O legado da Copa
*Por Severino Francisco
Eu acho que os deuses jogaram os seus dados para desmascarar a roubalheira. Segundo o craque Tostão no livro Tempos vividos, sonhados e perdidos, os 7x1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo de 2014 podem ter sido castigo divino pela corrupção. Eu acredito. A Operação Lava-Jato revelou que houve bandalheira na maioria dos projetos de construção dos estádios da Copa, mas o de Brasília é o mais absurdo.
Eu acho que os deuses jogaram os seus dados para desmascarar a roubalheira. Segundo o craque Tostão no livro Tempos vividos, sonhados e perdidos, os 7x1 da Alemanha contra o Brasil na Copa do Mundo de 2014 podem ter sido castigo divino pela corrupção. Eu acredito. A Operação Lava-Jato revelou que houve bandalheira na maioria dos projetos de construção dos estádios da Copa, mas o de Brasília é o mais absurdo.
O caso do estádio Mané Garrincha excedeu a imaginação mais fantasiosa. Qualquer cidadão com um mínimo de sanidade mental sabe que Brasília não tem futebol profissional para justificar obra monumental e bilionária. O que a cidade tem é a tradição das peladas nos campos de barro da periferia; no Gama, no Cruzeiro, no Guará, em Ceilândia, em Samambaia ou no Paranoá. Sempre tem alguém correndo atrás de bola.
Mas futebol profissional não existe por estas paragens. Não houve jamais qualquer estudo sobre as possibilidades de retorno que justificasse investimento tão astronômico. Projetada, inicialmente, para custar R$ 600 milhões, a obra foi superfaturada até chegar ao valor de R$ 1,5 bilhão. É o estádio mais caro da Copa.
Desde o início, desenhava-se o projeto de roubalheira. A Fifa só havia exigido 10 estádios; os mandatários brasileiros se animaram e ergueram 12 arenas, boa parte delas condenadas a serem elefantes brancos na paisagem. Até o Maracanã, templo do futebol mundial, viu-se reduzido à condição de bomba que ninguém quer segurar.
No entanto, o caso mais escandaloso é o de Brasília. Segundo informação dos delatores, a própria licitação teria sido orientada pelo interesse das empreiteiras. O MP investiga o rombo de 1,3 bilhão no balanço patrimonial da Terracap para cobrir as despesas do Estádio Mané Garrincha, durante o governo Agnelo Queiroz, entre 2010 e 2014. A arena consome R$ 600 mil por mês somente em manutenção, é um buraco sem fundo. Além disso, o investimento no BRT é outra falácia, não funciona.
Tudo isso enquanto os hospitais, as escolas e os espaços culturais caem aos pedaços e vivem um estado de calamidade pública. A classe política mergulhou em um surto coletivo e se entregou ao delírio da roubalheira: “Mas se todos fazem...”, justificam. E parece que ainda não acordaram. Embolsaram milhões em propinas e não sabem de nada.
Esse é o legado da Copa. O Estádio Nacional Mané Garrincha é o monumento da irresponsabilidade política. É imperioso que os responsáveis por essa bandalheira respondam pelos seus atos perante a Justiça. Sim, o Tostão tem razão, os 7x1 contra a Alemanha devem ter sido castigo pela corrupção.
(*) Severino Francisco – Jornalista, Colunista do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google