O Risofloras é engajado em
trabalhos sociais e no poder das mulheres
Camila Siren desenha sua
própria personagem em muros pela cidade
Coletivos de grafite formados apenas por mulheres ainda são
minoria, mas já começam a chamar a atenção
Os muros
de Brasília deixaram de ser brancos e cinza e passaram a ser coloridos pelos
grafites dos artistas da capital. Os desenhos que trazem cor às ruas da cidade
são muitas vezes assinados por homens e, raramente, por algumas mulheres. Há,
entretanto, grupos de grafite formados somente pelas meninas que buscam levar
arte e crítica social por meio de suas pinturas.
O
coletivo Risofloras, formado por Veronica Pires, Camila Leite e Edilene Colado,
é um deles. As meninas de 19, 20 e 28 anos, respectivamente, integram um dos
únicos coletivos inteiramente formados por mulheres no grafite em Brasília. Nas
artes do Risofloras, as garotas reivindicam a força das mulheres. “O Risofloras
segue a linha de empoderamento feminino. A gente pinta para reivindicar a força
da mulher”, disse Camila Leite, estudante de artes plásticas na Universidade de
Brasília.
A
ausência das mulheres no meio é explicada pelo fato de o grafite ainda ser
visto como vandalismo. “Por isso temos dificuldade em sair para as ruas para
pintar. Algumas meninas sentem medo. Elas têm o trabalho, mas não mostram
porque não é seguro”, diz Camila.
Camila
Siren também trabalha com a arte de rua, porém, sozinha. A grafiteira de 18
anos está na carreira há 2 anos e concorda que ainda há poucas mulheres no
meio. “Isso ocorre por um fator social. Muitas meninas deixam de pintar, ou até
mesmo experimentar, pela insegurança que sentem sozinhas nas ruas.” Siren conta
que leva de 40 minutos a 1 hora para fazer uma pintura. “Esse tempo todo fico à
deriva de qualquer perigo.”
Entretanto,
Siren acredita que a quantidade de mulheres no meio está aumentando. “Cada vez
mais, aparecem garotas tirando os desenhos do papel e colocando na parede.”
Segundo ela, o preconceito com o grafite vem da origem dessa arte, que surgiu
nos guetos e era um ato de vandalismo. Somente depois essa arte urbana foi para
galerias e museus.
Origem do grafite
O grafite
surgiu no Império Romano, mas só ganhou força no Bronx, em Nova York, na década
de 1970, como forma de manifestação artística. É um movimento das artes
plásticas em que o artista usa a arte para interferir na cidade usando espaços
públicos e manifestando indignação social por meio de pinturas nos muros. O
principal nome na arte urbana é Jean-Michel Basquiat (1960-1988), conhecido
como o primeiro grafiteiro de Nova York. Basquiat começou a pintar os muros em
1977 e em 3 anos já havia se tornado um artista reconhecido que revolucionou o
modo de ver a arte nos Estados Unidos e no mundo, proporcionando maior
visibilidade ao grafite, que ganhou status de arte. Ainda hoje Basquiat é uma
referência para os artistas de rua.
Fonte:
Correio Braziliense – Coluna “Diversão & Arte” – Fotos: Rodrigo
Zago/Divulgação – Marcelo Fereira/CB/D.A.Press.