Carlos Chagas
O que teriam conversado Dilma e Lula no fim da tarde de sábado, no palácio da Alvorada, a sós, sem testemunhas, durante quase duas horas? Alinharam temores pela manifestação de ontem ou comentaram a mais recente denúncia que atingiu o ex-presidente, de haver recebido 27 milhões de reais por conta de palestras ministradas por todo o mundo, desde que deixou o poder? Como toda a população, ignoravam a densidade dos protestos do dia seguinte, ainda que com relação às palestras, tivessem concluído que o Instituto Lula houvesse prestado todas as informações à Receita Federal.
Certo, mesmo, é que refizeram suas relações políticas e pessoais, concluindo estar a sorte de uma ligada à sorte do outro. Na hipótese hoje um pouco mais remota de impeachment ou da renúncia de Madame, o antecessor também estaria fulminado, donde se conclui a reafirmação de que, se ela terminar seu mandato, ele fatalmente será candidato a retornar ao palácio do Planalto. Esse será o roteiro idealizado pelos dois.
ATACADO E VAREJO
Assim, no atacado, terão ajustado os ponteiros. Mas no varejo? Aqui, as hipóteses variam ao infinito. Terá o Lula insistido na necessidade de ampla reforma do ministério? Exortou a sucessora a decidir com mais rapidez? Conquistado Renan Calheiros, deveria atrair Eduardo Cunha ou deixá-lo entregue às próprias agruras? Haveria outra fórmula para assegurar o apoio do Congresso, além da distribuição fisiológica de cargos e funções nas estruturas do governo? Reconquistar a popularidade apenas com viagens pelo país daria resultado? Domesticar o PT e os movimentos sociais com a política de Joaquim Levy? Encontrar alternativas sociais para recuperar as massas ou permanecer satisfazendo as exigências das elites?
Não teria fim a agenda referente aos variados problemas enfrentados pela presidente e, em consequência, pelo seu mentor, terminando pela charada para a qual ainda não tinham resposta: os protestos de ontem. Dilma ficaria no bunker em que o palácio da Alvorada se transformou. Lula, olhando a rua de viés, pela varanda de seu apartamento em São Paulo. Ligados, é claro, por linhas telefônicas permanentes.
QUEM É O CHEFE?
É sempre bom lembrar episódio verificado no final da Segunda Guerra Mundial, quando já derrotada a Alemanha de Hitler. Em Londres, os jornalistas cercaram o marechal Bernard Montgomery, herói dos exércitos britânicos e um poço de vaidade. Queriam saber qual o segredo de seu sucesso. Arrogante, mandou que anotassem: “É porque eu não bebo, não fumo, não jogo e não prevarico!”
Winston Churchill, ainda primeiro-ministro, sentiu-se atingido e convocou os repórteres, pedindo que registrassem suas palavras: “eu bebo, fumo, jogo, prevarico, e sou o chefe dele.”
Não é preciso explicar…