Por que a política se tornou o espaço de seleção
dos piores elementos e não dos melhores? A resposta a esse claro enigma não
veio na forma de ensaio sociológico ou antropológico; ela veio na forma de
choque de realidade, com a operação Lava Jato. À medida que as investigações
avançam, fica cada vez mais ululantemente óbvio que o financiamento de
campanhas políticas por empresas é a grande fonte da corrupção no Brasil. Ela
favorece o tráfico de influência, o pagamento de propina, o superfaturamento,
as licitações fraudadas e a eleição de políticos que não têm currículo; têm
folha corrida.
É o financiamento de campanhas por empresas que
torna a roubalheira um fenômeno estrutural e sistêmico. Nem Ali Babá e os
Quarenta Ladrões imaginaram tamanho assalto ao erário. O ex-ministro do STF,
Aires Brito, contou em entrevista ao Correio, que, ao ler a notícia sobre o
montante a ser devolvido por Pedro Barusco, um dos acusados por meio da delação
premiada do escândalo da Petrobras, quase caiu das nuvens, o que, segundo Machado
de Assis, é melhor do que cair do terceiro andar.
Aires Brito ficou tão estarrecido com a quantia que
teve de pegar os óculos. Imaginou que fosse R$ 700 mil, mas eram mesmo R$ 70
milhões. A roubalheira alcançou o estado de delírio; os caras roubam numa
escala de PIB. Com tanta grana rolando, é possível comprar votos, mandatos,
projetos de lei, partidos de aluguel, partidos campeões da ética e até juízes.
É dinheiro capaz de enlouquecer qualquer mortal.
O nosso Congresso está loteado por interesses corporativos:
a bancada dos bancos, a bancada dos frigoríficos, a bancada dos empreiteiros, a
bancada da bala. As campanhas financiadas por empresas desfiguram e deformam a
democracia. Os interesses coletivos ficam completamente submetidos a esse
balcão de negócios. A indigência dos nossos políticos torna-se evidente em uma
situação de crise como a que vivemos. Onde estão os líderes na hora em que mais
precisamos deles?
A OAB entrou com uma ação de inconstitucionalidade
no STF contra o financiamento de empresas. É uma medida que merece todo o
aplauso e apoio, pois canaliza para o ponto certo, de maneira pragmática, a
nossa indignação difusa, dispersa e errática. Não adianta berrar: “Abaixo,
Dilma! Abaixo o PT”. Infelizmente, a corrupção é uma aberração apartidária.
O STF tem assumido posições avançadas em relação a
temas evitados pelos interesses corporativos do Congresso, tais como a censura
prévia às biografias. Seria imprescindível para a desratização da política e
para o futuro do país que o veto ao financiamento de campanhas por empresas já
valesse para as próximas eleições. Ela jogou o Brasil na lama moral, econômica
e política. Depois da Ficha Limpa, precisamos de Campanhas de Ficha
Limpa.
Eu gostaria de ver um Congresso com a bancada dos
sociólogos, a bancada dos antropólogos, a bancada dos filósofos, a bancada da
educação, a bancada da cultura, a bancada dos idealistas, a bancada dos
interesses comunitários, bancada da agricultura sustentável, a bancada dos
defensores das causas perdidas, a bancada dos que amam o Brasil.
Por: Severino Francisco – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração Blog