Hostilizado por palavras ofensivas
por um desses patrulheiros ideológicos que ultimamente passaram a infestar a
cena pública por todo o Brasil, o senador Cristovam Buarque (PPS-DF) nem
precisou se dar ao trabalho de responder ao agressor que o chamava de golpista
e traidor. Tão logo a turma que aguardava na mesma fila e nos arredores da
Livraria Cultura tomou ciência do que se passava cercou o militante e passou a
hostilizá-lo ainda com mais veemência.
Surpreso, coube ao senador assistir de camarote ao
desenrolar de um enredo que vem se repetindo por todo o país, com ferocidade
cada vez maior, de parte a parte. Obviamente, não foi o senador o pivô da
discussão que podia facilmente ter descambado para a violência generalizada.
Nem tampouco sua posição política contra ou a favor do impeachment, que ainda
será decidida por seus pares. O que ocorre hoje no país é a germinação da
semente da discórdia plantada com todo o afinco pelo dono do Partido dos
Trabalhadores. São pessoas que colocam o Brasil e a soberania nacional em
último lugar no patamar de interesse. Bem ilustrou o deputado Sibá Machado. Se
não dá para brincar com o país, se não acreditam que o dinheiro se autorroubou,
fechem o caixão e enterrem.
A repetição das agressões gratuitas vem se
intensificando a tal ponto que passaram a ser comuns em aeroportos, shoppings,
restaurantes e outros lugares públicos. Mesmo figuras populares, que antes eram
consideradas como unanimidade e exemplos pelos brasileiros, passaram a ser
ofendidas e agredidas por sua posição política.
De um modo claro, o que se vê por todo o país é a
sectarização crescente entre grupos que ainda acreditam que a imposição de
ideias se sobrepõem ao debate de ideias. O exemplo acabado dessa forma
primitiva de enfrentar a democracia foi dado na exigência, feita pelas
autoridades de segurança, de construção de um muro metálico separando os dois
grupos antagônicos na Esplanada dos Ministérios . Ninguém aperta a mão do
adversário de ideias por cima do muro, lamentou o senador Cristovam, que, dado
ao acirramento dos ânimos, preferiu não criticar a medida adotada pelo GDF.
Não é só o político brasiliense que teme o aumento
da radicalização. De modo geral, todos os políticos têm procurado evitar
lugares públicos. Enquanto os representantes do povo são acuados, as lideranças
dos ditos movimentos sociais ocupam todas as tribunas e palanques oficiais e,
sob o olhar de aprovação das mais altas autoridades do país, clamam por todo
tipo de vendeta e arruaças, ameaçando, inclusive, a formação de exércitos de
mercenários para pegar em armas.
A crise institucional à qual país foi arrastado foi
gestada durante longas 160 semanas dentro do Palácio do Planalto. Portanto, o
desfecho desse triste episódio de nossa história passa necessariamente pela
superação do atual governo, de suas ideias toscas e sua gente oportunista e
belicosa. Um discurso de campanha que hoje é compreendido por milhares de
doutrinados como uma cilada.
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A frase que foi pronunciada
Há duas maneiras de fazer política. Ou se vive para
a política, ou se vive da política. Nessa oposição não há nada de exclusivo.
Muito ao contrário, em geral, se fazem uma e outra coisa ao mesmo tempo, tanto
idealmente quanto na prática.
(Max Weber)
Por: Circe Cunha – Coluna: “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog-Google