Depois da afirmação do piloto, a
gravação é interrompida
A gravação de áudio do avião em que
voava o ministro Teori Zavascki (Supremo Tribunal Federal) indica, segundo
peritos da Aeronáutica, que não houve relato de problemas na aeronave antes da
queda em Paraty. Segundo a Folha apurou, os registros da cabine do avião King
Air teriam captado diálogos do piloto Osmar Rodrigues com outros pilotos que
voavam pela região. Em uma conversa, de acordo com informações obtidas pela
reportagem, o piloto diz que vai esperar a chuva diminuir antes de pousar.
Pouco depois, a gravação teria sido interrompida, segundo análises
preliminares.
Na avaliação de técnicos do Cenipa
(Centro de Investigação e Prevenção de Acidentes Aeronáuticos), o teor aponta,
em caráter preliminar, que o piloto pode ter perdido o controle da aeronave, levando-a
ao choque com a água. O áudio não explica exatamente o que ocorreu – a
investigação depende também de outros fatores para que a causa da queda seja
esclarecida.
A Aeronáutica confirmou na noite desta
segunda (23) que os técnicos conseguiram acessar material arquivado no gravador
de voz da cabine do avião que se acidentou na última quinta-feira (19), matando
o ministro do STF Teori Zavascki. O conteúdo da gravação não foi divulgado – a
Justiça Federal decretou sigilo sobre as investigações.
30 MINUTOS – O aparelho
sofreu danos pelo contato com a água do mar, mas eles não foram graves a ponto
de impedir o acesso aos dados. O equipamento grava os últimos 30 minutos de
conversa na cabine do avião. Segundo a Folha apurou, o registro de áudio
foi feito durante todo este período.
O aparelho, chamado de CVR, chegou a
Brasília na manhã do último sábado (21) e está sob os cuidados do Labdata
(Laboratório de Análise e Leitura de Dados de Gravadores de Voo), do Cenipa.
À tarde, a Aeronáutica havia informado
que os próximos passos do Labdata eram: “secagem do aparelho, verificação da
integridade dos dados, processo de degravação dos dados e processo de
transcrição”.
DUAS PARTES – Segundo a
Aeronáutica, o CVR possui “duas partes”. “A primeira é o gravador em si, que
armazena os dados. Essa parte é altamente protegida. A segunda é chamada
‘base’, que contém cabos e circuitos que fazem a ligação com o armazenamento de
dados. É essa segunda ‘parte’ que está molhada e precisa ser recuperada”,
informou a nota.
O aeroporto para o qual o avião se
dirigia, na cidade de Paraty (RJ), não dispõe de torre de controle. Se o
gravador estava acionado durante o voo, em tese registrou conversas na cabine e
contatos do piloto com a torre de controle do Campo de Marte, em São Paulo, de
onde o avião partiu. A análise das supostas conversas poderia dar pistas aos
investigadores sobre as causas do acidente.
A investigação do Cenipa é focada na
identificação de causas da queda e possíveis recomendações para redução de
riscos e não tem prazo para acabar.
INQUÉRITO – O inquérito
tocado pela Polícia Federal sobre a queda do avião inclui investigações em
Sorocaba (SP), onde se localiza o hangar principal utilizado pelo avião King
Air que se acidentou, Paraty (RJ) e no aeroporto do Campo de Marte, em São
Paulo, onde foi apreendido equipamento de vídeo com imagens captadas sobre a
chegada do ministro do STF no dia do acidente.
Os policiais, entre os quais um
ex-piloto de avião comercial, são lotados na direção geral da PF, em Brasília.
O grupo básico é formado por seis investigadores, alguns dos quais também
trabalharam no inquérito que apurou a queda do jatinho que, em 2014, matou o
então candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB).
AÇÃO CRIMINOSO – O objetivo do
inquérito sigiloso da PF é averiguar se alguma ação criminosa concorreu para a
queda do King Air. Além das investigações do Cenipa e da PF, a queda do King
Air é apurada pela Polícia Civil do Rio e pelo Ministério Público Federal.
A empresa fabricante do King Air, a
Textron Aviation Corporate, que controla a Beechcraft, confirmou à Folha, por
e-mail, que poderá auxiliar nas investigações no Brasil. “A Textron Aviation
trabalha em estreita colaboração com as autoridades governamentais responsáveis
pela investigação de acidentes e ofereceu assistência investigativa às
autoridades locais”, informou a companhia. Sobre detalhes do trabalho, a
empresa afirmou que não faz comentários sobre investigações em andamento.
Sediada em Rhode Island (EUA), a Textrom fabrica aviões Beechcraft e Cessna e
helicópteros Bell, entre outros aparelhos.
SEGUNDO ACIDENTE – O acidente
que matou Teori foi o segundo na região de Paraty envolvendo um King Air desde
o início de 2016. No dia 3 de janeiro do ano passado, um avião do mesmo modelo
pertencente à cadeia de supermercados Shibata também decolou do Campo de Marte,
a exemplo do caso do avião em que estava Teori, e se acidentou durante
procedimentos de descida no aeroporto de Paraty. As duas pessoas que estavam no
avião morreram. O Cenipa ainda não divulgou relatório
sobre as causas do acidente de 2016.
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NOTA
DA REDAÇÃO DO BLOG – Se a afirmação do piloto foi mesmo a última coisa a ser gravada,
isso significa que realmente chovia muito na hora do acidente e ele nem estaria
tentando fazer o pouso. Mas as teorias conspiratórias garantem que fazia tempo
bom em Paraty. (C.N.)
Leandro Colon e
Rubens Valente - Folha – Tribuna da Internet