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#TRÂNSITO » Menos mortes, mais flagrantes de embriaguez

Para especialistas, o aumento das blitzes teve relação direta com a redução dos acidentes fatais: mais de 13 mil motoristas flagrados por álcool

Se, por um lado, o número de pessoas que perderam a vida nas vias do DF foi o menor em 15 anos, por outro, a quantidade de motoristas dirigindo alcoolizados registrou recorde. Os homens representam a grande maioria entre os infratores

No ano em que o Departamento de Trânsito do DF (Detran-DF) registrou o menor número de mortes no trânsito nos últimos 15 anos, outro recorde também foi quebrado: o de maior número de autuações por embriaguez ao volante. No total, 13.881 motoristas habilitados acabaram flagrados bêbados pelas ruas da cidade — quantidade histórica na capital federal. E a amostragem por sexo revela ainda que os homens são os maiores infratores. Eles somaram 8.589 motoristas dos pegos alcoolizados, contra 1.285 mulheres autuadas bêbadas — seis homens flagrados para cada mulher. Para especialistas, independentemente de existir mais homens no trânsito — 61% dos habilitados —, a discrepância das infrações traz à tona a tradicional imprudência masculina, que coloca os homens no topo das mortes violentas.

O estudante de arquitetura Raphael Cordeiro, 22 anos, voltava de uma festa quando foi parado em uma blitz na entrada do Guará. Ele mora na cidade, e o flagrante foi na semana passada. O jovem ainda tentou furar o bloqueio policial, mas foi detido pelos agentes. “Não tinha bebido muito, nem bêbado eu estava. Quando vi a blitz, eu me apavorei e tentei fugir. Nunca devia ter feito isso, eu me arrependo”, afirmou. O carro em que Raphael estava foi rebocado para o depósito do Detran e retirado no outro dia por um tio. Na carteira de habilitação, sete pontos adicionados. E, na conta bancária, menos R$ 1.915,40, referentes à multa por dirigir depois de ingerir bebida alcoólica.

Raphael concorda que a bebida está muito mais frequente na rotina dos homens do que na das mulheres. “Eu bebo mais que minhas amigas e familiares. Mulher bebe muito daqueles drinques adocicados, que, às vezes, têm teor alcoólico bem menor”, acredita. Fiscalizar, segundo ele, é uma ferramenta eficaz na prevenção. “Aprendi muito com o meu erro. Hoje, penso duas vezes antes de beber e dirigir. Ter essa consciência é importante, ter fiscalização é importante também, ainda mais em época de festas de fim de ano”, ponderou. O arquiteto está dentro do universo dos 8.589 homens autuados por embriaguez em 2015 — até a semana passada. Eles correspondem a 62,51% dos infratores do DF.

Apesar de serem minoria, as mulheres não escapam. De 626.041 habilitadas, 1.285 (9,13%) caíram na fiscalização do Detran. A bancária Ana Catarina Correia, 27, foi flagrada dirigindo alcoolizada depois de sair de uma festa no Setor de Clubes Sul. Isso foi há quatro anos. Na época, ela foi autuada por infração gravíssima e teve sete pontos na carteira. “Até tentei negociar com o policial, mas não deu certo. Tinha bebido muito e misturado de tudo o que você imaginar”, contou. Ana Catarina acredita que a fiscalização, atualmente, está mais rigorosa. “Hoje, eu não faria de novo. Saio para beber com meus amigos, mas volto de carona ou de táxi”, garante.

Bons resultados
Desde 2000, o DF não tinha um número tão baixo de mortes no trânsito. Antes de 2015, o menor índice foi registrado em 2013, quando o Detran contabilizou 338 mortes. A taxa aceitável pela Organização Mundial da Saúde (OMS), para países em desenvolvimento, é de três mortes por 10 mil veículos. No DF, esse índice, que já foi 7,38, em 2000, chegou, este ano, a 2,08 mortes. Segundo diretor-geral do Detran, Jayme Amorim, as fiscalizações aumentaram e houve um trabalho mais efetivo e integrado entre os órgãos de trânsito. No entanto, ainda há, na sociedade, uma sensação de que nada vai acontecer. “O aumento das autuações está relacionado à intensificação da fiscalização de trânsito. As ações conjuntas do Detran, da PM e do DER têm contribuído para isso, tanto que vimos nos números, mas ainda paira no ar o sentimento de impunidade”, acredita o diretor.

Para Jayme, é cultural o comportamento masculino de beber mais. “Eu acredito que o perfil da mulher seja mais cauteloso. Há um envolvimento menor em termos de acidente. De uma maneira geral, as mulheres demonstram ter um cuidado maior no trânsito, talvez isso também explique”, ponderou. O especialista em trânsito Artur Morais é mais categórico. “Um reflexo disso é o valor do seguro para mulheres. É sempre mais barato do que para um homem, porque a chance de acontecer algo com ele no volante é muito maior, e não é pelo fato de eles serem maioria, mas, sim, por serem mais imprudentes, se arriscarem mais”, enfatizou. Segundo Artur, a diminuição nas mortes, contudo, significa apenas uma coisa: melhor fiscalização. “Teve aumento de agentes do Detran, mais contratações, aumento de blitz, e isso tem relação direta. Você diminui as mortes, mas aumenta as autuações”, explicou.

O diretor-geral do Detran afirmou que os investimentos feitos em 2015 serão os mesmos em 2016. Um dos pontos de trabalho será o Viva Brasília. Uma das determinações do governador Rodrigo Rollemberg é retomar a campanha Paz no Trânsito. “As metas são continuar intensificando as campanhas educativas, a fiscalização de trânsito e outras ações de engenharia, para a gente tentar reduzir o risco de acidentes”, finalizou.

Homicídios
A Secretaria da Segurança Pública e da Paz Social informa que, entre janeiro e novembro deste ano, 560 pessoas foram vítimas de homicídio no Distrito Federal, apontadas em 548 ocorrências registradas na Polícia Civil. Desse total de vítimas, 52 eram do sexo feminino, o que representa 9,3% dos casos, e 508 eram do sexo masculino (90,7%). Em todo o ano de 2014, foram 714 vítimas de homicídio. Entre essas vítimas, 49 eram do sexo feminino (6,9%) e 665 do sexo masculino (93,1%).

O que diz a lei - Tolerância zero

2008

A Lei Federal nº 11.705, de 19 de junho de 2008, fixou a tolerância zero para quem dirige alcoolizado. E estabeleceu que os flagrados com 0,3mm de álcool por litro de ar expelido dos pulmões cometeriam crime, eram presos e processados. O infrator pagava multa de R$ 957,70 e tinha o direito de dirigir suspenso por um ano.

2012
A Lei Federal nº 12.760, de 20 de dezembro de 2012, manteve a tolerância zero e, no caso de flagrante, além do índice de álcool, especificou como prova sinais que indiquem alteração na capacidade psicomotora, assim como imagens, vídeos e depoimentos de testemunhas para caracterizar o crime.
 
"A multa passou a ser de R$ 1.915,40, além da suspensão do direito de dirigir por um ano. Outra novidade foi a aplicação da multa em dobro para quem é pego duas vezes em menos de um ano."



Fonte:Camila Costa – Laura Tizzo – Especial para o Correio Braziliense – Foto: Monique Renne?CB/D.A.Press

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