A política de terra arrasada que
vem sendo urdida nos gabinetes do Palácio do Planalto para dificultar de todas
as formas um possível governo do atual vice-presidente Michel Temer (PMDB),
caso Dilma Rousseff (PT) seja afastada pelo Senado Federal por 180 dias se o
pedido de impeachment for acolhido, ganha novo capítulo. Em encontro com
representantes de movimentos sociais que apoiam o governo, como MST, MSTS e
CUT, o núcleo duro da Presidência da República acertou os ponteiros de algumas
bombas-relógios para uma futura administração do peemedebista.
A estratégia do Palácio do Planalto de criar toda sorte de obstáculos
para um novo governo deixará como herança reajustes em programas como Bolsa
Família. O anúncio dessas novas bondades deverá ser feito pela presidente hoje,
Dia do Trabalho, com toda pompa e circunstância. Portanto, antes da votação do
processo de impeachment em 11 de maio. Pelo cronograma do Planalto, o reajuste
seria feito somente no segundo semestre, mas foi antecipado para mobilizar seus
apoiadores e criar entraves a uma possível administração Temer.
Mesmo com o caixa estourado — o Brasil enfrenta a pior crise fiscal de
todos os tempos —, a correção dever girar em torno de 5%, com impacto de cerca
de R$ 1 bilhão nos cofres públicos. Até o Ministério da Fazenda defende a tese
de que é necessário mudar antes a meta fiscal para abrir espaço para a soma
bilionária no Orçamento. Mas a estratégia de deixar à míngua um provável
governo comandado pelo vice-presidente falou mais alto, num verdadeiro descaso
com o ajuste fiscal, urgente para o equilíbrio das contas públicas.
Uma outra armadilha vem sendo montada no terceiro andar do Palácio do
Planalto: o reajuste na tabela do Imposto de Renda para compensar a inflação
acumulada, medida que vinha sendo protelada por pressão do próprio Ministério
da Fazenda na busca do equilíbrio fiscal. Anunciada sexta-feira, a extensão do
Programa Mais Médicos, por meio da dilatação do prazo de permanência dos
profissionais estrangeiros no Brasil por mais três anos, é outra medida
analisada pelo Planalto para criar dificuldades à nova administração.
Com o apoio explícito da Presidência da República, os movimentos que
apoiam Dilma Rousseff deixam claro que, além de tentar impedir uma transição
sem traumas ao negar informações fundamentais para possível governo liderado
pelo PMDB, não vacilam em colocar em primeiro plano seu projeto de poder em
detrimento dos reais interesses do Brasil. A eles parece não interessar as
dificuldades atualmente enfrentadas pela Nação na pior crise político-econômica
que se tem notícia, mas, sim, a perpetuação no poder.
Fonte: “Visão” do Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google