A uma certa distância, o Lago Paranoá parece bem.
Mas basta uma análise um pouco mais detalhada, in loco, para se ter ideia da
degradação ambiental feita pelo homem: lixo (dentro e fora da água), árvores
derrubadas, áreas descampadas e solo pobre são apenas alguns exemplos que
levaram integrantes da Associação Ocupe o Lago a tomar uma atitude. Durante o
fim de semana, mais de 200 voluntários sacrificaram o descanso para dar um “dia
de beleza” ao ponto turístico mais importante da capital. Além do plantio de
150 mudas de árvores típicas do cerrado na Eco Quebra da 13 (reserva ambiental
localizada na QI 11/13, ao lado do Hospital Sarah Kubitschek), o grupo tirou
dejetos da beira do lago enquanto mergulhadores trabalharam na coleta de lixo
dentro d’água. O ato está em sua segunda edição e faz parte do projeto Bosque
do Atleta.
O professor e bancário Marcelo Ottoni, 36 anos,
presidente do Movimento Ocupe o Lago, explica que o evento vai além da
recuperação florestal: a ideia é que as pessoas criem um vínculo afetivo com a
região. Ottoni, que se considera “um ambientalista desde criança”, diz que seu
principal objetivo é promover o uso sustentável do ambiente. “Uma das formas de
fazer isso é recuperando as áreas degradadas e trazendo as pessoas para
conhecerem o lago”, completa. “O lago antes era poluído, não é mais. Então,
aquela cultura de que não se pode utilizar o lago já caiu por terra há muito
tempo.” Ele mesmo é um usuário assíduo do espaço: canoa havaiana, caiaque e
natação são só alguns esportes praticados por ele nas águas do mar candango.
O movimento surgiu em 2013, com a ideia de se fazer
um grande ato em defesa do Lago Paranoá no Dia Mundial da Água. Depois desse primeiro
evento, interessados em levar o projeto adiante começaram a pipocar. “Hoje,
somos uma associação com voz ativa em assuntos relacionados ao Lago Paranoá”,
completa Ottoni. “A crise hídrica está aí para servir de alerta. Se a gente não
intervir agora, no futuro, vamos sofrer muito.” Leandro Casarin Dalmas, 37
anos, é administrador interino do Lago Norte e do Varjão. Ele calcula que, nos
últimos três anos, os voluntários já plantaram mais de 700 mudas. “Temos um
viveiro da administração com mais de 15 mil mudas e estamos disponibilizando
para o plantio em áreas de nascente e em locais desmatados”, completa.
O grupo Ocupe o Lago quer recuperar a vegetação do local
Preservação
Segundo Leandro Dalmas, o plano
é aproveitar ao máximo a época das chuvas para realizar os multirões de
plantio. Assim, as mudas terão mais chances de se fixar definitivamente no solo
— e de sobreviver à seca do ano que vem. “Começamos a plantar há mais ou menos
um mês, quando as primeiras chuvas começaram”, detalha. O ato, além da
preocupação óbvia com o ecossistema do lago, tem como objetivo criar uma
cultura de preservação do meio ambiente. Para isso, os organizadores apostam em
workshops voltados para crianças. “Temos ações aos fins de semana com a
comunidade e, durante a semana, com escolas. Levamos os meninos para conhecer o
viveiro e explicamos como a semente vira muda e quando pode ser plantada.”
Maria Clara Martins, 10 anos, e as irmãs Ana Clara e Ana
Carolina Braga Zamarian, 9 e 5 anos, participaram dos dois dias de evento. Com
mãos, braços, roupas e pernas sujas de terra, as meninas tiveram as primeiras
noções sobre a importância da preservação ambiental. “Com o que está
acontecendo hoje em dia, corremos o risco de não termos mais água e comida.
Vamos precisar da vegetação nativa e da água”, comentou Maria Clara. Para Ana
Clara, o dia teve jeitão de brincadeira. “Aqui, tem muitas atividades
produtivas. As pessoas ajudaram a tirar o lixo do lago, outras incentivaram a
gente a aprender. Achei muito divertido”, avaliou.
A
publicitária Letícia Queiróz, 37 anos, faz parte do movimento Ocupe o Lago há
cerca de oito meses. A partir dos posts do grupo no Facebook, ela se interessou
pelas atividades e resolveu comparecer a uma reunião, para saber mais sobre os
objetivos dos participantes. Nunca mais parou de ir. Para ela, a quantidade
sempre crescente de interessados no projeto é um misto de orgulho e surpresa.
“No primeiro dia, tivemos uma participação muito legal. Com isso, a gente vê
que as pessoas estão se conscientizando, querendo preservar a natureza e
preocupadas com o meio ambiente.”
Por: Claudia Chaves – Fotos: Ana Rayssa-Esp/CB/D.A.Press –
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