Julia Ribeiro (E), Vinicius Corducci, Emanuel Paiva e Paulo Chaves (à
frente): melhorias estruturais necessárias para os estudos
"Evento beneficente, que ocorrerá no próximo domingo, arrecadará fundos
para a reforma de unidades comunitárias de segurança cedidas pela Polícia
Militar à Escola de Música de Brasília. Espaços servirão como salas para aulas
práticas da instituição"
A comunidade da Escola de Música de Brasília (EMB) ganhou um novo
efetivo de salas de aulas: vinte postos comunitários de segurança que foram
desativados pela Polícia Militar serão transformados em espaços para os
estudantes. Já se encontram no terreno da instituição 15 unidades. Como a
maioria chegou ao local depredada, com sinais de ferrugem e com pichações, no
próximo domingo um show beneficente arrecadará fundos para garantir os reparos
necessários.
Desde que
o primeiro postinho deixou o Colorado, em 22 de agosto, os recursos para
transporte, instalação e manutenção das cabines têm sido arcados de maneira
colaborativa, segundo o professor de iluminação cênica Aldo Bellingrodt. “Uma
aluna minha, que é arquiteta, e outro estudante, técnico em eletricidade, vêm
auxiliando. Um engenheiro também está fazendo assessoramento técnico”, conta.
Embora haja módulos em bom estado de conservação, alguns são apenas a carcaça —
ventiladores, armários, balcões e interruptores foram levados. Outros nem
sequer têm portas ou janelas.
Aos
poucos, professores e estudantes encontram soluções para deixar as salas
prontas. Vasos de flores enfeitam o interior de alguns postos e plantas foram
colocadas ao redor da estrutura. “A EMB não teria condições financeiras de
fazer os reparos que precisamos realizar, mas temos o empenho da comunidade
escolar, que tira dinheiro do próprio bolso para fazer acontecer”, afirma
Bellingrodt.
O próximo
passo será promover um show beneficente, idealizado pela ex-aluna de piano
Yrian Mota. “Se hoje estou matriculada em uma faculdade de música em outro
país, devo isso à EMB. Pensei que alguém precisava organizar um show, mesmo que
a arrecadação desse apenas para resolver alguns poucos problemas”, relata
Yrian, que é bolsista na Juilliard School, em Nova York, onde cursa bacharelado
em trilhas sonoras e piano jazz. Seis apresentações com artistas locais
ocorrerão no evento, com jazz, choro, canções populares de capoeira e música
instrumental autoral.
O professor Aldo conta que a comunidade escolar ajuda como pode
Patrimônio público
A ideia de transformar os postos desativados da PM em salas de aula foi
da professora de canto erudito Denise Tavares. O Governo do Distrito Federal
(GDF) transferiu os módulos para a Secretaria de Educação do DF (SEDF), que os
repassou, sem custos, à EMB. De acordo com Denise, no entanto, as 84 salas da
escola não são suficientes para atender os 2.690 alunos matriculados, que
estudam pela manhã, à tarde e à noite. “No período vespertino, há aulas
ocorrendo próximo aos banheiros, e mesmo salas administrativas são usadas para
dar aula”, relata (leia Memória).
O
estudante de contrabaixo acústico Vinicius Corducci, 25 anos, costuma estudar
em um dos corredores. “Fica um forno ali. Já no jardim do bloco de cordas, vou
me movendo conforme a sombra. O clima muda bastante as condições de execução do
instrumento”, afirma. Os alunos de violão popular Emanuel Paiva, 18, e Paulo
Chaves, 24, também encontra meios alternativos para os estudos. “Às vezes, lota
de gente estudando no corredor principal, e sigo para debaixo de árvores. Mas
acontece de já ter gente nas árvores também”, conta Emanuel. Aluna de oboé,
Julia Ribeiro, 15, busca nos gramados um local de concentração. “O oboé faz
muito barulho, e tem gente estudando teoria. Vai ser bom ter um ambiente para
praticar sem ter de me preocupar em não atrapalhar outras pessoas”, disse.
Como
verbas suficientes para a reestruturação da EMB nunca foram repassadas, a
professora Denise enxerga nos postinhos uma grande vitória. “A dimensão deles é
de 24m², enquanto a maioria das nossas salas tem 9m². Eles têm uma camada de
isopor de 15cm que proporciona isolamento acústico e térmico. Com esses 20
postos, aumentaremos em 24% o número de salas de aula da escola”, comemora.
Os postos
comunitários de segurança começaram a ser inaugurados em 2008 e, hoje, menos da
metade das 131 unidades estão em funcionamento. Em junho de 2015, o comando da
PM anunciou o fechamento de 60 postos, com a justificativa de não haver efetivo
suficiente para colocar nas unidades restantes. A PM informou que está sendo
feita uma reavaliação dos postos restantes e que vão permanecer somente algumas
unidades, consideradas estratégicas para a corporação. “Todos os postos que
apresentem bom desempenho e atendam de forma satisfatória, constituindo-se em
ponto de referência policial para a comunidade, serão mantidos. Os demais,
serão substituídos por viaturas, o que garante maior agilidade por parte do
policial e rapidez no atendimento de ocorrências”, diz a nota.
Memória - Estrutura antiga
O complexo de prédios da Escola de Música de Brasília é o mesmo desde 1974, quando foi inaugurado no atual endereço, na 602 Sul. Nunca passou por reformas — os reparos foram sempre pontuais. Há um ano, o Correio apurou que dois projetos de arquitetos brasilienses, de 2009 e de 2014, para a reforma completa da escola, estavam engavetados. No estudo de 2009, o arquiteto Pedro Grilo constatou que apenas 7.186m² do lote pertencente à EMB estavam ocupados — o que representa 17,46% dos 41.176m² do terreno, menos da metade dos 40% permitidos pela Norma de Gabarito de Brasília. O projeto de Christiano Veloso Porto, finalizado em 2014, previa salas com revestimento acústico e em número apropriado para atender à demanda de estudantes.
O complexo de prédios da Escola de Música de Brasília é o mesmo desde 1974, quando foi inaugurado no atual endereço, na 602 Sul. Nunca passou por reformas — os reparos foram sempre pontuais. Há um ano, o Correio apurou que dois projetos de arquitetos brasilienses, de 2009 e de 2014, para a reforma completa da escola, estavam engavetados. No estudo de 2009, o arquiteto Pedro Grilo constatou que apenas 7.186m² do lote pertencente à EMB estavam ocupados — o que representa 17,46% dos 41.176m² do terreno, menos da metade dos 40% permitidos pela Norma de Gabarito de Brasília. O projeto de Christiano Veloso Porto, finalizado em 2014, previa salas com revestimento acústico e em número apropriado para atender à demanda de estudantes.
Anote: EMB Postos Musicais — Apresentação beneficente-Atrações: Sérgio
Morais, Paula Zimbres, Marlene Souza, Oswaldo Amorim e Paulo André Quarteto,
Mandragora e Camboatá - Quando: domingo (16), às 18h-Local: Teatro Levino
de Alcântara, na Escola de Música de Brasília (602 Sul)-Entrada: R$ 30 a
inteira; R$ 15 a meia. Os ingressos serão vendidos no dia e no local-
Fonte: Pedro Azevedo Silva - Especial para o Correio
Braziliense – Fotos: Carlos Vieira/CB/D.A.Press -