Ocorre com as cidades o mesmo
processo de transformação que atinge os humanos. Ambos experimentam os
fenômenos naturais que marcam cada estágio da vida. Assim como as pessoas, as
cidades nascem, crescem, envelhecem e morrem. A diferença é que, para a maioria
das urbes, o tempo é generoso e lento, dilatando seus dias ao longo de
incontáveis gerações. Não deixa de ser simbólica a presença, em frente à sede
do governo local, de uma réplica em bronze da loba Capitolina amamentando
Rômulo e Remo.
Presente do governo italiano à nova capital do Brasil, a figura mítica
faz alegoria à fundação da cidade eterna de Roma em 753 a.C . Para alguns brasilienses,
a loba romana representa, na verdade, o lobo-guará, o maior canídeo da América
e que, por coincidência, é o animal símbolo da capital.
Elegemos um animal selvagem como símbolo da cidade e, por algum
contrassenso, cuidamos para que ele figure na lista de espécies ameaçadas de
extinção. Especialistas consideram que, no máximo em 100 anos, não haverá mais
nenhum exemplar desse lobo correndo livre pelos campos do cerrado. O que
fazemos com as espécies à nossa volta, reproduzimos com a própria cidade que
nos abriga.
Para os padrões de tempo de uma cidade, Brasília poderia ser
classificada como uma criança, embora já apresente problemas típicos de uma
metrópole da terceira idade. O que fazer para não extinguir também a ideia
original que possibilitou a Brasília ser reconhecida pelo mundo como patrimônio
cultural da humanidade?
Trata-se de um problema que teremos que solucionar ao longo dos anos, a
cada novo governo, a cada novo Pdot. Que venham os anos e, com eles, a
sabedoria para reconhecer que o que temos agora é tão valioso quanto a própria
Roma, cidade eterna.
***
A frase que foi pronunciada
“Não devemos permitir que alguém saia da nossa presença sem se sentir
melhor e mais feliz.”
(Madre Teresa de Calcutá)
Por: Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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