Suspeitas ocorreram durante a administração de Agnelo e Filippelli, em
2014
Mensagens interceptadas pela PF mostram que houve suposto tráfico de
influência em repasses do GDF para construtora responsável pelas obras no BRT
Sul. Nome de Tadeu Filippelli também aparece nos contatos entre ex-ministro e
empreiteiro
Depois de ser alvo de seis ações de improbidade
administrativa ajuizadas pelo Ministério Público do Distrito Federal em 2015, o
ex-governador Agnelo Queiroz pode ter muita dor de cabeça com a Operação
Lava-Jato este ano — sobraria até para o ex-vice do petista, Tadeu Filippelli
(PMDB). Além da delação premiada de executivos da Andrade Gutierrez envolvendo
a construção do Estádio Nacional de Brasília, repasses para obras de mobilidade
no DF foram citados em outras denúncias relacionadas à operação. Os recursos
tiveram como destino a construtora OAS, responsável pelas obras do BRT Sul. Só no
ano passado, o GDF pagou R$ 109,6 milhões à empreiteira para o sistema viário
nas regiões do Gama e Santa Maria.
O ex-ministro da Previdência Social Carlos Gabas
aparece em diálogos interceptados por investigadores da Lava-Jato, em conversas
com o empresário Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, sobre as obras da empresa
no DF. Segundo matéria publicada pelo Estado de São Paulo, Gabas teria
intermediado negócios da empreiteira com o GDF em 2014, durante a gestão de
Agnelo Queiroz. Nos diálogos entre Gabas e Pinheiro, também surge o nome de
José Lunguinho Filho, diretor da OAS Defesa. “Amigos, não deu para o Lunguinho lhe
ver. Abaixo, a nossa agonia”, diz Pinheiro, por mensagem, antes de citar “as
principais pendências” que envolviam as obras do BRT Sul.
Em outras conversas entre os dois, são citados
pagamentos em MM, o que quer dizer milhões, do Executivo local à construtora.
“Contrato: solicitar ao GDF (Casa Civil e Secretaria de Transporte) a aprovação
do 7º Termo Aditivo e a respectiva reprogramação (R$ 60 MM), junto à CEF (Caixa
Econômica Federal). Última medição recebida foi referente ao mês junho/14.
Saldo financeiro do contrato após este recebimento = R$ 90 MM — Recursos:
Empenhar e pagar — R$ 30 MM da fonte 100 do GDF (contrapartida) desbloquear e
pagar — R$ 60 MM do convênio de empréstimo junto à CEF. Grande abraço, Leo”,
codifica.
Cinco horas depois da mensagem, ela foi respondida
por um número atribuído a Gabas. “Ok. Cuido aqui”, teria dito o ex-ministro. Em
diálogo de Pinheiro com Lunguinho, aparece o ex-vice-governador Tadeu
Filippelli (PMDB). Na troca de recados, em março de 2013, é citada uma reunião
com o peemedebista, identificado como TF. Atualmente, Gabas é secretário
especial da Previdência Social. Ele é um dos homens mais próximos da presidente
Dilma Rousseff (PT) no governo federal. A proximidade dos dois ficou evidente
quando, em 2013, Gabas deu uma carona para Dilma na garupa de uma motocicleta.
A defesa de Agnelo Queiroz afirmou que “não tem
condições de emitir nenhum comentário a respeito sem o prévio conhecimento do
teor das gravações, das perícias feitas pela polícia”. A assessoria de
Filippelli disse que, “por ele ter o nome citado em conversas de outras
pessoas, por não estar envolvido diretamente, ele não irá se manifestar a
respeito”. Gabas negou qualquer irregularidade.
Obras para mobilidade
O consórcio que construiu o BRT Sul era formado
pelas construtoras OAS, Andrade Gutierrez e Via Engenharia. A obra faz parte de
um pacote de projetos de mobilidade anunciados para a Copa do Mundo de 2014 e
foi inaugurada na época da competição. São 43km, sendo 35km com faixas
exclusivas, que ligam Brasília à Santa Maria e ao Gama. A obra começou em 2011
e custou, ao todo, R$ 785 milhões — R$ 224 milhões saíram dos cofres do GDF e a
Caixa Econômica Federal financiou o restante.
Fonte: Helena Mader – Matheus
Teixeira – Foto: Janine Morais/CB/D.A.Press – Correio Braziliense