Na semana
que passou, Brasília assistiu ao injustificável fato de professores sendo
espancados na rua, durante ação da polícia para liberar uma avenida ocupada.
Espancar professores é espancar o futuro. São lamentáveis a greve de
professores e a interrupção do trânsito, impedindo o ir e vir das pessoas.
Mesmo assim, o governo tem que usar o diálogo, nunca a violência. A sensação é
de que Brasília está sequestrada pela falta de diálogo do governador com as
lideranças da cidade.
Os
professores querem o cumprimento de aumentos salariais concedidos pelo governo
anterior, que o atual diz não ter recursos para cumprir. Sendo assim, a capital
do país está paralisada pela falta de recursos que impediria o atual governo de
pagar os salários concedidos pelo governo anterior e sem recursos para
investimentos em novos projetos que a cidade precisa em seu crescimento e
evolução. Desde o primeiro dia de seu mandato, o governador Rollemberg tem
deixado claro que não há recursos para manter os compromissos autorizados
irresponsavelmente por seu antecessor.
O governo
fala em falta de recursos e os sindicatos, alguns parlamentares e outras
autoridades afirmam que haveria disponibilidade de recursos. Sindicalistas
dizem que o pessimismo do governador decorre dele não conhecer a realidade ou
manipular os dados com intenções políticas para desvalorizar o governo
anterior. É como se a verdade fosse sequestrada. O governador nunca levou
adiante a sugestão, feita logo nos primeiros dias de seu governo, de criar uma
Comissão da Verdade Fiscal, com nomes da máxima credibilidade técnica e moral,
capaz de se debruçar sobre nossas contas e passar a realidade com
credibilidade.
Aparentemente,
o governador conhece tão bem os números e está tão seguro deles que não vê
necessidade de convencer a população. Além disso, a sensação é que ele adotou
uma estratégia do sequestro da falta de recursos, como desculpas para o
acomodamento da máquina do governo, para a falta de criatividade para projetos
que não exijam muitos recursos financeiros. Tanto ele quanto os secretários
parecem sentir que o “não temos dinheiro” é suficiente para justificar a
paralisia da máquina.
Como
alguém que, ao não ter dinheiro para pagar o resgate, aceita a continuidade do
sequestro. Isso não quer dizer que Brasília estaria livre de greves, depois de
se conhecer os números reais; porque estamos sequestrados pelo corporativismo.
Se uma Comissão da Verdade Fiscal mostrasse que o governador está equivocado e
que nossas contas estão equilibradas, no dia seguinte começariam greves por
aumentos de salários, porque toda a sociedade brasileira está sequestrada pela
visão de que o Brasil não existe como entidade unificada.
Existem
apenas os grupos, corporações com seus interesses. Além de que prevalece a
ideia de que os recursos dos governos são ilimitados, como pareciam durante as
ilusões dos tempos da inflação. Da mesma forma que a inflação, Brasília foi
sequestrada pelas facilidades das transferências de recursos que o Brasil nos
envia todos os meses; e também pelo imenso patrimônio recebido no início e
colocado à disposição da Terracap. Estes recursos criaram um sentimento de
facilidades, como uma fantasia onde tudo é possível para o governo, para os
empresários e para os servidores.
Quando a
crise torna impossível o governo federal atender nossas demandas, o governo do
Distrito Federal está considerando a possibilidade de vender patrimônio para
pagar custeios, como salários. Como se o patrimônio pudesse ser reposto
indefinidamente. Para o servidor, isso se justificaria, uma vez que estes
terrenos serviram para fazer aqui algumas das maiores fortunas do Brasil, e
para políticos fisiológicos ganharem votos com a distribuição da terra pública
em troca de votos. Brasília precisa libertar-se das amarras que a sequestram,
adaptando-se à realidade da aritmética financeira, ou perderá o direito de se
autogovernar quando o Brasil perceber que estamos custando demasiado.
Nossa
máquina governamental custa anualmente R$ 9 mil por habitante, enquanto todas
as máquinas governamentais, federal, estaduais e municipais do Brasil, custam
R$ 4.350 a cada brasileiro. Autonomia exige responsabilidade na gestão, com
credibilidade sobre os números que indicam a realidade e com diálogo. Os três
estão faltando.
(*) Cristovam
Buarque - Professor emérito da UnB e senador pelo PDT-DF