Investigados na
Operação Panatenaico estão na Superintendência da PF
Os ex-governadores Arruda e Agnelo,
além do ex-vice-governador Filippelli, ocupam celas de 6 metros quadrados na
carceragem da Superintendência da PF e não têm direito a banho de sol.
Advogados tentam revogar as prisões
*Por Isa Stacciarini -
Paula Pires
Os ex-governadores José Roberto Arruda
(PR) e Agnelo Queiroz (PT), além do ex-vice governador Tadeu Filippelli (PMDB),
convivem há mais de 24 horas com restrições impostas pela carceragem da
Superintendência da Polícia Federal, em Brasília. Em celas de 6 metros
quadrados, cada detento divide o espaço com mais duas pessoas. Respeitar as
regras estabelecidas é uma premissa básica na vida atrás das grades (veja Na
cadeia). Todos dormem em beliches de concreto com colchão. Apenas Arruda
recebeu lençóis da família.
Ontem, os investigados na Operação
Panatenaico receberam a visita dos advogados e de alguns familiares. A
assessoria da Polícia Federal informou que, “por respeito à intimidade daqueles
sob sua custódia, não divulga detalhes da rotina dos encarcerados.” O Correio
apurou que, nas celas, não há televisão ou qualquer aparelho eletroeletrônico.
Caso os detentos precisem usar banheiro, têm de pedir ao plantonista para serem
levados ao sanitário, que fica do lado de fora. Para tomar banho, só com água fria.
Tampouco há banho de sol. No dia a dia da carceragem da Superintendência da PF,
os presos têm direito a café da manhã, almoço e jantar. Não há sobremesa.
Estratégia
O advogado de Filippelli entrou com
pedido de liberdade provisória do cliente na 10ª Vara Federal. Segundo o
defensor do peemedebista, Alexandre Queiroz, o magistrado Vallisney de Souza
Oliveira quer ouvir o Ministério Público Federal e a PF antes de decidir sobre
a revogação da prisão. “Acredito que essa decisão só deve sair na sexta-feira.
Aí, praticamente se completam os cinco dias (da prisão temporária), mas hoje
(ontem) não dá mais (para o juiz decidir). Avaliamos a prisão desnecessária,
uma vez que todas as diligências requeridas pela polícia foram realizadas. Não
é porque simplesmente um acusa o outro que a pessoa tem de ser presa”, alegou.
Filippelli foi exonerado ontem do cargo de assessor especial do presidente
Michel Temer.
O advogado de Arruda, Paulo Emílio
Catta Preta, entrou com pedido de revogação de prisão temporária do ex-governador
no fim da tarde de ontem. “Vamos comprovar que o meu cliente não tem qualquer
participação em irregularidades na construção do estádio”, afirmou. Ele
acrescentou que, “uma vez encerradas as investigações, não haverá mais sentido
de Arruda aguardar até os cinco dias de prisão temporária”.
O defensor de Agnelo, Paulo Guimarães,
não quis adiantar a estratégia para interceder em favor do ex-governador.
Limitou-se a dizer que “a defesa do ex-governador será feita no momento certo.”
No momento da prisão, na terça-feira, Agnelo ficou abalado e chegou a passar
mal. Ele deixou a casa onde mora, no Setor de Mansões Dom Bosco, depois de ser
atendido por um médico; por isso, foi o último dos 10 investigados a chegar à
PF.
André Carlos da Silva, advogado de Nilton Martorelli, ex-presidente da
Novacap, também entrou com pedido de revogação da prisão do cliente no início
da tarde. “O juiz quer ouvir o Ministério Público e a Polícia Civil para emitir
a decisão final”, explicou. Ele ainda informou que trabalha no sentido de
“conhecer o teor das delações para que possa definir qual será a tática de
defesa”, concluiu.
Após eleger um governador, deputado federal, distrital ou qualquer outro cargo público, o cidadão precisa acompanhar os atos desses políticos e garantir que eles não esqueçam as promessas de campanha e saibam o que estão propondo e votando. Confira algumas das ferramentas que o brasileiro tem para fiscalizar esses gestores e parlamentares, flagrar casos de corrupção e denunciar desvios, abusos e outros crimes:
Após eleger um governador, deputado federal, distrital ou qualquer outro cargo público, o cidadão precisa acompanhar os atos desses políticos e garantir que eles não esqueçam as promessas de campanha e saibam o que estão propondo e votando. Confira algumas das ferramentas que o brasileiro tem para fiscalizar esses gestores e parlamentares, flagrar casos de corrupção e denunciar desvios, abusos e outros crimes:
FISCALIZAÇÃO - Lei de Acesso à
Informação (LAI) » A Lei 12.527 entrou em vigor em 16 de maio
de 2012 e obriga órgãos e entidades públicas do Legislativo, Executivo e
Judiciário de todas as esferas a prestar informações produzidas para qualquer
um que solicitá-las.
»Essas instituições devem informar detalhadamente todo o tipo de
informação que produz, como gastos e investimentos, quantidade de funcionários,
serviços oferecidos ou desativação de setores.
»Qualquer município com mais de 10 mil
habitantes precisa disponibilizar os dados públicos via internet, com
atualização constante.
»Os salários pagos aos servidores estão
entre os dados produzidos que devem ser informados. Um deputado federal, por
exemplo, tem que especificar todos os gastos e apresentar notas fiscais para
receber a verba indenizatória. Em posse desses dados, um eleitor pode comparar
o preço de um determinado produto comprado pelo parlamentar e quanto ele
gastou, ou se a empresa que prestou um determinado serviço existe, e se o valor
cobrado está dentro do previsto
para o mercado.
»A determinação é que os órgãos
solicitados respondam ao cidadão ou entidade imediatamente, de forma gratuita e
sem necessidade de justificar o pedido.
»Se não for possível uma resposta
imediata, o ente público tem um prazo de 20 dias.
»Algumas informações, porém, podem ser
negadas, desde que sejam consideradas secretas, ultrassecretas ou reservadas.
São dados que poderiam oferecer risco à defesa, soberania e integridade do
território nacional, ou a vida, segurança ou saúde da população.
DENÚNCIAS - Organizações não
governamentais e observatórios sociais - Há diversas ONGs e
organizações da sociedade civil de interesse público (Oscip) que educam,
recebem e direcionam denúncias feitas pela população.
»A Contas Abertas, por exemplo, atende
denúncias e pedidos de orientações para criar grupos sociais de fiscalização.
Eles recebem, principalmente, denúncias das esferas federais, mas também dão
encaminhamento a reclamações locais. O contato da organização é o 3347-0058 e o
ca@contasabertas.org.br. A ONG Adote um Distrital faz um trabalho semelhante,
mas voltado para o Distrito Federal. Os contatos são o 3224-4368.
Ouvidorias
»As ouvidorias de entidades públicas
existem para receber sugestões, elogios e reclamações, mas, principalmente,
para registrar denúncias de abuso de autoridade, desvios de função, atos de
corrupção, assédios e improbidade administrativa. Tanto usuários quanto
funcionários do órgão podem fazer uso do dispositivo. A ferramenta deve ajudar
o denunciante, ainda, a fiscalizar e nortear a administração pública. É
possível ter acesso aos contatos e endereços de ouvidorias nos sites de todos
os órgãos dos executivos e legislativos locais e federais.
»No GDF, as ouvidorias atendem pelo
número 162. A Ouvidoria do Ministério Público do Distrito Federal e Territórios
atende às solicitações relacionadas à entidade, mas também registra denúncias
contra gestores públicos e parlamentares, por exemplo, além de orientar o
denunciante para promotorias específicas, se for o caso.
»Na Câmara Legislativa, o reclamante
pode procurar a ouvidoria pelo e-mail ouvidoria@cl.df.gov.br, pelo telefone
3348-8283, ou pessoalmente no 2º andar do prédio da Câmara, no Eixo Monumental,
em frente ao Memorial JK. O cidadão também pode fazer denúncias direto na
Comissão de Ética ou na presidência do órgão.
»De acordo com o artigo 21-A do
regimento da Câmara dos Deputados, compete à ouvidoria da Casa, dentre outras
coisas, “encaminhar ao Tribunal de Contas da União, à Polícia Federal, ao
Ministério Público, ou a outro órgão competente as denúncias recebidas que
necessitem maiores esclarecimentos”. O telefone é 0800-619619 e, pela internet,
o acesso é feito pelo endereço eletrônico
www2.camara.gov.br/participe/fale-conosco/ouvidoria. A ouvidoria do Senado, por
sua vez, atende pelo www12.senado.leg.br/institucional/ouvidoria.
Precauções para fiscalizar e denunciar
»Existem algumas atitudes que podem
ajudar o denunciante. Caso ele procure uma ouvidoria, por exemplo, se tiver
medo de retaliação de um chefe ou de uma autoridade, o cidadão pode solicitar o
sigilo de dados, para se resguardar e, ainda assim, manter contato com o órgão,
saber o andamento da denúncia e prestar novas informações, caso seja
necessário.
(*) Isa Stacciarini - *Paula Pires
- Especial para o Correio Braziliense – Fotos:Montagem/O Globo – Minervino
Junior/CB/D.A.Press