Ivan Camargo, reitor da UnB
Qual a avaliação dos resultados desses quatro anos de gestão?
O resultado não é da administração, é da universidade inteira, todos nós
contribuímos. Vale lembrar que a nossa universidade estava com um desequilíbrio
orçamentário severo em 2012, então nós economizamos dinheiro e melhoramos a
qualidade. Esses resultados mostram que você precisa de racionalidade e de cuidado
— é a universidade sendo cuidada.
O que ainda precisa ser feito?
Uma vez que arrumamos a casa, equilibramos as contas, temos que dar um
passo adiante e começar a pensar grande, mesmo com as restrições que estamos
vivendo em 2015, em 2016 e, muito provavelmente, vamos viver em 2017. O que nós
precisamos agora é investir em infraestrutura, melhorar as condições de
trabalho da universidade. Eu sou um cara muito otimista e acho que, mesmo nesta
fase de vacas magras, em que tudo indica que haverá redução da receita do
governo, nós, da Universidade de Brasília, poderemos usar a receita própria, de
aluguéis e do Cespe, para a melhoria da infraestrutura.
Nesses quatro anos, fizemos um grande trabalho de organização desses
contratos (de terceirização e fim dos servidores precarizados) e, por isso,
podemos afirmar que esse gasto que cabe a nós gerenciar está equilibrado.
Agora, nós não precisamos fazer o que vinha sendo feito, que é deslocar
recursos de investimento para custeio. Com a universidade equilibrada, você
pode usar dinheiro de investimento para o uso final dele, e pode usar recursos
próprios também com esse objetivo.
O que falta para a UnB se tornar uma universidade do século 21?
Acho que duas coisas faltam. Em qualquer universidade fora do país, como
na Coreia, as instalações físicas são muito melhores. Essa é uma dívida que
temos com a nossa comunidade acadêmica: precisamos melhorar muito as
instalações, a infraestrutura. Além disso, temos de melhorar os incentivos para
os professores. Eles precisam ser incentivados a interagir com a sociedade, a
resolver os problemas da sociedade. Se a gente não corrigir essas duas dívidas
que temos, vamos continuar entre as 500 melhores do mundo, mas nós temos
potencial para estar, pelo menos, entre as 100.
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Investir na UnB é o desafio
Esforço para controlar os gastos e equilibrar as contas marcou a atual
gestão da universidade, que chega ao fim em novembro deste ano. Pleito que
escolherá o novo gestor terá início na próxima semana
Jessé mudou-se de Luziânia para a CEU: economia de
tempo resultou em mais estudo e qualidade de vida
Assim como ocorreu em outras federais, o corte de
gastos na educação marcou a atual gestão da Universidade de Brasília (UnB), que
chega ao fim em novembro. Os dados do relatório de gestão, apresentados neste
mês, mostraram o tamanho do desafio: só a folha de pagamento toma conta de mais
de 75% do orçamento total da instituição. É consenso entre as diversas
representações da instituição que a administração teve o mérito de equilibrar
as contas, mas os investimentos ficaram em segundo plano e precisarão receber
mais atenção da próxima reitoria, que será escolhida pela comunidade acadêmica
no fim de agosto. As chapas começam a se inscrever na próxima semana.
Uma das
principais ações da atual gestão, dirigida pelo reitor Ivan Camargo, foi a
regularização da força de trabalho da Fundação Universidade de Brasília (FUB).
Em 2012, havia quase 650 trabalhadores sem vínculo formal com a instituição,
número zerado no ano passado. O custo aluno sofreu queda de 35% e os
investimentos em tecnologia da informação e comunicação também caíram. Segundo
o Decanato de Planejamento e Orçamento (DPO), a diminuição é resultado da
restrição orçamentária do Ministério da Educação (MEC). “Não é uma equação
fácil: expansão, inserção social e a garantia da excelência acadêmica. E temos
que conjugar tudo isso com a redução do orçamento”, avalia Mauro Rabelo, decano
de Ensino de Graduação.
Victor
Aguiar, coordenador-geral do Diretório Central dos Estudantes (DCE), destaca o
fato de a austeridade não ter afetado a qualidade da produção acadêmica. Pelo
contrário, a universidade voltou a figurar em melhores posições em rankings
internacionais e alcançou a nota máxima no Índice Geral de Cursos (IGC),
avaliação feita pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais
(Inep). “Por causa da crise, as universidades federais foram muito
prejudicadas, mas, mesmo assim, conseguimos saltar da 25ª para a 9ª colocação
na América Latina, segundo o ranking da QS”, lembra. A companhia britânica
Quacquarelli Symonds (QS) monta uma lista com as 300 melhores instituições de
ensino superior dos países latino-americanos.
Para
Rabelo, do Decanato de Ensino de Graduação, a melhor colocação da universidade
nessas avaliações é fruto do trabalho na orientação dos coordenadores dos
cursos sobre o preenchimento correto da plataforma do MEC e a relevância do
Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade).
Os dados
do balanço também mostram que a UnB ainda precisa avançar para se tornar
efetivamente uma instituição do século 21. Quase metade dos prédios ainda não
tem acesso à rede de internet sem fio própria da instituição, por exemplo. De
acordo com o DOP, esse cenário pode mudar até o fim do ano, quando devem ser
concluídam a duplicação e a expansão dos pontos de acesso, que passarão de 520
para 1.020 pontos. Hoje, os departamentos que não contam com esse serviço têm à
disposição redes individuais, administradas pelo próprio corpo docente ou
técnico.
Assistência
O número de alunos atendidos pela assistência estudantil aumentou quase
85% em 2015 com relação a 2012, mas ainda é baixo para o universo de quase 38
mil estudantes. A ampliação do atendimento coincide com o percentual de 50% de
cotas para escolas públicas que a universidade atingiu este ano, por
determinação da legislação federal. “Nós abrimos as portas da universidade para
novos acessos, mas também temos que pensar em políticas de permanência”, afirma
Luísa Baumgarten, diretora de Desenvolvimento Social do Decanato de Assuntos
Comunitários (DAC).
A
bolsa-auxílio concedida pela UnB a estudantes em situação de vulnerabilidade
social é de R$ 465. O auxílio-moradia — para os alunos que alugam imóveis — é
de R$ 530. Os que não moram em Brasília têm a opção de concorrer a uma vaga na
Casa do Estudante (CEU), que atualmente abriga 350 discentes da instituição,
alguns deles de outros países. Eles ocupam os três blocos, entregues reformados
no segundo semestre de 2014.
Um desses
alunos é Jessé Lima, 21 anos, do 8º semestre do curso de letras/português.
Antes de se mudar para a CEU, em 2015, ele morava em Luziânia (GO) e gastava
cerca de duas horas e meia no percurso até a universidade e depois de volta
para casa. “O que pesa mesmo é o cansaço extremo e porque, lá para Goiás, você
não tem passe estudantil. Eu usava a bolsa permanência, que seria para comprar
material e fazer cópias de textos, por exemplo, para pagar a passagem”, relata
o jovem.
Nos
últimos quatro anos, Jessé destaca dois fatores importantes para a melhoria das
condições de assistência estudantil: o fim da contrapartida trabalhista e a
possibilidade de acúmulo de benefícios para quem recebe a bolsa auxílio. Com
relação às melhorias para a próxima gestão, ele acredita que será importante
construir moradias nos outros câmpus, que conseguiram, na atual, ter seus
próprios restaurantes universitários. O último a ser instalado foi o de
Planaltina, em 2015.
Fonte
»Mariana Niederauer- Especial para o
Correio – Fotos: Gustavo Moreno/CB/D.A.Press – Ana
Rayssa/Esp./CB/D.A.Press – Correio Braziliense