"As pessoas precisam perceber que a tesourinha
alagada na época das chuvas, por exemplo, não existia antes. Se acontece hoje,
é por culpa nossa"
O presidente da Adasa, agência responsável pelo Fórum Mundial de Águas, conta como o evento discutirá um dos principais temas da atualidade
A oitava edição do Fórum Mundial de Águas, maior conferência do planeta sobre o assunto, terá Brasília como sede. Responsável pela organização, a Agência Reguladora de Águas, Energia e Saneamento Básico (Adasa) discute os preparativos para o evento, previsto para abril de 2018. Presidente da autarquia desde setembro do ano passado, o biólogo Paulo Salles conta, em entrevista ao Correio, quais são as expectativas.
Quais serão os principais assuntos discutidos no fórum?
Saneamento básico, poluição da água, mudanças climáticas e
sustentabilidade são temas atuais muito fortes. Haverá comissões regionais, nas
quais serão discutidos assuntos específicos de cada continente, e a comissão
política, que terá como foco a legislação nos mais de 150 países participantes
do evento. A intenção é trocar experiências de casos práticos, que funcionam
bem na gestão dos recursos hídricos.
O fórum ganha destaque a cada ano. A primeira edição, em 1997, teve
cerca de 500 participantes. Em 2018, devem ser 40 mil. O interesse pelo
assunto cresce no Brasil, acompanhando o movimento mundial?
Sim, muito. A falta de água abriu os olhos para a importância do tema,
pois ela influencia todas as atividades humanas, inclusive as econômicas. Isso
gera de racionamento a perda de empregos, o que preocupa as pessoas.
Qual será o investimento necessário para a realização do evento?
Estimamos que serão investidos cerca de R$ 130 milhões, contando com
preparação e reuniões anteriores ao fórum. O dinheiro virá de três fontes:
governos federal e distrital, responsáveis por até 50%, e iniciativa privada,
com a outra metade ou mais. A fatia do GDF é a menor. Espera-se contribuição de
10% a 20% do valor (ou seja, até R$ 26 milhões). A contrapartida e os benefícios
trazidos pelo evento certamente cobrirão o gasto.
De que forma os brasilienses se beneficiarão com o evento?
Principalmente com a conscientização, que é o principal objetivo. As
pessoas precisam perceber que a tesourinha alagada na época das chuvas, por
exemplo, não existia antes. Se acontece hoje, é por culpa nossa. Além disso, o
fórum vai trazer novas soluções para os problemas hídricos da cidade. Outro
ponto positivo é alavancar o turismo e os negócios, em especial nos setores de
lazer, bares, restaurantes e hotelaria. Espera-se ter um retorno muito grande
com a visibilidade que Brasília vai ganhar como cidade sustentável.
O lema da 8ª edição do fórum será "Compartilhando água".
De onde saiu a ideia?
Baseou-se na própria legislação de águas brasileiras, a Lei nº
9.344/1997, que enfatiza a ideia de descentralização do controle da água, a
participação da sociedade nessa gestão e a garantia de usos múltiplos dos
recursos, ou seja, todo mundo tem direito de usar, desde que respeite o espaço
dos outros. Todas as discussões do fórum terão esse pano de fundo.
Fonte:
Alessandra Azevedo - Especial para o Correio – Foto: Minervino
Junior/CB/D.A.Press – Correio Braziliense