Vera Magalhães
Estadão
A semana promete ser tomada pelo
“lançamento” da sexta candidatura de Luiz Inácio Lula da Silva à Presidência. O
pontapé inicial foi um manifesto “espontâneo” assinado pelos intelectuais de
cabeceira do petismo, e que dará origem a um site e um road show do
ex-presidente e réu na Lava Jato pelo País. O título do abaixo-assinado é “Por
que Lula?”. Está aí uma boa pergunta, mas a resposta está longe de ser o
misto de ingenuidade, desonestidade intelectual e manipulação contidos no
documento.
Por que Lula? Por que o Brasil precisa
dele ou por que ele precisa dessa candidatura como escudo para se defender das
acusações de que, no exercício da Presidência e depois de deixá-la, praticou
corrupção passiva, tráfico de influência, lavagem de dinheiro e outros crimes investigados
no petrolão?
O calendário do lançamento de Lula
coincide com a reta final de um dos processos nos quais o petista é réu, sob a
acusação de ter recebido propina de até R$ 3,7 milhões na forma de “mimos” da
OAS, que reformou um triplex no Guarujá que seria ofertado à sua família e
pagou pela guarda das “tranqueiras” que ele carregou quando deixou o Alvorada.
DIANTE DE MORO – Lula vai
depor em maio diante do juiz Sérgio Moro. Até lá, deve rodar o País entoando a
cantilena de que é vítima de perseguição política e de que os processos nada
mais são do que uma tentativa de tirá-lo da vida pública e impedir uma nova
candidatura.
Não será o contrário? Lula nunca
desejou de fato ser candidato novamente à Presidência. Não o fez quando teve a
faca e o queijo na mão: petistas como Rui Falcão e Marta Suplicy lançaram o
“volta Lula” em 2014, e ele não o levou adiante.
Não foi em respeito a Dilma Rousseff
que ele deixou de ser candidato. Lula desistiu porque não podia vislumbrar a
possibilidade – na época, ainda bastante remota – de não ser eleito nem a
perspectiva, esta bem concreta, de fazer um governo pior do que os anteriores.
QUEM ACREDITA? – Por que,
então, teria mudado de ideia agora que é réu em cinco ações penais, o PT foi
varrido do mapa nas eleições municipais, Dilma sofreu impeachment e a economia
está em frangalhos? Altruísmo? Senso de dever para com aqueles que o PT diz ter
incluído e que voltaram à miséria? Talvez Chico Buarque ou Leonardo Boff
acredite de fato nisso, embora seja espantoso.
A desigualdade social e o desemprego
galopam no País por obra e graça dos governos Lula e Dilma. Ele por não ter
aproveitado o vento favorável na economia mundial que vigorou até 2009 para
fazer as reformas que eram necessárias. Ela por se lançar na tal “nova matriz
econômica”, que nada mais era do que desculpa para abraçar a irresponsabilidade
fiscal como se não houvesse amanhã.
A Lava Jato nada mais é do que a
resposta da Justiça a um esquema de desvio de recursos públicos sem
precedentes, montado de forma deliberada e reiterada pelos governos do PT –
neste caso mais dele do que dela – para sustentar um projeto de poder que era
para durar ao menos 20 anos.
NÃO É PERSEGUIÇÃO – O fato de
Lula responder agora pelos crimes dos quais é acusado não é perseguição
política, mas consequência do amadurecimento democrático e institucional do
Brasil. Não à toa, os defensores do ex-presidente falam em “Justiça para todos
e para Lula”, sem esconder a pretensão a que o cacique petista seja beneficiado
por uma indulgência que não se destinaria a “todos”, só a ele.
É esse o desejo indisfarçado que
transborda do texto dos “intelectuais” lulistas. O por que Lula, aqui, parece
pressupor um complemento: por que Lula tem de responder como qualquer mortal
perante a Justiça?
Portanto, não é a
Lava Jato que quer impedir a candidatura do petista. É a candidatura que visa
interditar, no grito, as investigações contra ele. Por que Lula? Por que não
ele?
Tribuna da
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