test banner

#Tombamento: GDF bancará laguinho da SQS 308

Manifestantes exigiram o cumprimento do acordo fechado em 2009, pelo qual a Administração Regional bancaria os custos com água e energia

A manifestação contou com poucos moradores, mas conseguiu obter do governo a manutenção do espelho d'água

O clamor por proteção ao Laguinho da 308 Sul foi transformado, na manhã de ontem, em um abraço coletivo ao espelho d’água projetado por Burle Marx. Desde que o fornecimento de água foi cortado pela Companhia de Saneamento Ambiental do Distrito Federal (Caesb), em 31 de março, devido ao atraso no pagamento das contas, moradores do local e das quadras vizinhas estão empenhados em não deixar o espelho d’água abandonado. A comunidade quer dividir com o governo as responsabilidades, com a justificativa de que o local é público e faz parte da carga patrimonial de Brasília.

A manifestação reuniu 15 pessoas, que trouxeram para a praça o anseio dos demais moradores. De mãos dadas, alguns participantes exibiram cartazes nos quais cobravam providências do poder público. Um deles pedia para que o acordo firmado em 2009 fosse cumprido. O Decreto nº 30.303/2009, dispõe sobre o tombamento das unidades de vizinhança 107/307 e 108/308 Sul, quadras modelos. Toda a área tombada como patrimônio histórico e cultural da humanidade, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (Unesco), deve ser mantida pelo GDF. O acordo fechado, à época, delegou essa responsabilidade à Administração do Plano Piloto, e a encarregou de fazer os pagamentos dos serviços de água e energia elétrica. No entanto, de lá pra cá, o acerto se desfez. O laguinho da 308 Sul não foi incluído como carga patrimonial do governo de algum órgão do estado.

O administrador de Brasília, Marcos Pacco, foi até a quadra conversar com os moradores. O gestor recuou da declaração dada ao Correio, de que não arcaria com a dívida total do laguinho, no valor de R$ 7.859,54, e decidiu incluir o laguinho nas responsabilidades da administração. Até então, não existia um órgão do GDF responsável pela carga patrimonial do laguinho. Segundo Pacco, uma reunião será agendada com uma comissão de moradores para oficializar o acordo e discriminar, em documento, a responsabilidade de cada um sobre a obra de Burle Marx. “O governo é um só e, por isso, vamos buscar orçamento para pagar essa despesa e assumir daqui pra frente. O encontro com os moradores servirá para enumerar todos os outros problemas das quadras e nós da administração faremos a articulação com os outros órgãos de governo”, garantiu o administrador.
Absurdo
A ex-prefeita da SQS 308, Solange Madeira, 62 anos, lembrou que participou das negociações. “Solicitamos ajuda para o administrador, era até a Evelise Longue quando fizemos esse acordo, de que a administração arcaria com os custos de água e luz, que chamamos de acordo de cidadania. Ficamos com a parte da manutenção do filtro, limpeza e alimentação dos peixes. Queremos que isso se mantenha”, ressaltou Solange, moradora da quadra. Para ela, ter que pedir ao GDF que cuide de um bem público é redundante. “Se eu fosse do governo, teria vergonha. Isso é um patrimônio da cidade e ter que reivindicar cuidado é um absurdo”, desabafou.

Por ser quadra-modelo, a 308 Sul está incluída no roteiro turístico de muitas agências. Segundo a presidente do Sindicato dos Guias de Turismo, Maria José Carvalho, a agremiação representa 400 profissionais da área. “Quando trazemos as pessoas aqui, elas entendem a essência de Brasília. Os monumentos no centro da cidade, na Esplanada, dão apenas um olhar administrativo. A vida da cidade está nas entrequadras. Chegar aqui e ter um lugar limpo e bonito faz diferença”, ponderou. Olocal não mobiliza apenas moradores da região. O servidor público Caio Porto, 35, mora no Cruzeiro Novo e foi com a família participar do manifesto. “Dedico-me a Brasília por prazer, para que minhas filhas possam viver isso. E o governo não pode encarar o cuidado com o bem público como um peso. Se for feito de forma legal, pode ser, inclusive, uma forma de renda”, observou.

Para saber mais - Quadra é referência
A 308 Sul é a referência do que deveriam ser todas as superquadras do Plano Piloto. Nela, está montada a infraestrutura básica para a comunidade da área, como o Clube Unidade Vizinhança, a Escola Classe, a Escola Parque, o Jardim de Infância, o Espaço Cultural, o Posto de Saúde, a Biblioteca Pública e a Igrejinha de Fátima. O paisagismo foi elaborado por Burle Marx — a única no Plano Piloto. As garagens subterrâneas e as ruas também são exemplos criteriosos dos projetos de Lucio Costa. Por isso, o local é visitado, diariamente, por turistas e estudantes de arquitetura e urbanismo.



Fonte: Camila Costa - Correio Braziliense – Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press - 



Postar um comentário

Postagem Anterior Próxima Postagem