Fotografia de 1957 mostra o Vértice nº 8 marcado por uma placa branca, à
direita da cruz, onde foi construída a Praça do Cruzeiro. Foto: Arquivo Público
do DF/Fundo Novacap – 1957
"Ponto fica na Praça do Cruzeiro e, a partir dele, foram feitos cálculos
para construir Brasília. Acompanhado de uma equipe do Arquivo Público, o
agrimensor Jethro Torres, que trabalhou na época, visitou o local nesta segunda
(12)"
A aproximadamente 38 metros da cruz fincada na Praça do
Cruzeiro, no Eixo Monumental, está o Vértice nº 8: ponto usado
como referência para colocar em prática as ideias de Lucio Costa para a nova
capital do Brasil. A partir dele, foram definidas ainda as linhas de latitude e
longitude do Distrito Federal e foi possível dizer, na época, onde estava
Brasília no território nacional.
A
marcação ajudou a definir por onde passariam avenidas e em quais locais
estariam as quadras e os blocos, por exemplo — processo do qual participou Jethro
Bello Torres, um dos agrimensores da Companhia Urbanizadora da Nova Capital do Brasil
(Novacap) na época. Ele era chefe da seção de cálculos do departamento
responsável por estudos e projetos.
“Esse é o
marco determinado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística lá pelos
anos de 1953 a 1955”, explicou o mineiro de Belo Horizonte. “Foram calculadas
as coordenadas da cidade a partir dele”, detalhou.
Aos 86
anos, Torres esteve no local na manhã desta segunda-feira (12), a convite do Arquivo Público do Distrito
Federal. Hoje, são lembrados os 114 anos do nascimento de Juscelino
Kubitschek — também mineiro, mas de Diamantina.
A ideia
foi celebrar o dia a partir do resgate de um ponto importante para a história
da capital. “Buscamos aliar uma coisa à outra, que é a simbologia dessa
homenagem ao Jethro e a simbologia de homenagear o nascimento de Juscelino”,
destacou o superintendente do órgão, Jomar Nickerson de Almeida.
Jethro Bello Torres, um dos agrimensores da Novacap na época da
construção de Brasília, esteve no Vertice nº 8 na manhã desta segunda (12), a
convite do Arquivo Público do Distrito Federal. Foto: Tony Winston/Agência
Brasília
Em 2007,
colocou-se no vértice uma laje de cor alaranjada, para que o ponto não passe
despercebido. Ele pode ser visto à direita de quem se posiciona de frente para
o Memorial JK. “A cidade não foi construída aleatoriamente. Ela teve uma
base geodésica, geográfica, cujas coordenadas, infelizmente, são pouco
conhecidas, porque não há razão para o povo normalmente conhecer essas coisas —
mas é bom saber. Nos mapas nós temos aqueles quadradinhos, por quê? Ali estão
as coordenadas, os meridianos, os paralelos”, explicou Torres.
Vértice nº 8 é diferente da
estaca zero de Brasília
O diretor
de Pesquisa, Difusão e Acesso do Arquivo Público, Elias Manoel da Silva,
ressaltou que o Vértice nº 8 difere-se da estaca zero, onde encontram-se os
Eixos Rodoviários Sul e Norte e Monumental, no Buraco do Tatu.
Acervo pessoal de Jethro Bello
Torres está no Arquivo Público do DF
Em 2009,
Torres doou documentos da história do ponto ao Arquivo Público, onde ele também
esteve nesta segunda-feira. Entre os papéis é possível observar cálculos e
mapas, como um que traz marcado o Vértice nº 8 e pontos que vieram a partir
dele. “Colocar o projeto de Lucio Costa no chão não foi apenas um ato poético,
foi um ato profundamente técnico”, reforçou Elias da Silva.
O diretor
de Pesquisa, que também é historiador, pontuou a importância do acervo recebido
há sete anos: “Daqui a 100, 200 anos, quando as pessoas quiserem saber como foi
colocado o Eixo Monumental, o Eixo Rodoviário, o aeroporto, como foram alocadas
as superquadras dentro de Brasília, os cálculos estão nesses documentos”.
O Arquivo
Público do DF também guarda registros orais da história contada por Jethro
Bello Torres, em gravações que totalizam aproximadamente seis horas. O material
está disponível para consulta de segunda a sexta-feira, das 9 às 17 horas. Não
é preciso agendar. O endereço é Setor de Garagens Oficiais Norte, Quadra 5,
Lote 23, Bloco B.
Agência
Brasília - Samira Pádua