O rápido processo de urbanização
foi uma das principais marcas da história do Brasil no século 20, especialmente
na segunda metade desse período. Para quem vive em Brasília, isso é mais claro
do que para qualquer outro brasileiro. Afinal, a cidade onde estamos nasceu e
se consolidou ao longo das últimas seis décadas.
Sair do mato para a metrópole que temos hoje é algo com poucos paralelos
no mundo. Mas não se pode esquecer que outras grandes cidades brasileiras
também passaram por mudanças radicais. Quem vê fotos de capitais brasileiras em
1960 muitas vezes não consegue reconhecer o cenário atual.
As cidades ganharam novas vias, prédios, metrôs, parques, arborização e
obras de arte. As mazelas também surgiram ou cresceram. Favelas se
multiplicaram. Na falta de saneamento básico, rios, lagos e praias foram
contaminados. O trânsito se tornou infernal. A violência, assustadora. E a
estética foi violentada, tanto pelo vandalismo quanto pela proteção com grades
e muros.
As pichações são um dos aspectos mais desagradáveis da cena urbana
atual. Esse problema é grande em Brasília, como percebe qualquer visitante já
ao sair do aeroporto e passar por obras viárias caras tomadas por rabiscos.
Ainda pior é o que se vê nas imediações da Rodoviária ou na W3 Sul.
Em São Paulo, maior cidade do país, o problema é ainda mais grave. Não é
à toa que o prefeito João Doria está em guerra declarada contra os pichadores,
seguindo compromisso de campanha. Equipes da prefeitura saíram pela cidade
passando tinta por cima dos rabiscos.
Quase todo mundo quer ver a cidade mais limpa. Mas a estratégia bélica
está longe de ser consensual. O que mais motiva os pichadores é exatamente o
risco e o desafio do confronto. Assim, é grande a chance de que eles aumentem
as ações em vez de diminuírem.
O outro problema está em eliminar grafites, uma das boas novidades
urbanas em contraste com o passado. O país tem artistas consagrados
mundialmente nesse tipo de linguagem artística. Em São Paulo, muitas obras de
arte foram apagadas no mês passado, sob o argumento de que já haviam sido
deturpadas por pichações. Melhor seria restaurá-las. Qualquer solução deve se
adequada aos tempos de hoje. O que os brasileiros querem são cidades mais
belas. Com arte. Sem vandalismo.
Paulo de Tarso Lyra – Correio
Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google