Um dos fatores da escolha do DF
para ser a capital se deu pela riqueza de mananciais na região (Águas
Emendadas). Porém, o crescimento populacional acima do esperado e a ocupação
irregular do solo levaram à situação limite em que vivemos. A avaliação vem
sendo feita pelo engenheiro e especialista em crise hídrica Demetrios
Christofidis, para quem a escassez e a carência no abastecimento de água
são realidade que precisa ser enfrentada não apenas com novas formas de
captação, mas, sobretudo, com o aumento da eficiência da rede, principalmente
por meio de ações que minimizem a perda e o desperdício em todo o sistema.
Assim como é certo que, ao fim de cada mês, chega a conta individual de
consumo de água à residência, a grande conta coletiva, resultante de anos e
anos de uma política irresponsável que levou políticos locais a negociar terras
públicas em troca de votos, chegou e os valores são altíssimos — praticamente
impagáveis. É precisamente nesse ponto que reside a grande diferença entre o
político oportunista, cujo horizonte se estende até as próximas eleições e o
estadista, que tem visão do futuro e sabe bem das consequências de seus atos.
Pior é que todas as causas diretas que levaram à preocupante situação de
escassez no abastecimento persistem inalteradas.
O quadro que se tem hoje no Distrito Federal, relativo à questão
do abastecimento de água, exige que a solução do problema de modo
satisfatório obedeça ao que diz tanto a Lei do Saneamento Básico (Lei nº
11.445/2007), bem como as diretrizes contidas na política nacional de
resíduos sólidos PNRS (Lei nº 12.305/10). Sem o prévio cumprimento
desses instrumentos legais, qualquer ação visando a solucionar o grave problema
no abastecimento de água de qualidade para os habitantes da capital do país
será inócua.
A medida que propugna pela captação de água do Lago Paranoá, que
para muitos equivale a beber da própria urina, corre o risco de se transformar
numa solução fácil, ou mesmo um grande engodo. Além do aumento contínuo na
oferta de água, com cada assentamento irregular que surge sendo prontamente
atendido com rede de abastecimento, o desperdício, que ronda 25%, precisa ser
prontamente contido. Aliás, essa questão precisa ser discutida e repensada. A
Caesb e a CEB são as primeiras a chegar aos loteamentos ilegais e irregulares,
o que parece uma incoerência com as leis. Certamente, se Caesb e CEB não
fizessem ligações em áreas invadidas, a grilagem não valeria a pena.
O assoreamento e a poluição de mananciais são problemas que
perduram e necessitam da ação firme dos órgãos de fiscalização para impedir o
comprometimento dos recursos naturais. Em 1969, a Caesb foi criada também
com a responsabilidade de proteger os mananciais, o que, convenhamos, não
cumpre. Há ainda quem proponha, corretamente, a transformação do Parque
recreativo da Água Mineral em estação exclusiva para a captação e abastecimento
de água. De toda forma, nenhuma solução será definitiva e correta se não forem
implementadas políticas que ponham fim à indústria criminosa de invasões, defendida
pela classe política com assento na Câmara Legislativa e por empresários
inescrupulosos de olho apenas no lucro fácil e rápido. Afinal, comprometer o
abastecimento de água significa inviabilizar a própria capital.
A frase que foi pronunciada:
“Nenhum indício melhor se pode ter a respeito de um homem do que a
companhia que frequenta: o que tem companheiros decentes e honestos adquire,
merecidamente, bom nome, porque é impossível que não tenha alguma semelhança
com eles.”
(Lições de Nicolau Maquiavel)
Por Circe Cunha – Coluna “Visto,
lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog -
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