O projeto da sede da Fundathos tem a assinatura do arquiteto Lelé:
espaço para exposição permanente, auditório e salas para oficinas
Lei abre oportunidade para que a fundação
responsável pela preservação do trabalho do artista vença a burocracia para a construção
da sede. Calendário de 2017 aguarda contribuições
O último passo burocrático para o processo de
construção da sede da Fundação Athos Bulcão (Fundathos) está dado. Com a sanção
da Lei nº 5.730, publicada no Diário Oficial do Distrito Federal em 24 de
outubro, o governo de Brasília autorizou a transferência de bens públicos
imóveis para entidades privadas (leia O que diz a lei). Na prática, a nova
legislação tornou possível o sonho de quase uma década ao reverenciar o
multiartista Athos Bulcão, um dos nomes mais identificados com a arte e a
cultura brasilienses.
Em breve, o secretário
de Cultura, Guilherme Reis, convidará representantes da Fundathos para uma
primeira conversa. Nela, serão apresentados à entidade os detalhes da norma.
Inicialmente, a sede será erguida no Setor de Difusão Cultural, no Eixo
Monumental, em um terreno de 1,3 mil m² localizado próximo ao Centro de
Convenções. “O processo de cessão da área tem de ser precedido de avaliação e
licitação para entidades sem fins lucrativos ou registradas como bem imaterial.
É hora de aprofundar esse diálogo com a Fundação. Athos Bulcão merece
tratamento especial”, afirma Guilherme.
A secretária executiva
da Fundathos, Valéria Cabral, aguardava com apreensão a definição sobre o caso.
Desde 2008, quando a entidade sofreu a primeira ameaça de despejo do anexo da
Secretaria de Cultura, o acervo e a memória do artista são frequentemente
expostos à insegurança e ao desrespeito — só na capital federal há 261 obras
assinadas por ele. “Acho que (a nova lei) foi a solução encontrada para
resolver o impasse. Felizmente, há pessoas que entendem o valor de Athos Bulcão
para a cidade e para o mundo”, diz Valéria.
Oito anos depois de
obrigada a deixar o prédio que ficava atrás do Teatro Nacional, a Fundathos
perambula pela capital federal, mesmo tendo recebido a doação simbólica do
terreno do Eixo Monumental em 2009. Desde então, mudou-se para a comercial da
208 Norte e está há quase três anos na 404 Sul. Quem sofre há anos esse
calvário, como é o caso de Valéria, não vê a hora de começar a concretizar a
nova casa de Athos Bulcão, que conta com projeto de autoria do arquiteto João
Filgueiras Lima, o Lelé.
O edifício faz justa
homenagem a Bulcão, que morreu em 2008 aos 90 anos. Prevê museu para exposição
permanente do acervo criado pelo artista, galeria para mostras temporárias,
salas de oficinas artísticas e auditório com 180 lugares para apresentações de
música e teatro. O prédio ocupará 70% do lote, como prevê a legislação. O
restante abrigará jardins, em conjunto com um café e a administração. A área
verde integrada ao local contará, ainda, com painel executado com peças de
argamassa armada, proposto pelo próprio artista plástico para o Hospital Sarah
Kubitschek de Salvador.
Beneficiados
Além da Fundathos, a lei
beneficiará a Associação Recreativa Unidos do Cruzeiro (Aruc) e o Boi do Seu
Teodoro. A assinatura da lei pelo governador Rodrigo Rollemberg ocorreu há uma
semana, durante a comemoração do aniversário de 55 anos da Aruc, na Área Especial
nº 8 do Cruzeiro Velho.
Sentimento
João da Gama Filgueiras Lima
nasceu em 1932 no Rio de Janeiro. Morreu em 21 de maio de 2014, aos 82 anos,
vítima de câncer de próstata, em Salvador, numa das 10 unidades da Rede Sarah
por ele projetadas. Segundo especialistas, esses hospitais são o principal
legado de Lelé, que trabalhava com sistema pré-fabricado e, assim como Athos
Bulcão, aliava a arte à arquitetura. Lelé era conhecido no exterior como um
arquiteto atento para os sentimentos humanos.
O que diz a lei
A Lei nº 5.730 dispõe
sobre a cessão de uso de bens públicos imóveis do Distrito Federal e de suas
entidades da administração indireta. De acordo com a norma, o benefício deve
ser precedido de: avaliação do bem; justificativa de gratuidade, quando for o
caso; e licitação, ressalvados os casos de inexigibilidade (considera-se causa
de inexigibilidade de licitação a cessão de uso para entidade registrada como
bem cultural imaterial do Distrito Federal). É permitida a cessão de uso de
imóveis a entidades sem fins lucrativos que exerçam atividades de cunho
assistencial, religioso, cultural e recreativo, desde que o imóvel seja
utilizado, exclusivamente, para atender aos objetivos estatutários das
entidades; entidades registradas como bem cultural imaterial do Distrito
Federal; e entidades privadas que desenvolvam atividades lucrativas, desde que
haja interesse público, por meio de ato oneroso e por tempo determinado.
Os calendários ilustrados são publicados desde
1998: tradição brasiliense
Calendário
Pelo quarto ano consecutivo, o Calendário Ilustrado
Athos Bulcão será confeccionado por meio de campanha de financiamento coletivo.
Até 30 de novembro, colaborações a partir de R$ 20 ajudarão na produção e na
distribuição — basta acessar www.catarse.me/calendarioathosbulcao2017, escolher
o valor e contribuir (leia Participe).
Quem participar
receberá exemplares e recompensas que reproduzem obras do artista, como
marcadores de página, cartões-postais, livros, ecobags, baralhos, pingentes de
prata e molduras de azulejos, entre outros. Além disso, terá o nome impresso no
calendário, desde que doe até 8 de novembro.
No primeiro ano, a publicação teve tiragem de 2,5 mil exemplares. Em 2016,
saltou para 6 mil. A meta inicial para 2017 é de R$ 40 mil. Neste ano, o
calendário abordará obras de integração entre arte e arquitetura de Athos
Bulcão. A cada mês do próximo ano, haverá relevos, vitrais e divisórias
localizados em edifícios públicos de Brasília e de outras cidades do país. Um
dos trabalhos impressos será o do Tribunal de Contas do Piauí. Outro é a porta
em aço anodizado com vidros coloridos da Capela Nossa Senhora da Conceição, no
Palácio da Alvorada.
Janeiro, como é
tradição, trará releituras da obra de Bulcão produzidas em atividades de arte e
educação. Desta vez, foram escolhidos desenhos e colagens criados por
adolescentes que cumprem medida socioeducativa em unidades de internação do
Distrito Federal. As recompensas poderão ser enviadas pelos Correios para todas
as regiões do Brasil ou retiradas na Fundathos, a partir de dezembro. Empresas
também podem participar com uma cota especial e ter o seu logo impresso no
calendário.
Participe
Campanha Calendário
Ilustrado Athos Bulcão 2017 / Período: até 30 de
novembro / Data limite para o apoiador ter o nome
impresso no calendário: 8 de novembro / Contribuições a
partir de R$ 20 pela página https://www.catarse.me/calendarioathosbulcao2017 /
Informações:calendarioathosbulcao@gmail.com-e fundathos@fundathos.org.br
Fonte: Guilherme Goulart – Fotos: Arquivo/Fundação-Athos Bulcão –
Correio Braziliense