A tragédia das farmácias de alto custo serve de
prova incontestável para dito antes usado jocosamente: o ruim pode piorar. A
saúde serve de exemplo. Tornou-se lugar-comum dizer que o setor está na UTI. As
imagens veiculadas pela mídia mostram cenas inaceitáveis pelas consciências
civilizadas do país.
Elas retratam cenário que provoca constrangimento e
indignação. Adultos e crianças que buscam socorro não encontram resposta.
Aguardam horas, dias e meses em condições precárias para receber atenção.
Muitas vezes os cuidados chegam tarde. A enfermidade se agravou ou a vida se
foi.
É inaceitável. Na capital da República, que deveria
ser modelo de vanguarda para as demais unidades da Federação, impera a
negligência com a saúde e o bem-estar da população que recorre à rede pública
para receber o tratamento a que tem direito e pelo qual paga com uma das
maiores cargas tributárias do mundo sem a necessária contrapartida.
Não se trata apenas de falta de recursos. A gestão
deixa muito a desejar. UTIs, macas e leitos insuficientes, equipamentos
quebrados, elevadores que não saem do lugar, filas cada vez maiores e mais
lentas, atendimento precário, remédios e material hospitalar em falta — são
mazelas previsíveis por gerentes profissionais. Não se deve ao acaso a
existência dos cursos de administração hospitalar.
O drama que parecia ter atingido o ápice nos
infortúnios diários, vê-se agora, ainda estava em evolução. É o que se deduz
das cenas protagonizadas por personagens que precisam de medicamentos das
farmácias de alto custo. Elas distribuem gratuitamente remédios muito caros,
inacessíveis à maioria da população.
Alguns são de uso contínuo. Outros, temporários
porém inadiáveis. Esquizofrenia, epilepsia, esclerose múltipla, hepatite viral
B e C, artrite reumatológica, imunossupressão em transplantados renais são
enfermidades contempladas no programa. Por causa da greve dos servidores, houve
limitação no atendimento. Só 100 senhas são distribuídas por dia.
Via crucis espera o paciente. Embora sem condições
físicas, ele passa a noite na fila em situação precária — sem banheiro, sem
alimentos, sem ter onde descansar. As noites se multiplicam. As consequências,
como frisava o conselheiro Acácio, vêm depois. Quadros se agravarão. Vidas
serão perdidas. O governo precisa agir. Por que não remanejar servidores de
outras áreas? Supervisionados, eles poderão multiplicar a distribuição de
remédios a quem pagará a greve com a própria vida.
Fonte: “Visão” do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google