Julio Cesar, ex-líder do governo na Câmara: apoio
em forma de romaria
Escutas ambientais instaladas no gabinete do
distrital Julio Cesar, pastor da Igreja Universal do Reino de Deus, mostram que
líderes evangélicos e amigos se reuniram para rezar após a deflagração da
Operação Drácon
Por Helena Mader - Ana Viriato,
As denúncias contra o distrital Julio
Cesar (PRB), acusado de envolvimento no escândalo investigado pela Operação
Drácon, motivaram uma romaria na Câmara Legislativa. Escutas ambientais revelam
a presença de pastores, servidores e amigos do deputado fazendo orações, rezas
e cultos no gabinete do ex-líder do governo na Casa — ele é pastor da Igreja
Universal do Reino de Deus. Segundo a denúncia do Ministério Público do DF e
Territórios (MPDFT), Julio Cesar teria participado de um suposto esquema de
cobrança de propina em troca da elaboração de uma emenda para o pagamento de
empresas de UTIs. O Correio teve acesso à íntegra dos áudios captados com autorização
da Justiça, nos 10 dias seguintes à Operação Drácon.
Os aliados do distrital do PRB atribuem
“ao diabo” as denúncias do MPDFT. No primeiro dia de expediente após a
operação, uma voz feminina faz uma oração no gabinete de Julio Cesar, pedindo
que “todo espírito do mal seja repreendido”. “Eu não aceito, meu pai, eu não
aceito, senhor Jesus, passar por essa vergonha, como se nós fossemos bandidos.
Somos filhos do Senhor e merecemos, meu pai, como filhos de Deus, viver bem”,
alega a mulher.
Em outra gravação, também aparece uma
voz feminina clamando para que Deus enviasse “anjos batedores para repreender
todas as ciladas e armadilhas do diabo”. A mulher fala sobre a necessidade de
“lavar” a imagem do acusado “neste momento de rejeição”. “Amarra a boca do
leão, meu pai, não permita que o diabo venha falar aquilo que é desnecessário.
Faça com que o nome do seu servo, o nome da sua instituição, nossos nomes
venham a ser lavados nesse momento de rejeição, meu pai”. A pessoa flagrada nas
escutas pede que Deus “visite o deputado” para garantir “sabedoria, discernimento
e entendimento sobre todas as armadilhas do diabo”.
Em uma das preces, um homem “coloca nas
mãos de Deus” o futuro das investigações e pede apoio aos denunciados. “Meu
Pai, em nome do senhor Jesus, o nome é Drácon, ou Drágon, não me lembro. O
dragão era a antiga serpente. Então, que esse dragão seja amarrado e
acorrentado, meu Deus. Dê forças ao nosso deputado e aos outros que, de uma
forma injusta, podem estar sendo acusados”, proclamou.
Dias depois, em outra súplica, uma moça
ora pelo destino de ofícios protocolados na Câmara Legislativa —possivelmente,
pedidos de cassação de parlamentares acusados. “Que esse documento entregue
aqui, hoje, na Câmara, venha a perder o valor, meu senhor Jesus. Que o Senhor
venha colocar anjos para atrapalhar todos os planos do diabo, que tenta nos
derrubar”, brada a mulher.
Em outra conversa, dois funcionários
ressaltam a importância da união entre os servidores lotados no local. “A briga
dele é a nossa briga. O demônio usou essa mulher, que envolve o nome do
deputado. Entendeu?”, diz. Uma moça responde prontamente: “Você está
certíssimo”. Não há citação de nomes nos áudios, porém, Liliane Roriz (PTB) é a
responsável pela denúncia que levou à deflagração da operação.
Nos dias subsequentes à Drácon, um
homem entra, à tarde, no gabinete do parlamentar para fazer uma roda de
orações, faz menções à situação política de Julio Cesar e pede bençãos para o
partido do parlamentar, o PRB. “Estamos passando por um momento de turbulência
nesta Casa, mas tenho certeza de que o Senhor está à frente de tudo”, comentou
o interlocutor.
Em nota, a assessoria de Comunicação do
parlamentar ressaltou o fato de Julio Cesar ser pastor evangélico e alegou que,
por isso, a equipe realiza orações no gabinete. Acrescentou que os advogados
não se manifestariam sobre o caso, pois “não tiveram acesso total ao conteúdo
do processo e não podem comentar falas de terceiros”.
Por Helena Mader – Ana Viriato – Especial Para o Correio Braziliense –
Foto: Minervino Junior/CB/D.A.Press