Petebista é apontado como tesoureiro informal de campanhas
Ex-senador, acusado por delator de ter ficado com R$ 5
milhões do esquema da Petrobras, já tem condenação na Justiça
Acusado de receber R$ 5 milhões do esquema de desvios de
dinheiro da Petrobras, o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) é alvo de seis procedimentos
judiciais e de investigações na Procuradoria Geral da República (PGR) e na
Justiça. Além da acusação do dono da UTC, Ricardo Ribeiro Pessoa, que consta em
uma delação premiada sob análise do Ministério Público, o ex-senador já foi
condenado em ação cível, enfrenta uma denúncia por crimes contra a lei de
licitações e responde a três inquéritos criminais.
A lista
não é maior porque Gim escapou de dois problemas na Justiça. Parcelou uma
dívida com a Secretaria de Fazenda do Distrito Federal. Isso suspendeu até 2016
um processo contra ele por um débito de R$ 27 mil. Além disso, o Ministério
Público não conseguiu autorização judicial para quebrar sigilos bancários de
pessoas ligadas a ele e decidiu encerrar uma apuração sobre envolvimento do
ex-senador em suposta lavagem de dinheiro. Quando Gim ainda tinha mandato no
Senado, a PGR pediu para arquivar o caso, e o Supremo Tribunal Federal aceitou.
Procurado
pelo Correio, o ex-senador retornou a ligação e disse que conversaria mais
tarde. Mas depois não fez mais contato.
Proteção em CPI
Em
delação premiada na Operação Lava-Jato, Ricardo Pessoa afirmou que destinou
para Gim R$ 5 milhões do esquema de desvios da Petrobras. O objetivo seria
protegê-lo na CPI mista da Petrobras, na qual o então senador era
vice-presidente. Como um tesoureiro informal, Gim teria conseguido dinheiro
para candidaturas locais da coligação PR-PTB-PMN-PRTB. Para o candidato a
governador José Roberto Arruda (PR), a UTC repassou R$ 1 milhão. E doou a mesma
quantia para o deputado federal Alberto Fraga (DEM-DF) e para a deputada
distrital Liliane Roriz (PRTB).
Colaborador
Deputado
distrital por dois mandatos, Gim foi candidato nas últimas eleições à vaga do
Distrito Federal no Senado, mas perdeu. Um movimento de funcionários do
Tribunal de Contas da União (TCU) ainda minou sua indicação para a Corte, que
tinha o aval do Palácio do Planalto.
Suplente
de Joaquim Roriz, assumiu o mandato em 2007 com a renúncia do titular. Logo na
largada, o então senador Arhtur Virgílio (PSDB-AM) lembrou que o petebista
respondia a processos. Ficou longe dos holofotes. Andava com cópias de nada
consta para provar que não havia nada contra ele na Justiça. Aos poucos, foi se
aproximando da cúpula da Casa. Virou vizinho de gabinete de Renan Calheiros, no
anexo I do Senado.
A
proximidade com Renan levou Gim ao governo Lula e, depois, ao governo Dilma. O
senador, morador da QI 12 do Lago Sul, logo se aproximou da então ministra da
Casa Civil. Bastava Dilma sair para o passeio com o seu cachorro, Nego, que lá
ia Gim encontrá-la. A presidente, que nunca foi dada a intimidades, aos poucos
foi se afastando, mas Gim continuou ajudando o governo em temas como a CPI da
Petrobras, que agora o coloca sob fogo cruzado.
Os rolos de Gim
Ex-senador é acusado de
receber propina do esquema da Petrobras e é alvo de outras denúncias na Justiça
Lava-Jato
O dono da UTC Engenharia,
Ricardo Pessoa, afirmou que repassou R$ 5 milhões para Gim do dinheiro desviado
da Petrobras. Políticos do Distrito Federal afirmam que o ex-senador atuou como
tesoureiro informal de campanhas locais.
Cargos na Câmara
Gim foi condenado em 2009
pela 5ª Vara de Fazenda Pública por criar cargos na Procuradoria da Câmara
Legislativa exclusivos para determinada categoria de servidores. Ele e outras
quatro pessoas deveriam pagar os valores dos salários pagos indevidamente. A
decisão foi confirmada no TJDFT e o ex-senador recorre no STJ.
Desvio de dinheiro
O ex-senador foi denunciado
em 2013 por crimes contra a lei de licitações e desvio de dinheiro. Segundo a
acusação da PGR, ele dispensou irregularmente licitação para locação de
equipamentos de informática quando presidia a Câmara Legislativa entre 2001 e
2002. Os prejuízos foram de R$ 1,6 milhão, segundo Tribunal de Contas do DF. A
denúncia foi remetida à 2ª Vara Criminal de Brasília.
Movimentação atípica
Inquérito criminal sobre
lavagem de dinheiro analisa “movimentação atípica” nos recursos bancários do
ex-senador e seus familiares. Em 2010, R$ 2,7 milhões passaram por contas de um
filho. Avalia também repasse de R$ 285 mil de empresas em nome do filho ao
ex-senador Luiz Estêvão e pessoas ligadas a ele — também alvo de “vultosas
movimentações financeiras atípicas”, segundo a PGR. A investigação, aberta no
STF, foi enviada à Justiça de Brasília.
Dinheiro dos Ministérios
Um inquérito por peculato
aberto no STF foi mandado para o Tribunal Regional Federal da 1ª Região. A
apuração analisa irregularidades na aplicação de recursos públicos de convênios
com os ministérios da Cultura e do Turismo. Segundo o antigo relator, ministro
Teori Zavascki, há “possível participação do ex-senador conhecido como Gim
Argello”.
Emendas parlamentares
Inquérito aberto para apurar
se Gim e pessoas ligadas a ele cometeram corrupção ativa e desvio de dinheiro
na “destinação de emendas parlamentares” em convênios com o Ministério do
Turismo e ONGs. Foi remetido à Justiça de Brasília.
Fonte: Eduardo Militão – Denise Rothenburg – Fotor: Antonio
Cunha/CB/D.A./Press – Correio Braziliense