A reforma do Mané Garrincha, uma das obras tocadas
pela Andrade Gutierrez para a Copa de 2014: queda no faturamento
Andrade Gutierrez, que já foi a "número dois" do país, acerta
pagar multa como parte do acordo de leniência. Executivos passam o dia na PF
tratando dos temas da delação premiada
A construtora Andrade Gutierrez — que deixou o
posto de segunda maior empreiteira do país em meio à Operação Lava-Jato e
perdeu 19% de seu faturamento — iniciou as tratativas para um acordo de
leniência para admitir crimes de corrupção em contratos em obras da Petrobras e
outros órgãos públicos. O Correio apurou que a empresa acertou pagar
aproximadamente R$ 1 bilhão, valor equivalente às perdas que teve no último
balanço. O trato protegerá não só a empresa, mas os executivos de crimes
revelados.
O acordo é feito em conjunto com a
Procuradoria-Geral da República (PGR), por envolver políticos com foro
privilegiado, como ministros, deputados e senadores, com a Procuradoria da
República no Paraná e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade). Em
troca, a Andrade Gutierrez pretende sobreviver ao não ser proibida de fechar
contratos com a administração pública caso seja considerada inidônea,
julgamento que já asfixiou financeiramente outras concorrentes no passado, como
a Delta Construções.
A Andrade Gutierrez fez obras sozinha ou em
parceria, por exemplo, da reforma do estádio do Maracanã, no Rio de Janeiro; do
Mané Garrincha, em Brasília; do Beira-Rio, em Porto Alegre, e na construção da
Arena Amazonas, em Manaus. Todos foram utilizados na Copa do Mundo do ano
passado. Já na Petrobras, a empresa tocou obras como do Complexo Petroquímico
do Rio de Janeiro (Comperj). A construtora é acusada pelo Ministério Público de
fazer parte do cartel de empreiteiras, como a Odebrecht e a Camargo Corrêa, que
combinava licitações na Petrobras e superfaturava os preços. Os valores
excedentes, de cerca de 1% a 3%, eram repassados para funcionários da estatal,
políticos, partidos e operadores do mercado financeiro irregular, como
doleiros. O presidente da empresa, Otávio Azevedo, e os executivos Elton Negrão
e Flávio Barra estão presos e são acusados de pagarem propinas no esquema.
Ontem, o trio saiu do Complexo Médico Penal de
Pinhais (PR), na região metropolitana de Curitiba, e foi levado para a
Superintendência da Polícia Federal no Paraná. Lá, reuniram-se com advogados e
investigadores. Um dos objetivos era delinear quais temas serão tratados em
cada anexo da delação premiada que eles farão para complementar o acordo de
leniência da empresa. A definição dos temas e a assinatura do acordo com eles
deve demorar alguns dias.
Além da Petrobras, a Andrade Gutierrez deverá
confessar crimes sobre desvios em obras na usina de Angra 3, controlada pela
Eletronuclear. O executivo Flávio Barra foi acusado pelos delatores da Camargo
Corrêa e da UTC Engenharia. De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o acordo
inclui informações sobre irregularidades em obras na Copa do Mundo de 2014, na
ferrovia Norte-Sul, e na usina de Belo Monte, que ainda está em construção, no
Pará. Dois senadores devem ser citados, segundo o jornal O Estado de S.Paulo.
Divergência
A assessoria de imprensa da empresa não comentou o assunto ontem. A
reportagem apurou que a decisão de fechar um acordo de colaboração causou
divergência entre a banca de advogados. Alguns não concordam com o método de
defesa e já estudam deixar o caso.
A Andrade Gutierrez, que já foi a segunda maior
empreiteira do país, atrás apenas da Construtora Norberto Odebrecht, vive um
declínio desde a deflagração da Operação Lava-Jato, assim como outras empresas
do setor envolvidas no caso. O faturamento da empreiteira caiu de R$ 5,32
bilhões para R$ 4,3 bilhões entre 2013 e o ano passado. Ou seja uma perda de R$
1 bilhão, ou 19%, praticamente o total de multas que pagará como parte do
acordo de leniência.
Além da Andrade, a Camargo Corrêa e a Setal
Engenharia já fecharam pactos com o Cade e o Ministério Público para poderem
continuar vivas no mercado. A Camargo e seus executivos se comprometeram a
pagar R$ 800 milhões para entregar informações sobre fraudes na Petrobras e em
Angra 3. Há ainda a expectativa de que ele revelem casos de corrupção em Belo
Monte.
Ao todo, 27 empresas são acusadas de participarem
do cartel, de acordo com a Polícia Federal. Um laudo da corporação aponta que
os prejuízos causados apenas à Petrobras variaram R$ 6,4 bilhões a até R$ 42,8
bilhões apenas com corrupção, superfaturamento e “lucros excessivos”.
Em 24 de julho, o Ministério Público no Paraná
denunciou os executivos da Andrade Gutierrez por corrupção ativa e organização
criminosa. Eles são acusados de pagarem propina por meio de operadores como o
doleiro Alberto Youssef e os lobistas Fernando “Baiano” Soares e Mário Góes. Os
destinatários do dinheiro eram os ex-dirigentes da Petrobras Paulo Roberto
Costa, Renato Duque e Pedro Barusco.
Fonte: Eduardo Militão – Foto:
Breno Fortes/CB/D.A.Press – Correio Braziliense