O conselho vem de um estudo feito com 30
voluntários que tinham a doença metabólica. Ao emagrecer em média 14kg, eles
eliminaram gordura do pâncreas e tiveram a produção de insulina normalizada. O
benefício se estendeu por ao menos seis meses
Um estudo da Universidade de Newcastle, nos Estados
Unidos, mostrou que é possível se ver livre do diabetes 2 apenas ajustando a
dieta. A pesquisa, publicada na revista Diabetes Care, acrescenta evidência a
um corpo crescente de trabalhos científicos que defendem a possibilidade de
reverter essa condição crônica com a perda de peso. Isso porque, com a retirada
de gordura do pâncreas, a produção de insulina retorna ao normal. Segundo o
autor do trabalho, Roy Taylor, professor de medicina e metabolismo da
instituição americana, mesmo pacientes que têm a doença há mais de 10 anos
podem se beneficiar.
O diabetes é considerado um mal silencioso. Um em cada 11 adultos sofre
da doença, embora metade deles não saiba disso. Essa condição é causada pela
dificuldade do corpo de diminuir a taxa de glicose do sangue, um processo que,
normalmente, é executado pela insulina. Nos pacientes com diabetes 1, isso é
causado pelo próprio sistema imune, que mata as células beta, produtoras da
substância. Já no caso do tipo 2, a causa é uma disfunção metabólica que
dificulta o trabalho normal do fígado. Em ambas as condições, quando não é
tratada, a doença pode causar cegueira, doença cardiovascular, nefropatia,
neuropatia e até óbito.
Em 2011, um estudo também conduzido por Taylor mostrou que uma dieta com
expressiva redução calórica poderia reverter o diabetes. Como o experimento foi
curto — apenas oito semanas —, não foi possível responder se essa mudança era
de longo prazo. Agora, 30 voluntários com diabetes 2 embarcaram na mesma dieta
de 600 a 700 calorias diárias. Em média, os participantes perderam 14kg e, após
seis meses, nenhum havia recuperado o peso. O grupo incluiu pessoas
diagnosticadas em um período de oito a 23 anos.
De forma geral, 12 pacientes que tinham diabetes há menos de 10 anos
conseguiram reverter completamente a condição, de imediato. Seis meses depois,
continuavam livres da doença. Taylor esclarece que eles ainda tinham sobrepeso
ou obesidade, mas perderam peso suficiente para remover a camada de gordura do
pâncreas que inibia a produção normal de insulina. “O que vimos foi que é
possível reverter o diabetes, mesmo que você tenha a doença há muito tempo, por
volta de 10 anos. E, mesmo se for diagnosticado há mais tempo, não desista. É
possível melhorar o controle de açúcar no sangue”, afirma o médico. “O estudo
também respondeu a uma pergunta que sempre me fazem: ‘Se eu perder peso e
mantiver essa perda, ficarei livre do diabetes?’. A resposta é sim!”,
empolga-se.
Mesmo obesos
De acordo com Taylor, o fato de todos os
voluntários terem se mantido obesos ou com sobrepeso e, ainda assim, produzirem
insulina normalmente suporta a Teoria da Gordura Pessoal Limiar. “Se uma pessoa
ganha mais peso do que pode tolerar individualmente, isso deflagra o diabetes,
mas, se perde a quantidade de peso necessária, ela volta ao normal”, defende.
“A quantidade de peso que alguém pode carregar sem afetar seu metabolismo é
algo muito pessoal. Setenta por cento de obesos mórbidos, por exemplo, não têm
diabetes. A lição aqui é que, se a pessoa realmente quer se ver livre dessa
doença, ela pode perder peso, manter essa perda e voltar ao normal. Essa é uma
ótima notícia para pessoas que estão muito motivadas a ficar livres do
diabetes 2. Mas é muito cedo para recomendar isso para todo mundo. Precisamos
de estudos maiores”, afirma Talyor. A equipe trabalha em um novo experimento
com 280 voluntários.
Allan Tutty, 57 anos, participou da primeira pesquisa e comemora o fato
de ter se livrado do diabetes. “Fui diagnosticado em maio de 2011 durante um
exame de rotina. Minha família e eu nem acreditamos, porque eu não tinha
sintomas físicos”, conta. “Mas, embora eu não me sentisse gordo, eu estava
gordo — por dentro. Vi um exame do meu fígado e dá para visualizar a gordura
por volta dele”, afirma.
Ao longo de oito semanas, Tutty entrou em uma dieta de 800 calorias
diárias. “Foi muito difícil, principalmente no Natal e no ano-novo, mas eu
estava determinado a completar o programa. O benefício para mim foi maior que o
esforço”, diz o homem, que, em dois meses, perdeu 16kg. Desde então, seu
pâncreas tem trabalhado normalmente. Ele diz que não se priva de nenhum
alimento, mas come menos do que antes. “Gosto de fast-food e de chocolate, mas
não como essas coisas com frequência. Então, mantive meu peso mais baixo. Foi
uma mudança radical de estilo de vida. De fato, minha vida mudou completamente,
graças a essa pesquisa”, diz.
40%
Porcentagem dos participantes do estudo que conseguiram reverter
imediatamente o problema metabólico quando emagreceram
Avanço mundial
Em todo o mundo, calcula-se que 400 milhões de pessoas vivam com
diabetes, com um rápido aumento de incidência projetado. A Federação
Internacional de Diabetes estima, para 2030, um total de 552 milhões de
pacientes. No Brasil, conforme o Ministério da Saúde, a doença acomete 9
milhões — o equivalente a 6,2% da população adulta. Apesar de ter componentes
associados ao estilo de vida — e a obesidade é um deles —, a doença, tanto a
tipo 1 quanto a 2, também tem uma forte base genética.
Fonte: Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google