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Esplanada em chamas

Esplanada em chamas

*Por Severino Francisco 

Ontem, pela manhã, tive dificuldade em chegar ao trabalho. Saí de um condomínio do Jardim Botânico e parei em um ponto de táxi. O motorista teve de driblar vários congestionamentos. Em um deles, nos deparamos com uma aglomeração de ônibus dos manifestantes contra as reformas e pela saída de Temer. Eles estavam animados, mas jamais imaginei que os protestos descambariam para uma violência que transformaria a Esplanada em uma praça de guerra.

De repente, alguns manifestantes atearam fogo no Ministério da Agricultura  e outros prédios foram depredados. A violência é sempre recriminável. A polícia também se excedeu. Um policial militar sacou o revólver e atirou contra um manifestante. Já vi esse filme na passagem dos anos 1970, com as ilusões armadas da guerrilha de esquerda contra o regime militar. No fim das contas, as ações truculentas alimentam reações autoritárias e conspiram contra a democracia.

E foi o que aconteceu. O presidente Michel Temer decretou uma ação de Garantia de Lei e da Ordem em Brasília e colocou as Forças Armadas na rua. Manifestar-se é um direito democrático, assegurado pela Constituição a todos os cidadãos. Esconder a cara em um ato público é uma atitude reveladora da má-fé de quem pratica uma ação, mas não quer assumir a responsabilidade pelos seus atos. Como cobrar decência e transparência da classe política com a cara coberta por um pano?

Brasília é patrimônio cultural da humanidade.  Não pode ser alvo de vandalismo de quem quer que seja. Além disso, os mascarados destruíram quase todas as paradas de ônibus na Esplanada. Ora, os parlamentares não são usuários do transporte público. A nossa classe política trafega em carrões com cascata artificial e filhote de jacaré. Em Brasília, quem usa ônibus são os trabalhadores das classes populares.

A violência e o vandalismo são  abomináveis; existem outras maneiras mais criativas e mais eficazes de se manifestar. No entanto, é impossível não perceber que a truculência dos manifestantes é expressão de uma ausência de diálogo da parte dos representantes do mandato popular.

Eles têm assumido uma postura de sistemática arrogância e surdez em relação às reivindicações dos eleitores nas reformas em curso no Congresso Nacional. O parlamento é incapaz de ouvir e de atender demandas populares. Recebeu um projeto de 10 medidas contra a corrupção com mais de 2 milhões de assinaturas e o reduziu a um frankstein, em um gesto de escárnio à nação.

Suas excelências se fecharam em um bunker parlamentar com a ilusão megalômana de que nada os atingirá. De isolamento em isolamento, as cercas que protegem o Congresso avançam cada vez mais e, em breve, se verão presos no Congresso Nacional, atrás das grades que eles próprios criaram. O mais fantástico é que, enquanto o mundo explode, com Brasília literalmente em chamas, suas excelências insistam em refugiar-se na bolha parlamentar e em simular que tudo permanece na mais absoluta normalidade.


(*) Por Severino Francisco – Jornalista, Colunista do Correio Braziliense – Foto/Ilustração: Blog - Google

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