Curioso notar, nos traços de personalidade da
presidente Dilma, comportamento singular para pessoa envolta por enormes
turbulências provocadas pelo processo de impeachment. Na opinião daquelas
pessoas que em algum momento conviveram com ela, Dilma nunca escondeu seu
caráter voluntarista, com fortes doses de arrogância, próximas da mais pura
falta de educação. Esse comportamento, pouco amistoso e desconfiado, granjeou
ao longo do mandato um sem número de desafetos, em variados graus de
descontentamento. Diferentemente da personalidade vaselina e escorregadia de
Lula, para quem todos têm um preço, e de Fernando Henrique, para quem a melhor
arma está no diálogo diplomático estilo professoral, Dilma tem talento nato
para espantar as pessoas à sua volta, com grosserias e mandonismos semelhantes
aos de uma criança mimada e birrenta.
Para alguns desses muitos destratados
pela presidente, o comportamento grotesco de Dilma parece ter se originado lá
trás, quando experimentou overdoses de tortura pelo aparelho de Estado. Nesse
ponto, psicólogos são unânimes em admitir que sessões de torturas, como as
sofridas pela presidente, têm a capacidade de deflagrar mecanismos internos de
autodefesa duradouros, que, em algum instante da vida, afloram com mais
intensidade, criando espécie de armadura externa e permanente, provocando na
pessoa estado latente de sobreaviso com relação a todos em volta.
Especialistas no assunto concordam
que dentro da sintomatologia desses casos, existe sim a ocorrência de patologia
específica, originada do processo traumatizante de demolição da pessoa em seus
valores e convicções básicas. A vítima de tortura experimenta ainda espécie de
desorganização, conhecida como esvaziamento narcisista, em que sua identidade e
história são arrancadas de forma traumática, deflagrando nela um tipo de
interiorização do terror ou de ferida aberta, sempre pronta para sangrar.
No caso do Brasil, em que o regime
presidencialista ainda não se livrou das origens históricas, e por isso mesmo é
exercido de forma quase imperial, com absoluta concentração de poderes,
qualquer comportamento psicológico do chefe do Executivo que foge ao padrão
geral se reflete imediatamente na cadeia de comando, com resultados sempre
inesperados e insólitos.
Inconscientemente, ou não, a
performance da presidente Dilma à frente do Executivo reflete em maior ou menor
grau as experiências sofridas ainda na época da militância clandestina. O pior
nesse caso é que os torturados agora são os milhões de brasileiros que sofrem
com um governo caótico e que terão, por décadas, de recolher os cacos todos
dessa loucura.
A frase que foi pronunciada:
"A honra nacional é uma espingarda carregada."
(Émile-Auguste
Chartier)
Por:
Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense –
Foto/Ilustração: Blog - Google