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Anápolis compra a República


*Por Circe Cunha 

Como galhos de uma frondosa árvore que vão se ramificando rumo ao céu, diversos subenredos, surgidos com as operações da Polícia Federal e do Ministério Público no combate às quadrilhas compostas por políticos e empresários, vão se formando ao longo dessa trama, compondo o que parecem ser novas histórias repletas de suspense de igual teor. Entre os enredos paralelos que surgiram rápido e naturalmente e que parecem chamar mais atenção do que a trama central estão as delações da empresa JBS dos irmãos Batista.

Depois das confissões dos 77 executivos da Oderbrecht, que todos acreditavam ser a verdadeira delação do fim do mundo, eis que vem à tona o mea-culpa dos donos da maior indústria de carnes do planeta. Essa, até agora, pelo menos é tida como a mais espetacular das confissões e cujas repercussões poderão pôr abaixo definitivamente o edifício já condenado de nossa República.

Caso seja transformada, algum dia, em roteiro de filme, a saga dos dois irmãos Batista, vindos do interior de Goiás, poderia repetir, por outra vertente, a história de sucesso de Dois Filhos de Francisco, baseado na vida da dupla sertaneja Zezé Di Camargo e Luciano. No caso dos Batista, a história de sucesso parece se repetir, só que com um viés totalmente novo.

Chega a ser surpreendente como pessoas de pouca instrução escolar, donas de um simples açougue em Anápolis, que parecem, em algum momento, ter experimentado o lado duro da vida, tenham vindo para a capital e aqui encontrado terreno fértil para montar, em curto espaço de tempo, o que é hoje a maior empresa processadora de carnes do mundo.

Nesse caso, o terreno propício que lhes permitiu encontrar rapidamente o atalho rumo à riqueza fabulosa foi achado junto aos governos Lula e Dilma, que, por motivos para lá de pragmáticos, escancararam-lhes as portas do maior banco de fomento da América Latina, o BNDES. Com o apoio flagrante desse Banco, segundo notícias veiculadas na imprensa, o faturamento da dupla Joesley e Wesley saltou de R$ 4 bilhões, em 2006, para R$ 170 bilhões em 2016.

Campeões nacionais absolutos em aporte de recursos públicos a particulares, a JBS obviamente pagou com uma mão a ajuda preciosa que recolheu com a outra, passando a financiar milhares de políticos por este país afora. Somente em 2014, doou mais de R$ 300 milhões para campanhas eleitorais, tornando-se, isoladamente, a maior financiadora de políticos. Desse ponto, até vir  a ser o centro das atenções das autoridades judiciais, foi um pulo.

Apanhados de calças curtas, cuidaram de negociar, secretamente, um acordo de delação suspeito, em troca da liberdade total. Quando essas confissões vieram a público, os irmãos estavam longe, fora do alcance da lei. Nessa história nebulosa, o que mais chama a atenção é como dois caipiras puderam comprar, de porteira fechada, toda uma República. Vai ver que é porque nossa velha república não valia grande coisa. Arrematados por uma pechincha e de baciada, nossos políticos comportam-se agora como cupins no qual foram inoculados pesticidas muito potentes: cada um fugindo como pode.

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A frase que foi pronunciada
Não roubar, não deixar roubar, pôr na cadeia quem roube, eis o primeiro mandamento da moral pública.” 
(Deputado. Ulysses Guimarães, sempre vivo!) 

Só números
Pesquisa na Internet contabilizou o acesso no Twitter por assunto. As menções feitas durante o impeachment da presidente Dilma provocaram aproximadamente 100 mil mensagens pelo microblog. Empatou com o assunto Aécio Neves. Já o presidente Temer despertou a manifestação de 300 mil internautas.


(*) Por Circe Cunha – Coluna “Visto, lido e ouvido” – Ari Cunha – Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog Google

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