"Essa divisão que tomou conta do país não foi
feita por nós. Como responsáveis pela segurança, tivemos de tomar providências
para que as pessoas pudessem se manifestar livremente sem problemas e foi o que
aconteceu" "É claro que o fato de a admissibilidade produzir o
afastamento imediato da presidente criará dificuldades para o seu retorno. No
entanto, como temos um ambiente de muita instabilidade, qualquer previsão seria
muito arriscada"
Brasília chega hoje aos 56 anos
num momento mais tranquilo para Rodrigo Rollemberg (PSB), em seu segundo ano de
mandato, mas num turbilhão político nacional na Praça dos Três Poderes. Por
isso, a principal missão do governador do Distrito Federal no momento é ajudar
a criar um clima de paz entre os moradores da capital.
Em uma entrevista ao Correio, Rollemberg fala sobre a polêmica divisão de grupos pró e contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff nas manifestações do último domingo. Uma separação que ele rejeita ser tratada como muro. O governador conta que a ideia considerada polêmica saiu da sua própria cabeça e foi colocada em prática pelas forças de segurança. Pela tranquilidade com que os protestos ocorreram no último domingo, ele acredita que tomou a decisão certa. A depender do ambiente nas votações do impeachment no Senado, as divisórias devem retornar à Esplanada.
Sobre o futuro de Dilma Rousseff, Rollemberg acredita na aprovação da admissibilidade do processo de impeachment, o que levará ao afastamento da presidente do cargo. Quando o assunto é a possível delação premiada do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que teria arrecadado dinheiro de corrupção para bancar a chapa adversária à sua em 2014, Rollemberg desconversa. “Isso é assunto para a Justiça”, diz.
O governador confessou, ainda, que no primeiro ano de gestão atuou internamente e destacou a intenção de ir agora mais para a rua. “Foi muito importante esse olhar (para dentro do governo), esse controle do gasto, essa estratégia de ampliação da receita, mas tenho convicção de que agora nós devemos governar mais para fora”, ressaltou. Negou, no entanto, estar trabalhando num projeto de reeleição. “Estou muito concentrado na perspectiva de ser um bom governador e entregar uma cidade melhor do que recebi. E para ser um bom governador é fundamental estar em contato com a população”, frisou.
Em uma entrevista ao Correio, Rollemberg fala sobre a polêmica divisão de grupos pró e contra o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff nas manifestações do último domingo. Uma separação que ele rejeita ser tratada como muro. O governador conta que a ideia considerada polêmica saiu da sua própria cabeça e foi colocada em prática pelas forças de segurança. Pela tranquilidade com que os protestos ocorreram no último domingo, ele acredita que tomou a decisão certa. A depender do ambiente nas votações do impeachment no Senado, as divisórias devem retornar à Esplanada.
Sobre o futuro de Dilma Rousseff, Rollemberg acredita na aprovação da admissibilidade do processo de impeachment, o que levará ao afastamento da presidente do cargo. Quando o assunto é a possível delação premiada do ex-senador Gim Argello (PTB-DF), que teria arrecadado dinheiro de corrupção para bancar a chapa adversária à sua em 2014, Rollemberg desconversa. “Isso é assunto para a Justiça”, diz.
O governador confessou, ainda, que no primeiro ano de gestão atuou internamente e destacou a intenção de ir agora mais para a rua. “Foi muito importante esse olhar (para dentro do governo), esse controle do gasto, essa estratégia de ampliação da receita, mas tenho convicção de que agora nós devemos governar mais para fora”, ressaltou. Negou, no entanto, estar trabalhando num projeto de reeleição. “Estou muito concentrado na perspectiva de ser um bom governador e entregar uma cidade melhor do que recebi. E para ser um bom governador é fundamental estar em contato com a população”, frisou.
"Sinceramente, não vejo possibilidade hoje de o Congresso Nacional
aprovar uma proposta dessa (eleições diretas) em tempo hábil de se realizar uma
eleição até o fim do ano""Tenho uma avaliação que nesses primeiros 15
meses governei muito para dentro do governo, mas tenho convicção de que agora
nós devemos governar mais para fora"
O muro virou um símbolo da divisão do país. Vai continuar para as
próximas fases do impeachment no Senado?
A divisória que colocamos na Esplanada foi um instrumento para garantir
a livre manifestação das pessoas, a integridade delas e do patrimônio público.
Mostrou-se bem-sucedida. Pela primeira vez na história, nós tivemos uma
manifestação de 80 mil pessoas com opiniões divergentes em um ambiente
extremamente radicalizado. O esquema de segurança montado permitiu que as
pessoas pudessem se manifestar livremente com segurança. Essa divisão que tomou
conta do país não foi feita por nós. Nós, como responsáveis pela segurança,
tivemos de tomar providências para que as pessoas pudessem se manifestar
livremente sem problemas e foi o que aconteceu.
E vai continuar?
Provavelmente,
sim. Se a expectativa para a votação no Senado for de um número grande de
pessoas, com opiniões divergentes, em um ambiente de pouca tolerância política,
como estamos vivendo, devemos manter todo o esquema de segurança que foi muito
bem-sucedido.
O senhor já foi senador e conhece bem aquela Casa. Acha que eles
vão optar pela continuidade do processo?
É
provável que sim. Vai depender muito do momento que se der a primeira votação.
São dois momentos: o primeiro é o da admissibilidade da continuidade do
processo, e nesta fase é preciso apenas de 41 votos. Nesse sentido, é muito
provável que o Senado aprove. Em relação ao julgamento propriamente dito, vai
depender muito dos acontecimentos das próximas semanas e dos próximos meses.
Mas é claro que o fato de a admissibilidade produzir o afastamento imediato da
presidente criará dificuldades para o seu retorno. No entanto, como temos um
ambiente de muita instabilidade, qualquer previsão seria muito arriscada.
O senhor conviveu com o ex-senador Gim Argello no Senado. Imaginava
que ele estaria enrolado a ponto de o juiz Sérgio Moro decretar a prisão
dele? Em algum momento, suspeitou que pudesse ter alguma coisa
errada naquela CPI da Petrobras?
Em
relação à CPI da Petrobras, não. Eu tive um momento, digamos assim, com o
senador Gim Argello, em que apresentei um candidato alternativo à sua
candidatura no Tribunal de Contas. Isso acabou inviabilizando a sua ida para o
TCU, mas não tive nenhum conhecimento desses acordos relativos à CPI da
Petrobras.
Esse acordo que levou à prisão do ex-senador Gim Argello financiou
uma candidatura de toda uma chapa que concorreu contra a sua na campanha
de 2014. Eles tinham muito dinheiro na campanha? Já havia essa suspeita
de que o dinheiro poderia ser fruto de corrupção?
Esse é um assunto da Justiça. Vencemos as eleições com todas as
dificuldades. Tivemos oportunidade, na ocasião, de dizer quais eram os
interesses que estavam representados em cada candidatura, e isso é passado.
Está nas mãos adequadas, que são as mãos da Justiça.
Na sua opinião, Gim tem perfil para fazer uma delação premiada?
O que a
gente está percebendo é que muitas das pessoas envolvidas estão utilizando
desse artifício para obter a redução de pena. Não tenho condições de julgar se
o Gim fará ou não delação.
Um dos presos nessa operação, que é uma etapa da Lava-Jato, Valério
Neves, era o braço direito da presidente da Câmara Legislativa, Celina
Leão (PPS). Ela está fazendo uma campanha grande a favor da Lava-Jato e
contra a presidente Dilma Rousseff . Acha que, de alguma forma, aquela
prisão a constrange?
Essa
pergunta tem que ser feita para a presidente da Câmara. Tem que se conhecer
quais razões levaram à prisão e qual é o envolvimento dele. A versão que tive
conhecimento, e publicada pela imprensa, é de que ele teria ido à empresa para
apontar quais seriam os partidos beneficiários da doação. Não podemos dizer de
antemão que o partido que tenha recebido um recurso de doação de uma empresa
soubesse da origem daquele recurso. Temos de ter muita cautela e, por isso,
considero importante registrar que isso está nas mãos adequadas. Quem tem
condições de avaliar essas questões é a Justiça. Com qualquer prejulgamento,
poderíamos estar cometendo uma injustiça.
Voltando à questão do muro, como foi tomada a decisão de se fazer a
divisão? Como o senhor avalia o resultado desse trabalho?
Previa,
desde o início, que teríamos momentos muito tensos com a situação política no
Brasil. E decidi que a minha maior responsabilidade era garantir que as pessoas
pudessem se manifestar livremente e garantir a integridade física delas e do
patrimônio. Isso me levou a tomar uma decisão que hoje considero correta,
embora tenha sido incompreendida por muita gente — a de que não deveria
explicitar uma posição sobre o impeachment. O fato de não manifestar uma
posição me dava condições melhores de dialogar com os diversos lados buscando
garantir a segurança em um momento muito delicado da história do nosso país.
Houve muita pressão?
Tinha
como grande desafio o dia da votação do impeachment, porque nossa expectativa
era de que tivesse algo em torno de 100 mil pessoas com opiniões diferentes em
um ambiente extremamente radicalizado. Isso poderia resultar em uma confusão
envolvendo centenas de milhares de pessoas. Então, tomamos todas as
precauções. Em determinado momento, depois de um fim de semana muito preocupado
e refletindo sobre isso, convoquei a secretária de Segurança, o comandante da
PM e o chefe da Casa Militar e submeti a eles a ideia de fazer uma divisão no
centro da Esplanada que pudesse comportar de um lado o movimento
pró-impeachment e de outro lado o movimento anti-impeachment. E aí veio a
competência das nossas forças de segurança que desenvolveram essa ideia da
forma mais adequada possível. Nós resistimos a todas as pressões que vieram de
todos os lados no sentido de buscar modificar o nosso protocolo de segurança.
O senhor falou em pressão de todos os lados. Poderia citar quem
mais pressionou?
Da Câmara
dos Deputados, o presidente, Eduardo Cunha, nos solicitou por duas vezes que
liberássemos o gramado em frente ao Congresso. Recebi quatro parlamentares
também fazendo a mesma solicitação e, para todos, disse que era impossível,
pois nós entendíamos que seria muito arriscado deixar concentrar muita gente em
um ambiente tão apertado. De membros do governo federal, o pleito (foi) para
deixar o acampamento do MST permanecer ao lado do Teatro Nacional. E a
gente tinha definido desde o início, em comum acordo com a direção dos
movimentos, que ninguém poderia acampar na área da Esplanada dos Ministérios.
Na véspera, alguns grupos ligados à força sindical e ao movimento
pró-impeachment tentaram fazer. Não deixamos e encaminhados para o Parque da
Cidade. No domingo, foi o grupo dos sem-terra, que, após muito diálogo, nós
conseguimos convencê-lo a fazer a transferência para o Mané Garrincha.
Houve até um desentendimento entre a Força Nacional e a PM...
Houve um
desentendimento pontual porque a Força Nacional entrou em ação para dar
segurança ao movimento sem autorização do Governo de Brasília e ela não poderia
atuar sem a solicitação do governo. Pedi, então, ao comandante da PM para que
fosse ao local e determinasse a imediata retirada da Força Nacional, e assim
foi feito.
A repercussão do muro foi de um símbolo da discórdia nacional.
Isso, de alguma forma, o incomodou?
Tinha
muita segurança de que não havia alternativa melhor que aquela. Estamos vivendo
um ambiente da crítica muito fácil. Ouvi muitas pessoas, algumas até com
responsabilidade e notoriedade, fazendo críticas. Só respondia: “Aponte uma
alternativa melhor”, e nenhuma foi capaz de mostrar uma opção melhor do que
aquela que se mostrou muito bem-sucedida.
Com o resultado que o muro trouxe, esse mesmo modelo pode ser
aplicado em manifestações futuras caso haja um número expressivo de
pessoas em outros protestos na Esplanada?
A gente fez aquilo por necessidade, mas o nosso desejo é que não precise
fazer isso. O nosso desejo é ter uma cidade e um país que as pessoas possam
conviver com opiniões divergentes de forma respeitosa sem se confrontarem nas
ruas. O problema é que tivemos, no dia da posse do ex-presidente Lula (como
ministro-chefe da Casa Civil), uma demonstração do que poderia acontecer se não
tivéssemos tomado essa providência.
Depois, as pessoas entraram em um clima de humor em relação ao
muro...
Achei
muito bacana vários posts que tivemos nas redes sociais, das pessoas regando as
flores, das pessoas jogando vôlei… Foi interessante quando visitei o Centro
Cultural do Conic, ao longo desta semana, e uma menina falou bem assim: “Só não
gostei daquele muro, tira aquele muro”. E respondi: “O que que eu ponho no
lugar?”. Ela falou: “Põe flores”. Eu desejo que, um dia, a nossa cidade seja
assim, mas ainda não é.
Houve um público menor do que o esperado no dia da votação. O
senhor atribui isso ao muro ou ao receio de confronto?
Essa
questão é para ser vista pelos analistas políticos, porque não foi só em
Brasília. Em todas as unidades da Federação, houve um número menor de pessoas,
tanto pró-impeachment tanto contra o impeachment.
No aniversário de Brasília do ano passado, a cidade estava um caos.
Sente -se mais a vontade agora?
Nós
assumimos o Governo de Brasília na pior situação de todas as unidades da
Federação. Salários atrasados, 13º salário atrasado, horas extras atrasadas,
antecipação de férias atrasada. Um rombo de R$ 6,5 bilhões entre dívidas do
governo anterior e buracos no orçamento de 2015, o que nos obrigou a tomar
medidas duras ao longo de 2015. Foi um ano muito austero, ainda mais agravado
pela crise econômica que nós tivemos no país em 2015. Isso deu resultados.
Hoje, Brasília está em uma situação muito melhor do que a maioria dos estados.
Estados importantes, como Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul estão
atrasando e parcelando salário. Nós estamos pagando os servidores em dia, o 13º
dos aniversariantes do mês em dia, pagamos antecipação de férias dos
professores no quarto dia do ano — coisa que nãoacontecia há muito tempo —,
estamos pagando os prestadores e fornecedores de serviço do nosso governo
praticamente em dia, estamos pagando parte da dívida que herdamos... Portanto,
estamos organizando a cidade. Nós não estamos ainda em uma situação folgada,
porque temos uma realidade econômica nacional muito grave. Mas o ambiente está
muito melhor, e a gente espera superar esse ambiente político radicalizado,
essa intolerância que tomou conta da política para que possamos resgatar
o alto-astral, a alegria, e para que o país possa viver um outro momento. Eu
sempre fico pensando nos ditados populares. Um deles é que depois da tempestade
vem a bonança, e eu estou esperando a bonança.
Não chegou ainda?
Ainda
não.
"Estamos fazendo algumas obras que me tocam
profundamente, como a infraestrutura do Sol Nascente. Na última semana,
visitei, vi e compartilhei da emoção das pessoas ao ver chegar o asfalto às
suas ruas"
"Acredito muito na capacidade da cultura de
construir um novo momento para a história do país"
E o aniversário de Brasília?
Viveremos, no plano local, um ambiente melhor do que tínhamos no ano
passado, mas no ambiente nacional mais tenso do que no ano anterior.
Com a projeção que vocês têm do orçamento e da arrecadação, vai dar
para fechar um ano tranquilo?
No
ambiente econômico que nós estamos, ninguém pode dizer em abril que vai fechar
o ano tranquilo em dezembro. Por isso, nós temos que tomar as precauções. Não
podemos relaxar na manutenção de gastos. Temos que ter muita qualidade no uso
do recurso público para que possamos chegar ao fim do ano sem sobressaltos. Até
porque, temos que pagar uma dívida que herdamos do governo anterior, mas
estamos trabalhando com afinco, com muita dedicação. A gente espera poder
chegar ao fim do ano pagando todos os nossos compromissos em dia. E uma
satisfação muito grande é que, apesar dessa crise toda, nós estamos com
investimentos importantes na cidade que vão contribuir muito para a qualidade
de vida da população. É importante registrar que em 15 meses já entregamos 7,2
mil apartamentos, sobretudo no Residencial Paranoá Parque e no Parque do
Riacho. Já entregamos 12 mil escrituras no Distrito Federal; fizemos a
desobstrução da orla na Península dos Ministros e estamos aguardando a decisão
judicial para concluir a construção de uma ciclovia e abrir aquele espaço para
o uso da comunidade. Além disso, estamos fazendo algumas obras que me tocam
profundamente, como a infraestrutura do Sol Nascente com rede de esgoto,
drenagem pluvial e pavimentação. Na última semana, visitei, vi e compartilhei da
emoção das pessoas ao ver chegar o asfalto às suas ruas, e isso significa uma
mudança de patamar de qualidade de vida.
Esta crise nacional abafa a divulgação do trabalho do GDF?
De certa
forma, sim, porque grande parte do noticiário nacional e local são tomados pela
cobertura da crise. Essas coisas estão acontecendo e muita gente não sabe
disso. É um desafio que nós temos, inclusive, de comunicar isso para um
conjunto da população, porque muita coisa tem sido feita e deve ser acelerada
nesse período seco, sobretudo as relativas às obras que vão melhorar muito a
qualidade de vida da população.
A Câmara Legislativa do DF continua propondo e aprovando uma série
de leis que contrariam uma das prioridades do seu governo que é o combate
a grilagem. Até quando a Câmara vai continuar prestando esse desserviço à
população?
Nós
temos procurado sensibilizar os parlamentares de que, muitas vezes, atender o
interesse de um grupo individual é uma ilusão quanto à percepção do próprio
resultado eleitoral em função dos interesses coletivos de toda a comunidade. E,
hoje, tenho convicção de que a maior parte da população de Brasília é contra
invasões, contra grilagens e contra a ocupação desordenada do solo, porque isso
prejudica todo mundo. Primeiro, é uma apropriação indébita de um patrimônio que
é público, de um patrimônio que é de todos. A Bruna Pinheiro (diretora da
Agência de Fiscalização do DF) deu um exemplo outro dia que só uma chácara
vendida em Vicente Pires daria para construir um hospital que a população de
Brasília está perdendo em função da ganância de alguns grileiros. Mas é,
também, um prejuízo para o trânsito, para a saúde, e para o aumento da
criminalidade, porque, junto da invasão de terra, estão outros crimes que dão
sustentação àquilo.
O senhor criou a Secretaria de Cidades, mas ainda não nomeou
ninguém. Por que essa demora? Está negociando com a Câmara?
Nós temos
a decisão de criar a Secretaria de Cidades, mas estamos com dificuldade em
função da contenção de gastos e da impossibilidade de criar mais cargos que
contrariam a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF). Como nós fizemos um
corte muito grande no governo em dois momentos: no início, quando reduzimos de
39 para 24 secretarias, e, depois, quando diminuímos de 24 para 17 — e agora
são 18 secretarias — reduzimos 5 mil cargos comissionados. Então, todas elas
estão muito enxutas e nós estamos com dificuldade de remanejar cargos para
criar a de Cidades. Estamos estudando como e quando fazer isso e qual o melhor
momento para efetivar a Secretaria de Cidades.
E já tem um nome para assumir?
Não.
Criação de cargo não vai na contramão de um país que está em crise?
Como o senhor justifica e vai explicar para a população que precisa ter
mais uma secretaria?
Não
queremos criar cargos. Iremos remanejar cargos. Exatamente porque todas as
secretarias estão muito enxutas é que nós estamos com dificuldade de fazer esse
remanejamento para criar a Secretaria de Cidades. O que está claro para a gente
é que nós precisamos melhorar a interlocução com as regiões administrativas e
as administrações regionais. E tenho uma avaliação que nesses primeiros 15
meses governei muito para dentro do governo e foi muito importante esse olhar,
esse controle do gasto, esta estratégia de ampliação da receita, mas tenho
convicção de que agora nós devemos governar mais para fora.
E aí entra a figura do prefeitão Rodrigo que a cidade carece?
A cidade
carece efetivamente. Brasília precisa de um governador que tenha capacidade de
articular com os demais, com o Congresso. Brasília é a capital do país, nós
temos sempre interesses nacionais, mas temos o dia a dia da cidade, que precisa
ser cuidado, que é o trabalho de prefeito. Por exemplo, hoje (segunda-feira)
andei pela cidade e fico tão feliz quando eu vejo a grama cortadinha como está,
o meio-fio pintado. Isso pode parecer coisa simples, mas dá uma sensação
positiva para as pessoas. E a gente percebe que isso começa também a tomar
conta de outras cidades de Brasília. Nós tivemos dificuldade, por exemplo, para
fazer renovação de contrato de caminhões e de máquinas, mas estamos concluindo
agora e, com isso, vamos poder atender muito melhor as administrações regionais
com as operações tapa-buraco, conservação da cidade, recolhimento de entulhos.
Isso vai dar uma sensação melhor para as pessoas na ponta.
Vai completar 1 ano e 4 meses que o novo Centro Administrativo de
Taguatinga está fechado. Qual a expectativa de mudança?
Nós temos
embaraços jurídicos que precisam ser superados para que podemos fazer a mudança
com segurança. Estamos em permanente negociação com o consórcio e com
envolvimento do Ministério Público. Tão logo a gente tenha solução para essas
questões jurídicas, nós iniciaremos o processo de mudança.
O contrato para essa PPP (Parceria Público-Privada) é injusto?
O
contrato tem várias cláusulas que precisam ser aprofundadas e avaliadas, muitas
delas com questionamentos na Justiça. Nós temos, por exemplo, a questão das
garantias, a questão de algumas definições de obrigações que não estão claras
no contrato, a questão de responsabilidade de obras viárias para garantir o
habite-se e, hoje, estamos impedidos de pagar o consórcio por decisão judicial.
Estamos impedidos de dar o habite-se por decisão judicial.
O presidente de uma das empresas que compõem o consórcio, a
Odebrecht, está preso pelas denúncias da Lava-Jato. Isso exige uma cautela
maior do governo do DF para assumir essa PPP?
Diria que
o valor do contrato exige um cuidado muito grande, porque, a partir do momento
que o DF assinar e mudar para o novo Centro Administrativo, terá uma
responsabilidade de pagamento grande. São quase R$ 200 milhões a serem pagos
anualmente.
Em relação aos contratos de PPP, como avalia o risco de a Operação
Lava-Jato chegar ao estádio?
O que
questiono do estádio, e sempre questionei, é o valor. Podíamos ter um estádio
cumprindo os mesmos objetivos que esses por um valor três vezes menor como foi
feito em vários estados. Agora, sobre possíveis irregularidades na construção
ou desvios de recursos, cabe à Justiça analisar.
Quando o senhor diz que fica muito dentro do palácio e quer mudar um
pouco e ir para a rua é sinal de que a reeleição é uma preocupação? O
senhor está com isso na cabeça ou não?
Sinceramente, neste momento não estou. O desafio neste momento de
governar uma unidade da Federação é muito grande e não é diferente no Distrito
Federal. Estou muito concentrado na perspectiva de ser um bom governador e
entregar uma cidade melhor do que recebi. E, para ser um bom governador, é
fundamental estar em contato com a população. Por onde eu tenho andado, recolho
uma energia muito positiva no contato com a população. Gosto muito de estar em
contato com as pessoas. Uma das coisas que mais gosto de fazer é visitar uma
obra, conversar com a população, ir a uma feira e ali recolher as impressões,
as críticas, as sugestões para que a gente possa fazer um governo melhor. E eu
continuo fazendo as nossas rodas de conversas, e, muitas vezes, enfrentando críticas,
mas são momentos muito ricos, muito positivos e diria revigorantes. Este ano,
já realizei duas (rodas de conversas): em São Sebastião e em Taguatinga. Em
Taguatinga, tendo como foco a questão dos moradores de rua, mas em São
Sebastião foi muito interessante porque nós tínhamos feito uma derrubada havia
poucos dias. Aquelas pessoas de comunidades que tiveram seus espaços derrubados
se mobilizaram, como parte dos grileiros, e em um determinado momento fui
abordado por um cidadão. E eu disse: “Aqui todo mundo sabe que em São Sebastião
tem muito grileiro e tem quem se utilize da boa-fé da população e está
desorganizando a cidade. Então, para esses grileiros, vai ser cadeia.
Voltando um pouco para o debate nacional, o senador Cristovam
Buarque (PPS-DF) defende uma proposta de tentar encerrar a crise com
uma PEC (Proposta de Emenda à Constituição) que estabeleça eleições já
este ano. O senhor concorda com essa ideia?
É uma
ideia muito simpática. Tenho simpatia pela ideia, mas é importante buscar saber
o que diz a Constituição. Ele fala de eleições para
presidente junto das eleições municipais em dois anos de mandato.É
uma ideia que parece simpática, mas tem várias outras implicações que precisam
ser analisadas com profundidade.
Mas o senhor acha viável?
Sinceramente,
não vejo possibilidade hoje de o Congresso Nacional aprovar uma proposta dessa
em tempo hábil de se realizar uma eleição até o fim do ano.
O que acontecerá caso o Senado aprove o impeachment?
Até aqui
vislumbro a saída que está prevista na Constituição. Nós vamos ter um
julgamento no Senado Federal do impeachment ou não da presidenta da República.
Caso seja aprovado, vai assumir o vice, Michel Temer. Qualquer que seja o
presidente, ao fim desse processo, vai ter diante de si um enorme desafio. Terá
uma economia em frangalhos, um país em uma crise política sem precedentes e que
precisará fazer, no meu entendimento, um pacto por cima dos partidos com pessoas
que tenham respeitabilidade do conjunto da sociedade para construir caminhos
que comecem a unificar o país.
O senhor acha que esse processo será longo? Que impacto vislumbra
para ter uma saída?
O Brasil
não aguenta um processo tão longo. Qualquer que seja a definição é importante
que ela se dê em um prazo razoável de tempo respeitando, é claro, os ritos
legais. A informação que tenho é que o Senado deve julgar a continuidade do
processo a partir de 10 de maio. É fundamental que se tenha uma decisão o mais
rápido possível.
O senhor diz que não se posiciona em relação ao impeachment, mas,
em relação a Eduardo Cunha, vários parlamentares, inclusive do seu
partido, disseram que ele não tem mais legitimidade para presidir a Câmara dos
Deputados. Vai entrar nesse movimento também ou a Câmara que cuide disso?
Esse é um
tema que diz respeito aos parlamentares e aos partidos políticos. O governador
de uma unidade da Federação deve, por motivos óbvios, guardar certa distância
desses temas, mas, certamente, o partido, no momento adequado, terá uma posição
sobre isso.
Como resgatar o alto-astral neste aniversário de Brasília?
Primeiro,
reconhecendo o valor da nossa gente, reconhecendo como valor fundamental da
nossa cidade a nossa diversidade, reconhecendo o valor da cultura. Porque
Brasília tem algo que outras unidades da Federação não têm: uma imensa
diversidade cultural e um pouco de cada coisa do Brasil. E isso tem que ser
valorizado ao máximo. Acredito muito na capacidade da cultura de construir um
novo momento para a história do país. Quando vejo, por exemplo, os movimentos
se organizando para recuperar o Dulcina (Faculdade de Artes Dulcina de Moraes)
a partir de coletivos de cultura; os movimentos tomando conta do Setor
Comercial Sul a partir da iluminação; quando vejo a força de movimentos
vinculados ao forró em Ceilândia, muitas iniciativas que surgem da própria
sociedade, acredito muito na nossa capacidade de levantar o astral. E, a partir
de Brasília, nós tenhamos uma sinalização de um novo momento para a história do
Brasil. Nós só vamos fazer isso se a gente tiver capacidade de construir uma
cultura de paz. Por isso que, para mim, a coisa de maior simbolismo dos últimos
tempos foi ver a população entregando flores e batendo palmas para a polícia. A
gente quer que isso aconteça no dia a dia. Sabemos que, em alguns momentos,
ainda têm excessos que devem ser combatidos e contidos para que tenhamos uma
cidade assim: valorizando uma cultura de paz. É isso que vai fazer a nossa
cidade alegre, feliz e que possamos ter orgulho de sermos brasilienses.
FONTE» ANA DUBEUX » ANA MARIA CAMPOS »
DENISE ROTHENBURG » ISA STACCIARINI – FOTOS: CLAUDIO REIS/ESP-CB/D.A.PRESS
–CORREIO BRAZILIENSE