Dois píeres e duas garagens para barcos estavam em área
pública e ainda não se sabe como serão aproveitados. Segundo a Agefis,
1.549m de cercas e 150m de grades foram derrubados. O entulho recolhido
pelos funcionários encheu 61 caminhões...
Ações do governo fiscalizaram 20 residências na orla do Lago
Paranoá em uma semana. De acordo com pesquisa, quase 80% da população aprovou a
desocupação, mas moradores apontam medo com a falta de segurança e a utilização
do espaço
A primeira semana de operações do GDF na orla do Lago
Paranoá termina com a desobstrução de uma área de 39,2 mil m², que antes
estavam sob domínio particular. O espaço, equivalente a cinco campos de
futebol, estava distribuído por 20 residências, localizadas nas QL 10 e 12 do
Lago Sul, próximas ao Parque Ecológico Península Sul. Os trabalhos, que
começaram na segunda-feira, envolveram a remarcação dos terrenos que invadiam
área pública e derrubada de grades e cercas-vivas que impediam a circulação de
pessoas pela margem do lago. O governo agora enfrenta a questão da segurança na
área e da possível ocupação indiscriminada para lazer — uma vez que a decisão
judicial das derrubadas tem fundamento de preservação ambiental. Até o momento,
segundo pesquisa, o Buriti conta com a simpatia da população em relação às
ações tomadas.
Bruna
Pinheiro, diretora da Agência de Fiscalização do Distrito Federal (Agefis),
avalia que o saldo positivo vai além dos terrenos retomados. “A operação mostra
à população do DF que nenhuma área pública pode ser invadida. Não há local em
que não façamos nosso trabalho e visamos sempre o bem de todos”, afirmou. Além
das cercas, a operação averiguou irregularidades no local. Duas bombas d’água
ativas e três desativadas foram encontradas em terrenos da orla. Os aparatos
serviam para a retirada ilegal de água do lago a fim de irrigar jardins. Os
donos das residências em que os sistemas funcionavam foram notificados e podem
ser multados por crime ambiental. O Instituto Brasília Ambiental (Ibram) também
lacrou os equipamentos para que não sejam mais utilizados.
Destinação
Vários
moradores que invadiram área pública construíram benfeitorias. No total, duas
quadras poliesportivas, uma de areia, três de tênis, uma piscina, dois píeres e
duas garagens de barcos foram realocados para domínio público. Os fiscais do
Ibram esclareceram que as obras ainda não são para uso da população. É preciso
que o instituto faça um estudo mais aprofundado para saber a destinação dos
espaços.
Nas redes
sociais, brasilienses se mobilizaram para ocupar o novo espaço público no fim
de semana. Mas, por enquanto, as pessoas não estão autorizadas a usufruir da
orla da QL 12 do Lago Sul. A Secretaria de Segurança fez reunião para detalhar
o monitoramento da região e, até a conclusão dos trabalhos do Ibram, ninguém
poderá circular pela área de preservação permanente.
Com a
derrubada de grades e cercas-vivas, muitos moradores da região alegaram estar
inseguros. “O Ibram tomou as correntes e os cadeados e afirmou que passaria a
cuidar do parque. Mas o local ficou aberto a madrugada inteira”, reclamou
Marcos Coelho, presidente da Associação dos Moradores da QL 12 e que teve a
residência fiscalizada durante as operações. “O que mais nos preocupa é a
segurança”, completa. Para evitar crimes, o patrulhamento nas proximidades do
Parque Ecológico Península Sul foi reforçado. “Houve um pedido do Batalhão para
que as rondas fossem mais frequentes”, relatou o sargento Domingos Francisco,
que, momentos antes de falar com a reportagem, havia abordado sete jovens por
atitudes suspeitas no parque.
Além das
20 residências com áreas retomadas pelo poder público, 11 tiveram a
fiscalização adiada para próximas fases da operação. São os casos de moradias
oficiais de embaixadores, da Câmara dos Deputados, do Senado e das Forças
Armadas. Como essas casas são de posse da União, a negociação das derrubadas
ocorre na esfera federal. “Por questões legais e mesmo diplomáticas, esses
terrenos não tiveram interferência neste primeiro momento. Mas vale lembrar que
a operação durará dois anos”, reiterou Bruna Pinheiro.
Pesquisa
A decisão
do governo de desobstruir a orla do Lago Paranoá, com derrubadas em terrenos à
beira do espelho d’água, recebeu o apoio de 79,6% dos moradores do DF. Os dados
fazem parte de uma pesquisa realizada pelo Instituto O&P Brasil. Foram
ouvidas 1 mil pessoas de 31 regiões do DF, em 26 e 27 de agosto. A margem de
erro é de 3,1%.
A maior
aprovação vem de pessoas na faixa etária de 40 a 59 anos. Entre esses cidadãos,
86,6% declararam ser favoráveis à decisão do GDF de remover construções em área
de preservação permanente do lago. Na comparação entre homens e mulheres, o
maior percentual de aprovação ficou entre pessoas do sexo masculino: 81,8% dos
consultados mostraram apoio às derrubadas, contra 77,6% das mulheres.
Na
comparação entre as regiões, o apoio mais forte vem da área mais nobre. Entre
os moradores das asas Sul e Norte, lagos Sul e Norte, Guará, Sudoeste,
Octogonal e Cruzeiro, 83,4% disseram aos entrevistadores que apoiam a
desobstrução da orla do Paranoá. A pesquisa também avaliou a surpresa dos
entrevistados com relação à decisão do governo de desobstruir todas as áreas de
preservação permanente do Paranoá. Entre os ouvidos pelo instituto, 73,7%
disseram que não esperavam que o governo determinasse o início da operação e
foram surpreendidos pela medida.
O
levantamento verificou quais os equipamentos públicos que mais despertam o
interesse de futuros usuários da região do espelho d’água. Ao todo, 52%
afirmaram ter interesse em ciclovias e 42,5% querem pistas de caminhada na orla
do Paranoá. Entre os entrevistados, 40,1% defendem que o governo invista em
banheiros públicos. Também houve interesse na construção de quiosques para
lanches, campos de areia, aluguel de pedalinhos, churrasqueiras e píeres
públicos.
"A
operação mostra à população do DF que nenhuma área pública pode ser invadida. Não
há local em que não façamos nosso trabalho e visamos sempre o bem de todos”
(Bruna
Pinheiro, diretora da Agefis)
"O
Ibram tomou as correntes e os cadeados e afirmou que passaria a cuidar do
parque. Mas o local ficou aberto a madrugada inteira. O que mais nos
preocupa é a segurança”
(Marcos
Coelho, presidente da Associação dos Moradores da QL)
Fonte: Helena Mader – João Gabriel Amador (Enviado Especial)
Correio Braziliense – Foto: Carlos Vieira/CB/D.A/Press