simples e prédios baixos. Com o Plano Diretor Local (PDL) da cidade,
que aprovou a construção de edifícios maiores, e o novo meio de locomoção, a
área viveu um boom imobiliário e sinais de prosperidade alcançaram o bairro,
que tem um dos maiores índices de pobreza, desemprego e violência do DF.
Atualmente,
é comum encontrar edifícios de alto padrão, com área de lazer completa e
acabamento de primeira linha, em Samambaia. Os mais valorizados estão próximos
ao metrô, que é usado como atrativo por construtoras na hora de promover seus
lançamentos. “Com certeza, o desenvolvimento de Samambaia como vemos hoje não
seria possível sem o metrô. O padrão de qualidade seria muito diferente sem
esse meio de transporte presente. Basta comparar as regiões que têm metrô com
as que não têm para ver a diferença do desenvolvimento. Quem apostou em
Samambaia acertou”, diz o diretor técnico da Campolina Construções e
Incorporações, Danilo Campolina. A empresa é dona de cinco edificações na
cidade. A primeira construída por eles, ao lado do metrô, teve 100% das
unidades esgotadas rapidamente. A segunda projeção levou três semanas para ter
70% dos apartamentos comprados. “A localização próxima ao metrô dá liquidez ao
imóvel, faz com que seja vendido mais rápido”, explica.
A relação
entre transporte público de qualidade e desenvolvimento econômico e social de
uma região também é defendida pela Associação de Empresas do Mercado Imobiliário
(Ademi). “É uma realidade mundial. Onde você tem transporte público eficiente,
a região é valorizada. Com certeza, os prédios ficam com valor melhor e têm
mais liquidez. À medida que a mobilidade urbana se torna mais eficiente, as
regiões menos centralizadas tornam-se prósperas”, avalia o presidente da Ademi,
Paulo Muniz.
Em Águas
Claras, a constatação é semelhante. Sem a presença do transporte sobre trilhos
para que o usuário possa fugir dos engarrafamentos, muita gente não teria
optado por viver ali, pois seria inviável locomover-se diariamente rumo ao
Plano Piloto, onde está a maioria dos empregos. A família do consultor de
eventos Tuller Lacerda, 28 anos, escolheu pagar mais caro para morar perto do
metrô. “Assim que nos mudamos pra Águas Claras, a preocupação dos meus pais era
comprar apartamento perto do metrô, já que o transporte público é escasso e sem
muitas opções. Os apartamentos próximos às estações são sim mais caros, para
venda ou aluguel. O metrô é definitivamente o que salva a cidade, já que quem
trabalha pelo Plano Piloto e mora aqui prefere deixar o carro em casa e usar o
serviço que é uma mão na roda pra fugir do trânsito caótico aqui da cidade”,
relata Tuller.
O morador
de Águas Claras ressalta os problemas referentes a essa opção de transporte,
que ainda está distante de atender à população plenamente. “O metrô precisa de
melhorias, como limpeza, maior número de trens, melhor sinalização, que, às
vezes, não é clara. A demora entre um trem e outro chega a ultrapassar 15
minutos e é comum o trem chegar à estação e demorar para sair, ficando parado
com as portas abertas. O horário de funcionamento também precisa ser revisto.
Depois das 23h é quase impossível pegar ônibus, então a única alternativa é o
metrô”, afirma.
Deficit
Especialistas
ouvidos pelo Correio apontam a subutilização do potencial do metrô. São 42km de
extensão — em São Paulo, por exemplo, são quase 80 km — e um tímido desempenho.
Os trens poderiam transportar até 250 mil pessoas diariamente, mas levam 180
mil, atualmente, em razão da tecnologia ultrapassada usada pelo sistema e da
deficitária manutenção. A falta de integração entre os outros meios de
transporte também é vista por estudiosos como fator de dificuldade. O metrô do
DF opera com deficit de mais de R$ 15 milhões mensais. As despesas da companhia
somam quase R$ 30 milhões por mês. A renda da bilheteria alcança os R$ 11
milhões mensais. Ao não explorar publicidade nas estações, sem promover o
comércio formal nos arredores e no interior, entre outros fatores, o metrô
deixa de lucrar quantia que seria suficiente para bancar toda a sua operação e
liberaria o montante investido pelo governo local para outros fins. Atraso na
expansão do metrô e falhas na administraçvão nas gestões anteriores geraram
perdas para a cidade, muito além da qualidade de vida dos usuários.
Estação de Ceilândia é uma das mais movimentadas. Usuários reclamam da longa espera
Recentemente,
a Companhia Metropolitana de Brasília lançou 24 editais para obras de expansão,
serviços de tecnologia e venda de espaços publicitários e comerciais. A
companhia recebeu R$ 800 milhões em verbas federais — via Ministério das
Cidades, tendo a Caixa Econômica como agente financeiro — para a realização de
serviços que incluem a conclusão de obras nas estações, atrasadas em mais de
uma década. A expectativa é gerar R$ 11 milhões por mês em receita extrabilheteria,
com a venda de espaços publicitários e exploração de áreas do metrô para
comércio. “Lidamos com erros de engenharia que vêm da obra de fundação do
metrô. Vamos mudar a cara das estações. O que vai salvar a cidade do colapso é
o trilho. Vamos licitar a modernização, para diminuir drasticamente o tempo de
espera entre um trem e outro, criar estações de aluguel de bicicletas para
integração e trabalhar pelas ciclofaixas. Ter um metrô sustentável, alimentado
com energia solar, também é uma grande preocupação”, afirma o presidente do
Metrô-DF, Marcelo Dourado. A aguardada construção da Linha 2, que chegará à Asa
Norte, deve ser licitada até dezembro e sair do papel em 2016, segundo ele.
Custo
operacional mensal do metrô
R$ 11 milhões
Renda
mensal com bilheteria
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Fonte: Leilane Menezes – Foto: Ed Alves/CB/D.A -Press –
Correio Braziliense