Não deve ser nada fácil para os estrategistas do
Planalto, o chamado núcleo duro do governo, jogar ao mesmo tempo em duas
frentes antagônicas. Eles fazem o papel de defensor e paladino dos ideais
republicanos em público, para, em seguida, dentro das quatro paredes do
aparelho do PT, buscarem saídas para os muitos companheiros envolvidos em
corrupção.
Enquanto assiste ao despencar dos índices de aprovação do atual governo
e de seu antecessor, a presidente vive situação bipolar. É cobrada pelo partido
que a alçou ao poder e, ao mesmo tempo, tem atrás de si toda uma população a
exigir ética e governança. Como a ninguém é dado servir a dois senhores, fica o
jogo de faz de conta.
À mídia, diz que respeita as decisões da Justiça. Aos companheiros,
promete agir para barrar os efeitos das investigações da Operação Lava-Jato e
congêneres. Enquanto as investidas do Ministério Público e da Polícia Federal
prosseguem, nos bastidores do Planalto, segue a confecção de medidas que buscam
minorar o purgatório das empreiteiras amigas, responsáveis por irrigar os
cofres do partido com centenas de milhões de reais.
Os acordos de leniência, costurados pelo Executivo, prevendo o
restabelecimento de idoneidade das empresas envolvidas nos escândalos anda a
passos largos e os primeiros acertos devem ser fechados na próxima semana. O
mais sensato e republicano seria esperar pelo término das investigações, mas em
se tratando desse governo...
Adiantadas estão também as medidas que visam conceder o perdão, com base
no decreto presidencial do indulto de Natal, aos oito condenados do mensalão,
processo que cabe ao novo ministro do STF, Roberto Barroso, identificado como
simpático ao Planalto. Enquanto hesita entre os seus e o Estado, Dilma começa a
perceber que quem quer agradar a todos não agrada a ninguém, nem a si próprio.
Ao impasse de seu governo se contrapõem os fatos e a realidade crua que
vão empurrando o Brasil para a vala comum, onde estão países como Venezuela e
Argentina, que também desperdiçaram toda uma década, envoltos no quixotesco
sonho de um continente dominado pelo bolivarianismo ou socialismo do século 21,
ou coisa que o valha.
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A frase que foi pronunciada
“O riso é o melhor remédio, mas é mais do que isso. É um conjunto
inteiro de antibióticos e esteroides. O riso diminui o inchaço do estado
psicológico da nossa nação e, depois, lhe aplica um creme antibiótico...
Obviamente, é um desafio fazer uma situação séria leviana, mas antes isso que
chorar.”
(Stephen Colbert)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google