Projeto de lei propõe a regulamentação da prática do
kitesurfe. A justificativa é garantir a segurança dos banhistas e a preservação
do ecossistema
Cada vez mais popular no Brasil, o kitesurfe —
esporte que combina voos e manobras sobre uma prancha, com uma pipa (também
chamada pelos praticantes de kite) presa à cintura — também tem conquistado os
brasilienses. Agora, a prática de deslizamento radical sobre a água poderá ser
regulamentada na Câmara Legislativa, por meio de um novo projeto de lei, de
autoria do deputado Júlio César (PRB), presidente da Frente Parlamentar do
Esporte. A proposta é encaixar a modalidade dentro de diretrizes de conservação
ambiental do Lago Paranoá.
Carlos Augusto Batalhas é um dos
pioneiros do esporte em Brasília e cuida da manutenção da orla do lago
De acordo com o projeto, é necessário adotar
medidas de proteção e de uso sustentável da área para garantir a manutenção dos
ecossistemas. O texto ainda determina que a modalidade seja praticada em
espaços seguros, não só para os praticantes do esporte, mas para o restante da comunidade
que utiliza o lago. O documento também inclui a possibilidade de construir
instalações para guardar materiais e equipamentos da prática esportiva.
O auditor de atividades urbanas da Unidade de
Conservação, do Instituto Brasília Ambiental (Ibram), Pedro Braga Netto,
explica que o kitesurfe não traz impactos ambientais. “O que acontece, e faz
esse projeto ser necessário, é que, como em qualquer outro uso da orla, sem uma
estrutura preparada para receber as pessoas, faltam segurança e o apoio do Corpo
de Bombeiros em caso de acidentes. Então, corre-se o risco da degradação. Por
exemplo, muitos podem adentrar áreas de preservação permanente com veículos e,
assim, desrespeitar o limite de 30m que protegem os espelhos d’água.”
Pioneiro do esporte em Brasília, Carlos Augusto
Batalhas, 32 anos, é instrutor da modalidade há 19 anos e afirma que a presença
dos atletas nas margens do Lago Paranoá oferece mais do que o aprendizado do
esporte. “Os atletas de kite cuidam com muito carinho da área. Nós organizamos
campanhas de conscientização ecológica, mutirões de limpeza, além de
contribuirmos para a segurança do local, porque inibimos a presença de pessoas
mal-intencionadas”, acredita, referindo-se à Associação de Kitesurfistas de Brasília
(Abrakite).
Para o presidente da associação da Abrakite, Dilceu
Jaegger Junior, o projeto do deputado não poderia ter vindo em melhor hora. “É
muito importante e positivo para o crescimento e fortalecimento do esporte,
pois aborda as principais necessidades dos atletas, além de fornecer todas as
diretrizes para a prática segura e organizada do kitesurfe”, comemora.
Desde 2013, outra organização de atletas de
kitesurfe, o projeto Raia Norte, realiza um trabalho de educação ambiental
atrelada à prática de esportes aquáticos no Parque das Garças, no Lago Norte.
Em parceria com o Ibram, o grupo zela pela manutenção do parque em troca da
autorização para praticar os esportes no local.
O instrutor e presidente da Associação Amigos
Parque das Garças, Daniel Lino, ressalta o papel inclusivo do esporte, que
também educa sobre a preservação ambiental. “Nosso objetivo é cuidar do
ambiente que temos e torná-lo cada vez mais acessível à comunidade, para que
mais pessoas possam cuidar dele também”, acredita.
Para ele, o projeto do deputado é mais uma medida
que ajudará a reforçar a importância do esporte na capital. “Embora eu acredite
que o kitesurfe não tenha reais impactos na natureza, por não fazer barulho nem
sujeira, é muito importante que as pessoas que utilizam a área aprendam a
cuidar do local.” Segundo Daniel, as demarcações também ajudarão a evitar
acidentes.
No momento, o projeto aguarda a votação e o
encaminhamento de novas ementas da Comissão de Desenvolvimento Econômico
Sustentável, Ciência, Tecnologia, Meio Ambiente e Turismo (CDESCTMAT) e da
Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), para depois seguir em votação no
plenário da Casa.
Cada vez mais atrativo
Apesar de ser típico de cidades de litoral, o esporte se adaptou bem à
capital, que oferece, principalmente entre os meses de agosto e setembro,
ventos mais intensos. O kitesurfe é um esporte náutico no qual o atleta utiliza
o kite (vela parecida com um paraquedas), uma prancha e a força do vento para
deslizar sobre a água. A modalidade tem interessado muita gente. O aposentado
Celso Henrique Figueiredo, 59 anos, por exemplo, é um atleta assíduo. Ele
conheceu o esporte em viagem ao Rio Grande do Sul e, desde 2011, reconhece os
benefícios. “Eu ficava muito ansioso e estava só engordando. Desde que comecei
as aulas, já emagreci 14kg e participei de competições entre os amigos.” Para o
empresário Natan Henrique Araújo Telhado, 25 anos, o kitesurfe transformou sua
vida. “Hoje, graças ao kite tenho um estilo de vida como se eu morasse no
litoral. Em agosto, me mudo para a Austrália e, com certeza, o kite é umas das
coisas que estão pesando mais na minha decisão.”
Fonte: Correio Braziliense – Fotos: Breno Fortes/CB/D.A.Press – Blog –
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