O Aedes aegypti não é novidade entre nós. Todos os
anos, especialmente no verão, ele ganha espaços generosos na mídia. As chuvas
do período contribuem para multiplicar os criadouros do mosquito. Trata-se,
pois, da crônica da morte anunciada. Por que, então, faltaram medidas
preventivas aptas a evitar que o quadro assumisse as dimensões que assumiu?
Este ano registrou a mais grave epidemia de dengue
do país. Até agora, o Ministério da Saúde contabilizou nada menos de 1,5 milhão
de casos, dos quais 811 levaram a óbito. As cifras alarmantes vieram
acompanhadas de informação trágica. Trata-se da chegada do vírus zika, que,
além do presente, compromete o futuro da nação. Estima-se em 500 mil o número
de contaminados por ele.
Os estragos do zika vão além da febre e das manchas
no corpo. Confirmou-se a suspeita da relação dele com o nascimento de bebês com
microcefalia. Mulheres grávidas que se contaminam do vírus ficam com a espada
de Dâmocles sobre a cabeça. Candidatam-se a engrossar o exército de brasileiros
que terá o desenvolvimento mental comprometido.
É tal o ritmo de crescimento do agente infeccioso
que, em uma semana, os dados oficiais mostraram salto de 41%. O número passou
de 1.248 para 1.761 casos. Vale lembrar a subnotificação tanto por parte de
pessoas quanto de municípios, o que autoriza inferir situação mais explosiva. O
quadro impõe ações em duas frentes. De um lado, o de prevenir. De outro, o de
remediar.
“Se vem para matar, não deve nascer”, diz
propaganda veiculada na televisão. Nada mais certo. O desafio é impedir a
reprodução do Aedes aegypti. Implica eliminar larvas, identificar focos e
prevenir a reprodução. Trata-se de guerra que exige a mobilização da sociedade.
Cada cidadão deve cuidar do próprio quintal. Não só. Deve fiscalizar o quintal
do vizinho. Água parada e lixo são os primeiros inimigos a serem combatidos.
Cabe ao Estado e à sociedade organizada arregaçar
as mangas para conseguir a adesão popular. Campanhas de esclarecimento precisam
fazer parte do dia a dia do cidadão. Sem a participação efetiva de adultos e
crianças, perdem-se as batalhas. Mais: deve-se, desde já, ampliar a rede de
assistência às grávidas e aos microcéfalos. Eles têm de ter à disposição
programas de reabilitação para que o mal lhes cause menos prejuízo possível.
Não só. A casa arrombada exige mais do que tranca
na porta. Exige aceleração do ritmo da burocracia. A Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa) tem de acelerar os estudos necessários à
liberação dos mosquitos transgênicos. Em situação de guerra, convocam-se
exércitos próprios e exércitos aliados. Não há tempo a perder.
Fonte:
Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google