Projeções da Organização das Nações Unidas (ONU) para os
próximos 85 anos estimam que a população brasileira saltará dos atuais 207
milhões para 238 milhões até 2047. A partir deste ano, de acordo com o
relatório Panorama da População Mundial: a revisão de 2015, o número começará a
cair. O Brasil sairá do quinto lugar entre os países mais populosos — a China
está em primeiro, seguida pela Índia, Estados Unidos e Indonésia — e chegará ao
fim do século em 13º lugar, com 200 milhões de habitantes.
O estudo
aponta para mudanças demográficas que implicarão novos desafios no tabuleiro
geopolítico mundial — enquanto no Brasil as taxas de natalidade tenderão ao
declínio, a Índia deverá tomar a liderança da China no ranking populacional. E
o crescimento, segundo a ONU, será maior na África, que nos próximos 35 anos
terá cinco países entre os nove que concentrarão os maiores índices de aumento.
Hoje, a tendência está centrada na Ásia, com cinco países entre os 10 mais
populosos — China, Bangladesh, Índia, Indonésia e Paquistão, dos quais apenas
os dois primeiros deverão sair da lista.
O período
englobado pelas pesquisas e análises das Nações Unidas pode parecer longo
demais e contribuir para adiar a atenção especial dos gestores nacionais — em
todos os níveis de responsabilidade dos Três Poderes da nação — sobre os
resultados apresentados, ante a extensa lista de problemas emergenciais que o
Brasil enfrenta, agravados pela crise econômica e política. O país, no entanto,
não pode se dar o direito de negligenciá-los. Avaliar, compreender e utilizar o
conjunto de informações reunidas pelos especialistas no relatório global são os
passos que devem ser tomados, agora, para que se criem as bases de um
crescimento coerente com as novas configurações do mapa mundial que se redesenha,
corrigindo rumos e erros, e buscando as alternativas mais eficazes.
Não se
deve perder de vista, ao mesmo tempo, que a curva de rebaixamento do nosso
crescimento populacional somente se dará a partir da metade do século, quando
novos 31 milhões de brasileiros terão engrossado o rol dos que hoje reivindicam
um país melhor, mais justo e com oportunidades de um futuro decente para todos.
Esse dado evidencia que, enquanto caminha nessa direção, o Brasil precisará
concentrar esforços na correção de desacertos históricos cruciais, como os que
levaram aos índices de analfabetismo funcional, inaceitáveis para uma nação que
se pretende em desenvolvimento, à ineficácia vergonhosa do atendimento na rede
pública de saúde, e às condições que vêm mantendo o país, nas últimas décadas,
na liderança entre os que registram mais mortes violentas, nos quatro
continentes.
O que
queremos ser, nas próximas décadas, é a principal questão que se apresenta, aos
países, no dever de casa legado pelo relatório da ONU. Para o Brasil, o momento
em que a Justiça Federal desenrola o gigantesco novelo de uma corrupção
arraigada, torna-se instigador para pensar numa resposta digna. Pensadores e
especialistas para ajudar, temos de sobra. Como o premiado geógrafo
Milton Santos. Ele alertava sobre o aprofundamento da competitividade, a
produção de novos totalitarismos e a incapacidade de o Estado regular a vida
coletiva, mas jamais perdeu a esperança na construção de uma nova globalização,
menos excludente e mais solidária.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto: Google