Político que é político em qualquer
oportunidade faz comício. De batizados a velório, onde tiver orelhas abertas,
ele despeja o latinório, diz o filósofo de Mondubim. Não foi diferente também
durante todo o processo que começou com a entrada da ex-primeira-dama, Marisa
Letícia, no Hospital Sírio-Libanês e culminou com seu velório na sede do
Sindicato dos Metalúrgicos do ABC.
Tão logo foi anunciada a enfermidade de D. Marisa, prontamente formou-se
na porta do hospital, uma providencial claque raivosa de militantes,
arregimentada com o objetivo de hostilizar qualquer um não alinhado e, de
quebra, usar um momento que deveria ser apenas de apoio reservado à família,
para ocupar espaço na mídia. A imprensa, obviamente, foi o primeiro alvo da ira
dos manifestantes. Não faltaram xingamentos e ameaças de todo tipo aos
profissionais que cobriam o evento.
Os políticos, em geral, que ousaram prestar solidariedade pessoalmente
no local só não foram agredidos graças ao reforço na segurança. Muitos,
inclusive, foram obrigados a entrar no hospital por portas laterais para
escapar da fúria dos agitadores profissionais. Tudo conforme sempre rezou o
manual de boas maneiras imposto aos filiados pelos donos do partido. Até aí
nada de mais.
Desde que chegaram ao poder, os dirigentes desse partido sempre fizeram
questão de abrir um fosso entre eles e a sociedade não adesista. O problema é
que com a decadência da legenda, provocada justamente pelas operações da
polícia, as quais acabaram levando à prisão muitas de suas lideranças, o
partido, que era um continente antagônico, se reduziu a uma ilhota, cercada de
descontentamento por todos os lados.
É nessa condição de encolhimento físico e moral que o próprio chefão do
partido não se fez de rogado e, diante da companheira e dos mortos-vivos que
acompanhavam o féretro, ousou culpar, pela morte da companheira, as
investigações da Operação Lava-Jato e congêneres. Ao usar o caixão da esposa
como palanque para pregar uma narrativa que sabe falsa, Lula encolhe moralmente
ainda mais.
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A frase que não foi pronunciada
“A independência dos Poderes na Constituição nem sempre é observada.
Talvez pertença ao espaço da utopia.”
(Ex- ministro Almir Pazzianotto)
Por Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e
ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google