Antenas de telefonia móvel instaladas na cobertura
de prédio da Quadra 302 do Sudoeste: polêmica
"Instalação de torres e antenas de
transmissão sofrem resistência em áreas residenciais. No Guará, moradores
reclamam após retirada"
A instalação de antenas e torres de telefonia em
áreas populosas virou polêmica no DF. No Sudoeste, moradores de um prédio residencial
rejeitaram a proposta de R$ 5 mil mensais pelo aluguel de espaço na cobertura
para instalar uma Estação Rádio Base (ERB), que transmite o sinal de telefonia
móvel. Na QE 17 do Guará, a reclamação é justamente pela retirada de um
equipamento de transmissão, localizado ao lado do Centro Educacional 3. Nos
dois casos, a justificava apresentada é a preocupação com a radiação emitida
pelos aparelhos. No âmbito de estudos, especialistas divergem sobre os efeitos
causados pelos equipamentos.
A permissão
de instalação da antena no Bloco G da Quadra 101 do Sudoeste traria benefícios
financeiros para o condomínio, mas os moradores rejeitaram a ideia. Em
assembleia, decidiram pela recusa. “Os condôminos ficaram apreensivos. Em
relação à questão financeira seria bom, mas era um assunto delicado. A decisão
foi por não alugar o espaço”, explicou o síndico do prédio, José Antônio de
Souza, 58 anos. O aposentado Valdomiro Carvalho, 75, residente há 9 anos do
edifício, se mostrou temoroso com relação à antena. “É de causar preocupação,
principalmente com relação ao desenvolvimento do câncer. Entre receber o
dinheiro e manter a saúde, a segunda opção é melhor”, destacou.
A
engenheira industrial elétrica Adilza Condessa Dode defendeu na tese de
mestrado na Universidade Federal de Minas Gerais a hipótese da relação entre
mortes por câncer e a proximidade residencial com antenas de telefonia celular.
No Brasil, à época de 2003, essa tecnologia estava em expansão e praticamente
não havia estudos sobre o tema. Ela cruzou informações de bancos de dados sobre
óbitos em Belo Horizonte entre 1996 a 2006 e pesquisas populacionais do IBGE.
“Encontramos, a 500m de distância das antenas, o índice de 81,37% dos casos de
mortes. O estudo demostrou que a proximidade causa câncer. Quanto mais próximo,
maior a irradiação. Elas representam risco”, avaliou.
O
professor do Centro de Estudos em Telecomunicações da Pontifícia Universidade
Católica do Rio de Janeiro Gláucio Siqueira afirmou, por outro lado, que a
presença de antenas e torres nas áreas habitacionais não causam danos à saúde.
“O nível é abaixo das normas do considerado seguro. O nível emitido pelo
celular no ouvido é até maior do que o transmitido pela estação”, detalhou.
Sobre a instalação em prédios, ele ressaltou que não há transmissão para os
andares. “A onda vai para áreas vizinhas; mesmo assim, não é necessário ter
medo, pois a tecnologia transmite níveis de energia mínimos”, garantiu.
Escolas
O DF contém 1.782 antenas e torres de transmissão de sinal de celular. São
responsáveis pela geração de rede móvel e, principalmente, dados (internet)
para mais de 5,6 milhões de assinaturas, segundo o Sindicato Nacional das
Empresas de Telefonia e de Serviço Móvel e Pessoal (Sinditelebrasil). Do total,
32 ficam em escolas públicas. Mas, conforme orientação do Ministério Público do
DF e Territórios, baseada em norma local, o primeiro equipamento foi retirado
do Guará no último dia 28 por agentes da Agefis. “O sinal ficou prejudicado. As
pessoas reclamam que ligam, mas dá fora de área. Na drogaria, tivemos de trocar
o chip da máquina de cartão de crédito, pelo fato de não funcionar”, queixou-se
a empresária Marina Szervinsks.
Para a
presidente da Agefis, Bruna Pinheiro, o órgão não age contra a expansão da
tecnologia. “Não estamos impedindo a ligação de torres. O GDF está disposto a
oferecer áreas públicas e a autorizar, dentro de um processo legal, para não
deixar nenhum usuário descoberto de sinal. O nosso papel é apenas cumprir a lei
local, que impede a instalação desses equipamentos nas proximidades de
escolas”, detalhou.
As
promotorias de Defesa da Ordem Urbanística (Prourb) e do Meio Ambiente
(Prodema) apontaram o descumprimento da norma distrital na recomendação
expedida em abril do ano passado. Além disso, o órgão considerou ilegais a
falta de licenciamento das construções e a ausência de instrumento válido
celebrado com o DF para a utilização de imóveis públicos. “A instalação de ERB
em áreas urbanas provoca impactos importantes na paisagem urbana e na qualidade
de vida, além de possíveis malefícios à saúde”, detalha o texto.
O diretor
de Infraestrutura do Sinditelebrasil, Ricardo Dieckmann, considera a lei do DF
defasada. “Não há nenhum estudo científico que prove que a radiação provoque
malefício à saúde. A presença desses equipamentos não faze mal ao ser humano”,
garante. Segundo ele, a escolha dos locais é baseada em estudos técnicos, que
consideram a quantidade de pessoas na região. “Quando se retira uma antena em
algum ponto, logo é gerado o congestionamento da rede, não somente naquela
localidade como em toda a vizinhança. Vamos tentar dialogar com o governo para
que os demais equipamentos não sejam retirados. Isso pode gerar um colapso no
sistema.”
A Agência
Nacional de Telecomunicações (Anatel) respondeu que segue recomendações da
Organização Mundial de Saúde (OMS). Ela alega que “não há evidências
científicas convincentes de que a exposição humana a valores de campos
eletromagnéticos abaixo dos limites estabelecidos cause efeitos adversos à
saúde”.
Fonte:
Thiago Soares – Foto:Rodrigo Nunes-Esp/CB/D.A.Press – Correio Braziliense