Cena comum na carreira política de Joaquim Roriz, que no mês passado foi condenado por improbidade administrativa
Ex-governador teve a honraria aprovada em 1999, mas, como era
chefe do Buriti à época, preferiu não receber. Hoje, o encontro servirá também
para comemorar os 79 anos dele, em uma trajetória marcada por polêmicas, ações
cíveis e processos criminais
Quinze anos depois da publicação do decreto que concedeu o
título de cidadão honorário de Brasília a Joaquim Roriz, a Câmara Legislativa
fará hoje uma sessão solene para entregar a honraria ao ex-governador. O evento
será às 15h, no Memorial JK, e deve reunir parentes, ex-aliados e admiradores
do patriarca da família Roriz. Até o governador Rodrigo Rollemberg (PSB)
confirmou presença no encontro, proposto pelo deputado distrital Juarezão
(PRTB). Além de marcar a abertura do semestre legislativo, a sessão solene
celebra o aniversário de 79 anos do ex-governador, que estará presente na
homenagem.
O projeto
de decreto legislativo que concedeu o título de cidadão honorário foi aprovado
em 1999 e sancionado no ano seguinte. A proposta é de autoria do ex-deputado
distrital Rajão, à época correligionário e aliado do ex-governador. Joaquim
Roriz, que comandou o Palácio do Buriti em quatro oportunidades, chefiava o
Executivo na ocasião. Por isso, não houve cerimônia para entrega da honraria.
Ao assumir uma vaga na Câmara Legislativa pela primeira vez, este ano, Juarezão
decidiu propor a realização da sessão solene em homenagem ao aliado. A proposta
foi aprovada pelo plenário da Casa.
Além de
autoridades e de ex-secretários que participaram das gestões de Roriz, os organizadores
convidaram a população, por meio de propaganda veiculada em rádios. Com a saúde
debilitada, o ex-governador é presença rara em eventos públicos. Ele foi visto
pela última vez em abril, quando compareceu à missa de aniversário da distrital
Liliane Roriz (PRTB). Na ocasião, encontrou-se com Rodrigo Rollemberg. Os dois
cumprimentaram-se efusivamente e trocaram afagos e elogios.
Os
organizadores do evento prepararam um vídeo para a homenagem, que será exibido
no encontro. O material vai contar a trajetória do político — um dos mais
populares e controversos do Distrito Federal (leia Biografia). Joaquim Roriz
ganhou a admiração e a devoção de milhares de brasilienses, ao criar dezenas de
cidades e distribuir lotes à população carente. Mas, ao longo da vida pública,
o ex-governador foi alvo de dezenas de ações cíveis e processos criminais.
No mês
passado, o Tribunal de Justiça do DF condenou Roriz e parentes por improbidade
administrativa. O Judiciário determinou a cassação dos direitos políticos dos acusados.
O ex-governador e os familiares condenados recorreram. O episódio mais polêmico
da longa trajetória política ocorreu em 2007. Apenas seis meses depois de tomar
posse como senador, Roriz renunciou ao mandato para escapar da cassação. Ele
foi flagrado em conversas telefônicas com o ex-presidente do BRB Tarcísio
Franklin de Moura negociando a partilha de R$ 2,2 milhões. No ano passado, a
Justiça rejeitou uma ação civil de improbidade pelos fatos relacionados ao caso.
Herança
Apesar
dos escândalos recentes, Joaquim Roriz mantém a força política e o poder de
influenciar os rumos das eleições no Distrito Federal. Na última disputa,
Joaquim Roriz Neto, filho da ex-deputada federal Jaqueline Roriz, assumiu o
lugar da mãe a 20 dias das eleições. Mesmo com tempo curto de campanha, o rapaz
teve quase 30 mil votos para a Câmara dos Deputados. Liliane Roriz (PRTB)
conquistou o segundo mandato de distrital com mais de 16 mil votos. Durante a
campanha, o patriarca do clã atuou nos bastidores da disputa, mas participou de
um ato na Estrutural, em setembro. Mesmo sem sair do carro, Roriz reuniu uma
multidão de fãs e eleitores, que choraram com a presença do político.
Liliane
Roriz participou ativamente da organização da sessão solene de hoje e conta que
o pai está emocionado com a homenagem. “Ele está muito feliz e honrado com essa
celebração. A expectativa do meu pai é grande, já que ele sabe que vai rever
muitas pessoas queridas e importantes para ele”, revela a distrital. Roriz
evita sair de casa por conta da saúde frágil. Doente renal crônico, ele se
submete a sessões diárias de hemodiálise. No ano passado, a família chegou a
cogitar a realização de um transplante, mas o procedimento foi desaconselhado
pela equipe médica que o acompanha.
O
deputado distrital Juarezão, que propôs a realização da sessão solene em
homenagem ao ex-governador, conta que a entrega do título de cidadão honorário
só ocorrerá 15 anos após a concessão da honraria porque, quando houve a
aprovação, ele era governador. “O Roriz entendeu na época que não seria
conveniente. Agora, percebemos que seria o momento dessa festa. Ele ajudou os
pobres, é uma pessoa muito importante para a cidade e deve receber a
homenagem”, justifica o parlamentar.
BIOGRAFIA »50
anos de política
A trajetória política de Joaquim Roriz começou em Luziânia,
cidade onde nasceu. Aos 26 anos, ele virou vereador, com as bênçãos do pai,
Lucena, que era um cacique do PSD. Em 1978, foi eleito deputado estadual e
terminou a disputa como o mais bem votado. Em 1982, conquistou um mandato de
deputado federal. Em 1986, Roriz acabou eleito vice-governador de Goiás, na
chapa do PMDB encabeçada por Henrique Santillo. Em 1988, recebeu a indicação do
então presidente José Sarney para assumir o Governo do Distrito Federal, em
substituição a José Aparecido. Quatro anos depois, Joaquim Roriz se tornou o
primeiro governador eleito democraticamente na história da capital federal.
Reeleito
para o cargo nas duas oportunidades seguintes, em 1998 e 2002, ficou no cargo
até 2006, quando se licenciou do Palácio do Buriti para disputar um mandato de
senador. Joaquim Roriz foi eleito para o cargo com 657 mil votos, mas teve que
renunciar para escapar da cassação. Em 2010, ele concorreu novamente ao Palácio
do Buriti, mas teve o registro barrado pela Justiça Eleitoral por conta da Lei
da Ficha Limpa. A mulher de Roriz, Weslian, substituiu o marido na chapa e
conseguiu ir para o segundo turno, mas acabou derrotada pelo petista Agnelo
Queiroz.
Com o então reitor da UnB, Cristovam Buarque, em 1988
Em 1991, ao lado de Lucio Costa e Márcia Kubitschek
FHC e o ex-governador assinam o Fundo Constitucional
No último mandato, em 2005, com a vice, Maria Abadia
O governador Rollemberg cumprimenta Roriz: aproximação
Fonte: Helena Mader – Correio Braziliense – Foto: Rodolfo Stuckert/GDF1983 - Jefferson Rudy/CB/D.A.Press - Antonio Cunha/CB/D.A Press - Rafael Castanheira/Esp./CB/D.A.Press - Carlos Moura/CB/D.A.Press