Governos populistas, sem exceções,
em todo tempo e lugar, buscam nos eventos esportivos, principalmente aqueles de
intensas repercussões interna e externa, meios de difundir e propagandear seus
feitos e imagem. A história está repleta de exemplos desse tipo e mostram como
o personalismo, o apelo ufanista e a exploração marqueteira da gestão do Estado
caminham, lado a lado, com esses grandes torneios. Não foi diferente durante o
governo Médici, e não foi diferente no governo Lula.
Arquitetadas dentro do esquema cartesiano e frio de propaganda do
governo, a Copa do Mundo de Futebol e agora as Olimpíadas serviram para
incensar e pôr em primeiro plano a figura do chefe do Executivo. Pai dos
pobres, pai da pátria, pai dos esportes. Não importa o epíteto, interessa, isso
sim, destacar que graças à intervenção pessoal do “nosso guia”, o Brasil se
tornará também uma potência nos esportes. Todo o resto, incluindo os gastos
astronômicos para viabilizar os eventos, é secundário e vem em decorrência da
premissa original.
Deixado o legado da Copa do Mundo, os grandes estádios são agora
verdadeiros elefantes brancos, cuja manutenção diária exige cada vez mais
recursos do contribuinte. O caso do Mané Garrincha, o mais caro de todas as
arenas do planeta, é um exemplo concreto.
A Noruega abriu mão de realizar os Jogos Olímpicos de Inverno de 2022
sob a alegação dos altos custos financeiros para o cidadão. Somente com a
realização da Copa em 2014, a Fifa embolsou R$ 16 bilhões. Um recorde absoluto em
toda a história da entidade. A maioria de seus dirigentes encontra-se hoje
banida do mundo da bola e não se atreve sequer a sair das fronteiras do país,
sob pena de serem presos e deportados para os EUA onde a Justiça quer
trancafiá-los por longos períodos.
Quem lucrou também com aqueles jogos foram as grandes empreiteiras, a
maioria investigada pela Operação Lava-Jato. Para o restante dos brasileiros,
ficaram as dívidas com a festança. No caso das Olimpíadas, especialistas no
assunto garantem que a realização desses eventos é um mau negócio e deixa
dívidas de longo prazo para as sedes desses eventos de até 30 anos.
Estimativas como a do economista Andrew Zimbalist dão conta de que o Rio
de Janeiro gastará cerca de R$ 20 bilhões para realizar os Jogos Olímpicos.
Urbanistas de renome internacional, como a brasileira Raquel Rolnick, relatora
das Nações Unidas para o Direito à Moradia e hoje uma das principais
especialistas mundiais na questão, concordam que para a preparação desses
eventos são comuns os casos de expulsões de grandes levas de moradores das
áreas vizinhas aos jogos, encarecimento nos preços de moradia, falta de
alternativas e pressão sobre as famílias mais pobres para deixarem os locais
próximos dos eventos.
Esses contingentes desfavorecidos, diz Raquel, acabam empurrados para
periferias cada vez mais distantes e sem recursos. Para Raquel, essas têm sido
as características tanto das Copas do Mundo como dos Jogos Olímpicos pelo
mundo. No caso da Olimpíada do Rio de Janeiro, a expulsão dos moradores da Vila
do Autódromo serve como ilustração desse modelo de exclusão.
***
A frase que não foi pronunciada
“Mostre o que você bebe e eu digo o que você pensa.”
(Frequentador assíduo do Bar Bante)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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