Controlar os atritos constantes entre as polícias Militar e
Civil será uma das principais missões do futuro integrante do primeiro escalão.
Aliados defendem a indicação de um nome ligado ao PSB nacional
O governador Rodrigo Rollemberg deve anunciar esta semana o
nome do novo chefe da pasta de Segurança Pública. Especialistas defendem que o
cargo tenha mais poder e autonomia para garantir o sucesso do combate à
criminalidade
Depois da queda de braço entre o secretário de Segurança
Pública, Arthur Trindade, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel
Florisvaldo César, que levou à crise na área e à saída do chefe da pasta, a
escolha do novo secretário vai exigir muito diálogo com a cúpula das polícias.
Insatisfeitos com as relações que o sociólogo Arthur Trindade mantinha com as
corporações, representantes do setor pressionam o chefe do Executivo a nomear
alguém que, como eles definem, “conheça a segurança pública e saiba integrar as
instituições”.
Apesar
das críticas internas, especialistas elogiam o trabalho desenvolvido pelo
acadêmico e apontam para a dificuldade estabelecida pela Constituição Federal.
A lei determina que as corporações devem responder ao chefe do Executivo local,
e não ao secretário. O novo espaço a ser preenchido no primeiro escalão surge
em um momento problemático para Rodrigo Rollemberg. As negociações com os
sindicatos na tentativa de pôr fim às greves, criticadas até por integrantes do
PSB-DF, continuam nesta semana. Apesar de a sinalização de pagamento retroativo
acalmar algumas categorias, médicos, professores e agentes de trânsito
continuam de braços cruzados. Na Câmara Legislativa, projetos de lei para
aumentar a arrecadação, considerados pelo GDF como fundamentais para pagar
salários e reajustes, repousam nas comissões, pois os distritais obstruem a
pauta. Há acordo, inclusive, para não votar nada do Executivo amanhã. Em meio a
todo o cenário, o socialista terá que dar atenção redobrada a um setor que
apresentava bons resultados durante este primeiro ano de gestão. O número de
homicídios, por exemplo, caiu 14% em 2015. Diante das dificuldades de
agradar tanto à Polícia Civil quanto à Polícia Militar e com a dificuldade de
encontrar nomes do DF, Rollemberg pode nomear alguém ligado ao PSB nacional, de
preferência algum profissional oriundo de Pernambuco, onde o Pacto pela Vida
trouxe bons resultados.
Na visão
do coronel José Vicente da Silva Filho, ex-secretário Nacional de Segurança
Pública, Rollemberg deve se espelhar ainda mais no ex-governador pernambucano
Eduardo Campos (PSB, morto em 2014), principal influência do programa
governamental Viva Brasília com o Pacto Pela Vida. “Não consigo imaginar um
perfil de secretário enquanto as polícias tiverem excessiva autonomia.
Rollemberg deve seguir o exemplo do correligionário dele, Eduardo Campos, e se
reunir pelo menos uma vez por mês com os comandantes das corporações”,
comparou. Para o especialista, o chefe do Executivo não deveria ter recebido
uma representação de coronéis da Polícia Militar em casa. “O trabalho do Arthur
era positivo. Rollemberg demonstrou fraqueza e falta de autoridade. Ele tinha
que receber somente o secretário, transformá-lo em um protagonista, tentar dar
prestígio e condições para um trabalho continuado”, disse. E concluiu: “O
comandante Florisvaldo César mostrou insubordinação e deveria ser substituído.
Rollemberg precisa recomeçar do zero.”
"O chefe da pasta precisa entender que secretário de Segurança Pública não manda” (Jair Tedeschi, coronel e presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da PM e dos Bombeiros)
Os elogios ao trabalho de Trindade são parte do
discurso da professora do curso de segurança pública da Universidade Católica
de Brasília (UCB) Marcelle Figueira. Para a docente, o novo secretário deve
priorizar o Viva Brasília. “Não devemos pensar em bons profissionais
operacionais como bons gestores. Uma gestão de excelência é feita com
diagnósticos e resultados. É necessário formular uma política distrital de
segurança pública. Encontrar brechas, ser criativo e dar mais poder ao
secretário por meio de decretos”, afirmou. Segundo a docente, porém, Rollemberg
“retirou o capital político da secretaria”. “Não adianta trazer alguém com
excelente perfil, caso não dê poder à pasta”, disse.
Sem forasteiros
Enquanto o GDF procura um novo chefe para a pasta, a afirmação de que o secretário de Segurança é “uma rainha da Inglaterra”, feita por Arthur Trindade, repercute. “O chefe da pasta precisa entender que secretário de Segurança Pública não manda”, afirmou Jair Tedeschi, presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da Polícia Militar do Distrito Federal e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (Assor-DF). “A palavra-chave para o cargo é coordenação. O secretário precisa ser alguém do DF e que saiba integrar as forças. É necessário ter trâmite nas corporações — e é aí onde o Trindade mais pecava”, avaliou o coronel e também ex-secretário de Segurança Pública do DF.
Mais enfático que Tedeschi, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, diz que a figura de um secretário de Segurança é “desnecessária”. “As corporações têm autonomia e respondem diretamente ao governador”, disse. Para conseguir ter sucesso na função, segundo o sindicalista, o escolhido deve ter a garantia de algum poder pelo chefe do Executivo. E um perfil diferente de Trindade. “É preciso ser alguém com liderança, comando e proximidade com o ramo”, listou. “Arthur é estudioso, mas a prática é outra. Precisa ser alguém que conheça como funciona, que ouça as instituições e saiba o que os policiais pensam”, ressaltou.
Sem forasteiros
Enquanto o GDF procura um novo chefe para a pasta, a afirmação de que o secretário de Segurança é “uma rainha da Inglaterra”, feita por Arthur Trindade, repercute. “O chefe da pasta precisa entender que secretário de Segurança Pública não manda”, afirmou Jair Tedeschi, presidente da Associação dos Oficiais da Reserva Remunerada e Reformados da Polícia Militar do Distrito Federal e do Corpo de Bombeiros Militar do Distrito Federal (Assor-DF). “A palavra-chave para o cargo é coordenação. O secretário precisa ser alguém do DF e que saiba integrar as forças. É necessário ter trâmite nas corporações — e é aí onde o Trindade mais pecava”, avaliou o coronel e também ex-secretário de Segurança Pública do DF.
Mais enfático que Tedeschi, o presidente do Sindicato dos Policiais Civis do Distrito Federal (Sinpol-DF), Rodrigo Franco, diz que a figura de um secretário de Segurança é “desnecessária”. “As corporações têm autonomia e respondem diretamente ao governador”, disse. Para conseguir ter sucesso na função, segundo o sindicalista, o escolhido deve ter a garantia de algum poder pelo chefe do Executivo. E um perfil diferente de Trindade. “É preciso ser alguém com liderança, comando e proximidade com o ramo”, listou. “Arthur é estudioso, mas a prática é outra. Precisa ser alguém que conheça como funciona, que ouça as instituições e saiba o que os policiais pensam”, ressaltou.
Fonte: Guilherme Pera - Correio Braziliense - Fotos: Guilherme Pera - Carlos Moura/CB/D.A.Press - Monique Renne/CB/D.A.Press.